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Não há pachorra para a cambada de pseudo-intectualóides que se mostram incomodados com as manifestações de alegria e rejúbilo a propósito do mundial de futebol. Não gostam?, não vejam os jogos, tapem os ouvidos, coloquem vendas nos olhos, fiquem em casa, mudem de canal, vão dormir. Respeito que me farto quem não gosta, aliás, compreendo perfeitamente que não se goste: provavelmente, se não tivesse uma catrefada de putos entusiasmados cá em casa, não ligaria peva à bola e iria ao cinema ou faria outra coisa qualquer. Acho legítimo que se goste muito, que se goste menos, que não se goste, que se deteste futebol. Eu própria não entendo a mística inerente à coisa, acho-a uma patetice incompreensível e custa-me a engolir as tolices sentimentais que se despejam durante um relato radiofónico, por exemplo (metade do jogo Portugal-Holanda ouvi-o na rádio: foi uma autêntica experiência alienígena, digo-vos...). Agora, é de uma bacoquice mesquinha reduzir a alegria popular a uma manifestação terceiro-mundista de um conjunto de cro-magnons que não sabem ler um livro, que não se cultivam e que são uns grunhos, que nojo. Parece que há uma coisa muito simplezinha, básica mesmo, que aqueles e aquelas não entendem: é que muitas pessoas, independentemente da classe social, da idade, do estatuto económico e do grau de literacia, vibram e divertem-se à parva com o fartar vilanagem de bandeiras, bandeirinhas, portugal olé olé, buzinas, abraços sentidos, nervos à flor da pele, cantorias desafinadas, bebedeiras, jantaradas, enfim, de VIDA. Daqui a uns dias, quem sabe já no próximo sábado, tudo acabou e voltamos à modorra habitual, e depois?, não deixou de ser bom enquanto durou. Aliás, tudo o que sirva para aligeirar os fardos pesados que são as existências mais ou menos problemáticas ou mais ou menos cultivadas de cada um de nós, parece-me bom e é sempre bem-vindo. Não querem, não comam, mas não chateiem quem resolve alambazar-se, ó manada ruminante de ressabiados que não se diverte porque não sabe como e por isso não quer que os outros o façam. Sabem, um segredinho: a diferença entre a gente decente e a outra, é esta: é a diferença entre viver e deixar viver (gostando-se ou não) e não querer deixar viver (invariavelmente, não se gostando).