Aos...
Aos que namoram e acabam todos os dias e à vez, presos nos desmandos conciliatórios da juventude; aos miúdos que limpam o ranho com o bibe enquanto espreitam a miúda loura que dá uma cambalhota no recreio; aos que têm medo de se aproximar delas, às que têm medo de se aproximar deles; aos que se uniram pela primeira vez, num amplexo furtivo e desajeitado; aos que precisam de respirar o mesmo ar senão morrem; aos que já se uniram tantas vezes que sabem descrever o outro no escuro; aos que estão apartados, e usam o twitter, o face e os chats e que com as palavras se juntam; aos que se chateiam e partem pratos, e gritam e choram e depois se lambem as lágrimas; aos casais presos por um fio; às almas gêmeas separadas pelos atritos do dia; aos que se oferecem peluches foleiros e aos que os recebem como se diamantes; aos casais roliços que passeiam de mão dada no shopping com fatos de treino a condizer; aos velhotes rezinguentos, que se amam negando sempre a razão ao outro, em intermináveis arrazoados, que só eles entendem; aos que se dão um beijo cansado à noite e no entanto adormecem entrelaçados; aos casais com filhos pequenos, que hoje jantam em casa mas não se importam, porque o mundo que aí vem é todo deles e da sua descendência; às putas que amam os seus chulos, aos chulos que hoje lhes levam flores; às glorinhas à janela que beijam sentidas o seu príncipe imaginário; aos que acham que casaram para sempre, aos que casaram mesmo para sempre; às mulheres que levam aos maridos as amigas para a fantasia a três; aos maridos que não vão tão longe e se ficam pela lingerie comestível; aos viúvos que dormem abraçados ao cheiro de quem se lhes morreu; aos casais entediados que acordam a meio da noite quando o outro tosse ou espirra; aos velhos que não contrariam as mulheres quando estas confundem a filha que os veio visitar com a empregada da casa; às mulheres que mudam as algálias aos maridos e lhes dão a comida à boca e não lhes largam a mão enquanto eles fazem diálise; aos homens que não viram costas quando as mulheres lhes moem o juízo com aquilo que não entendem; aos que por acaso ainda não se cruzaram;
às caras-metades que (ainda) não sabem que o são...
Um Feliz Dia.