mãe-mexilhão
por Vieira do Mar, em 14.11.05
Tudo, na vida de uma pré adolescente, é de extremos; a hormona choca daqui, abana dali e quem se lixa é o mexilhão, neste caso, a mãe (que o pai pode ser um serial killer, mas é sempre maravilhoso e adorável). E é ao mexilhão que cabe manter o difícil equilíbrio entre a euforia histérica pela compra de uns jeans e a depressão profunda porque, dias depois, ela não se consegue enfiar nos mesmos, nem deitada em cima da cama em pose de peixe-balão.
E depois existe a questão dos gostos, que não há meio de se entrelaçarem (sim, eu sei, vai ser um corropio nos comentários de relacionamentos perfeitos mãe-filha, mas, olhem, não é o caso, azar). É que não há intersecção, ponto final, parágrafo. Dizem-me que é normal e que a generation gap em versão saudável é assim mesmo: elas a acharem giro o Zé Milho (aquele rapaz dos D´zert que me leva a semicerrar os olhos a cada vez que lhe entro no quarto e apanho com o dito em cheio na retina), e o George Clonney, um cota "medonho". Mas lá que irrita, irrita.
No outro dia, a grande fresta geracional tornou-se por demais evidente. O governo civil cá de casa autorizou uma pajama party (assim mesmo) de miúdas (faixa etária 12/13), com ordem de acampamento na sala e liberdade no Blockbuster. Às sete da tarde já estava tudo de pijama, a enfardar pipocas e batatas de pacote, assim contribuindo para o avanço inexorável do acne adolescente e do pneu, numa guincharia desalmada. O resto da família ficou confinado à zona dos quartos e qualquer aproximação a menos de cinco metros da porta, por parte de um dos irmãos mais novos, era recebida com manifestações histriónicas de repulsa tipo padre-de-cruz-em-riste-a-exorcizar-demónios.
O mais interessante? A escolha dos filmes. Sim, porque isto de eu ser mãe liberal é só fachada, na realidade, sou uma matrona castradora. Segue-se a inquirição. Então, que filmes alugaram? Ora, uns de terror...(resposta meio sumida). Sim, mas quais? O The Ring 2. Viram o um? Aquilo mete um medo desgraçado... Vimos. E não ficaram impressionadas, não morreram de medo, não tiveram pesadelos? Ai mãe, és mesmo dah!, como se aquilo metesse medo... Bom, ok, eu já vi o dois e aquilo é banhada, se aguentaram o um, podem ver o dois.
É claro que não viram, nem o dois nem o três. Cinco minutos depois da Samara (uma miúda molhada que sai dos televisores...brrrrrr) se ter mostrado no ecrã e de terem ecoado pelo prédio alguns gritos insanos, abafados por cobertores, e depois de todos os bonecos de peluche terem aterrado na sala à laia de consolo, lá passaram ao filme seguinte. E qual era o filme seguinte, perguntam-me vocês? Qual? Pois com tanta filme para adolescente no mercado (99,9%, praticamente), as miúdas escolhem-me o ...Kiss Me.
O Kiss Me! Eu nem estava bem a ver o que era aquilo, pensei que fosse uma história de amor para teenagers; afinal, era um filme português com a Marisa Cruz pré-Pinto, o inefável Nicolau Breyner e mais uma dúzia de estrelas nacionais incandescentes, numa mediocridade soporífera que metia dó. E eu, estupefacta, a ver a marisa roçagar pelos lençóis as suas qualidades dramáticas, Mas ca raio vos passou pela cabeça para alugarem uma coisa destas ??? Afinal, parece que uma delas tinha uma prima que tinha uma amiga que tinha outra amiga cuja irmã lhe tinha dito que o filme era giro.
Concluo que, no microcosmos adolescente, como no macrocosmos da vida, a credibilidade das fontes e o normal funcionamento dos canais de informação, nem sempre culminam numa boa estória.
E depois existe a questão dos gostos, que não há meio de se entrelaçarem (sim, eu sei, vai ser um corropio nos comentários de relacionamentos perfeitos mãe-filha, mas, olhem, não é o caso, azar). É que não há intersecção, ponto final, parágrafo. Dizem-me que é normal e que a generation gap em versão saudável é assim mesmo: elas a acharem giro o Zé Milho (aquele rapaz dos D´zert que me leva a semicerrar os olhos a cada vez que lhe entro no quarto e apanho com o dito em cheio na retina), e o George Clonney, um cota "medonho". Mas lá que irrita, irrita.
No outro dia, a grande fresta geracional tornou-se por demais evidente. O governo civil cá de casa autorizou uma pajama party (assim mesmo) de miúdas (faixa etária 12/13), com ordem de acampamento na sala e liberdade no Blockbuster. Às sete da tarde já estava tudo de pijama, a enfardar pipocas e batatas de pacote, assim contribuindo para o avanço inexorável do acne adolescente e do pneu, numa guincharia desalmada. O resto da família ficou confinado à zona dos quartos e qualquer aproximação a menos de cinco metros da porta, por parte de um dos irmãos mais novos, era recebida com manifestações histriónicas de repulsa tipo padre-de-cruz-em-riste-a-exorcizar-demónios.
O mais interessante? A escolha dos filmes. Sim, porque isto de eu ser mãe liberal é só fachada, na realidade, sou uma matrona castradora. Segue-se a inquirição. Então, que filmes alugaram? Ora, uns de terror...(resposta meio sumida). Sim, mas quais? O The Ring 2. Viram o um? Aquilo mete um medo desgraçado... Vimos. E não ficaram impressionadas, não morreram de medo, não tiveram pesadelos? Ai mãe, és mesmo dah!, como se aquilo metesse medo... Bom, ok, eu já vi o dois e aquilo é banhada, se aguentaram o um, podem ver o dois.
É claro que não viram, nem o dois nem o três. Cinco minutos depois da Samara (uma miúda molhada que sai dos televisores...brrrrrr) se ter mostrado no ecrã e de terem ecoado pelo prédio alguns gritos insanos, abafados por cobertores, e depois de todos os bonecos de peluche terem aterrado na sala à laia de consolo, lá passaram ao filme seguinte. E qual era o filme seguinte, perguntam-me vocês? Qual? Pois com tanta filme para adolescente no mercado (99,9%, praticamente), as miúdas escolhem-me o ...Kiss Me.
O Kiss Me! Eu nem estava bem a ver o que era aquilo, pensei que fosse uma história de amor para teenagers; afinal, era um filme português com a Marisa Cruz pré-Pinto, o inefável Nicolau Breyner e mais uma dúzia de estrelas nacionais incandescentes, numa mediocridade soporífera que metia dó. E eu, estupefacta, a ver a marisa roçagar pelos lençóis as suas qualidades dramáticas, Mas ca raio vos passou pela cabeça para alugarem uma coisa destas ??? Afinal, parece que uma delas tinha uma prima que tinha uma amiga que tinha outra amiga cuja irmã lhe tinha dito que o filme era giro.
Concluo que, no microcosmos adolescente, como no macrocosmos da vida, a credibilidade das fontes e o normal funcionamento dos canais de informação, nem sempre culminam numa boa estória.