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por Vieira do Mar, em 02.11.07
Reparo agora que a maior parte dos meus amigos estão definitivamente separados ou em vias de o serem, e dou por mim a pensar na vexata quaestio que é o adultério. Porque é que as pessoas se traem? Existirão motivos vários, claro, mas, olhando para as minhas amigas, as ainda casadas e as já separadas, concluo que quem trai de forma mais empenhada e convicta, fá-lo quase sempre por vingança. Vingança por uma traição anterior, pela falta de atenção do outro ou, pura e simplesmente, vingança por uma vida de merda em geral. Os restantes adúlteros, os que um dia sentiram um genuíno entusiasmo por uma terceira pessoa, são, invariavelmente, uns atrofiados. Não tanto por causa da culpa – esse sentimento difuso a que chamam outros nomes para facilitar -, mas mais pela falta de jeito a que esta conduz. Enganar com competência alguém de quem (ainda e também) se gosta, não é para todos. Uns e outras comportam-se como verdadeiros totós, desatando a chorar no acto, por exemplo, ou ficando impotentes ou frígidas, numa estranha denegação erótica. Em suma, congelam em vez de arderem, como seria suposto. Além de que, depois, têm uma imensa dificuldade em não estampar a traição na cara e em não se denunciarem em cada palavra, em cada gesto. Quase todos acabam por concluir que não valeu a pena, tanta trabalheira (e que é, não raro, acompanhada de idêntico sofrimento). É um facto: as pessoas decentes dão péssimos adúlteros. Aliás, quanto mais decentes, boas e íntegras são, mais desastrosa é a experiência.