hell´s kitchen à portuguesa
Não percebo tanto drama à volta dos portugueses maçons. A política portuguesa é uma cadinho de influências e de trocas de favorzinhos, seja coisa de centenas ou de milhões. É do povo, mesmo: somos a malta do desenrasca aí, dá uma mãozinha acolá, coloca o meu irmão além, toma dinheiro aqui. Um país nepotista onde amigalhaços nomeiam e promovem família e outros amigalhaços e se cultiva a mediocridade. Com ou sem avental.
Não há negociata imoral feita por um gupo de tipos que fizeram meia dúzia de juramentos através de uns rituais tontos, que não possa ser feita por um grupo de gente com interesses comuns, num jogo de golfe ou numa jantarada regada a copos. O facto de usarem aqueles aventais e de cultivarem o "secretismo" só os torna mais patéticos (embora no caso do Fernando Nobre isso seja impossível, dado que já rebentou a escala do "patético" há muito tempo").
Não entendo o choque de ter vindo à luz que os gajos no poder e os que já lá estiverem são da maçonaria. Têm que ser "amigos" de alguém, senão, não estavam no poder, certo? Têm de ter prometido favores, feito favores, obtido favores, para chegarem onde chegaram. Qual a novidade? Porquê levar os maçons mais a sério de que um qualquer outro grupelho de influência e obrigá-los a actos públicos de contrição e de confissão? Em que medida é que a democracia portuguesa se torna assim mais "transparente"? Hello?
Porque, das duas umas: ou este reboliço resulta de hipocrisia ou de ingenuidade. Os grupos de influência estão por todo o lado e reúnem-se nas casas uns dos outros, nos privados dos restaurantes, nos gabinetes das grandes multinacionais, depois de todos desligarem os telemóveis e de lhes removerem as baterias.
É pela dimensão da coisa, pelas ramificações "internacionais das "Lojas"? Deviam querer um néon à porta: Loja do Oriente: compra-se e vende-se favores, fazemos entregas no mundo inteiro. Então e a malta da política em geral, não tem amigos no estrangeiro? Conhecem-se todos nas cimeiras, nos congressos, planeiam esqueminhas e negociatas nos corredores ou às portas fechadas. o PR nunca viaja sem uma "comitiva" de empresários portugueses, que não vão de certeza para ver a paisagem. E porque é que vão uns e não outros?
Pretender "clarificar" o papel da maçonaria na "sociedade portuguesa" e identificar todos os políticos que a ela pertencem, como se os marcassem com o ferro do tráfico de influências, é tão absurdo como pretender "clarificar" as "decisões" dos nossos governantes - passados e presentes - se descobrirmos quantas vezes e com quem se juntaram no restaurante "Os Arcos", e quantos quilos de gambas e lagosta comeram (porque quem pagou já se sabe quem foi).