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Controversa Maresia

um blogue de Sofia Vieira

Controversa Maresia

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...

por Vieira do Mar, em 11.07.07
ah, minha querida Lisboa


Vejo os candidatos insurgirem-se à vez contra as construções na "zona ribeirinha" e chego à conclusão de que não me importo mesmo nada que construam hotéis, bares, discotecas, restaurantes e condomínios de luxo em frente ao Tejo. Isso de uma frente de ria impoluta, numa grande cidade que se pretende cheia e cosmopolita, é coisa que não faz qualquer sentido. Quero uma frente de rio viva, com gente (autóctones, estrangeiros, nacionais) todos os dias da semana a olhar para a outra margem e a respirar a maresia, e não apenas relvados imensos e jardins desertos, que ao fim-de-semana se enchem com os cães de fila das famílias nucleares dos bairros sociais, mais os respectivos rádios de pilha, cocós e escarretas. Quero tudo menos baldios, gruas de carga, muros, contentores amontoados, ferrugem, lixo e desolação. Espaços verdes fazem falta na cidade? Pois sim, pois sim… Francamente, faz mais falta gente civilizada, que faça bom uso daqueles que já temos; e governantes, que dêem ordem para os preservar, limpar e vigiar. Havia de ser bonito, um Hide Park no centro de Lisboa… De que serve ao Jardim da Estrela ser o maior espaço verde vedado da cidade, quando lá dentro só existem lagos infectos, velhotes tristes, um café decadente e um predador sexual escondido em cada tronco centenário? E o Parque do Trancão? Mas há alguém que vá para lá passear os filhos e que arrisque ser assaltado à mão armada ou atropelado por meia dúzia de maluquinhos do tunning? Não me lixem com conversas. Façam coisas, construam mais esplanadas, cecebês, de um, dois, três andares (desde que não tapem a vista aos detrás), muitos espaços bonitos para gente decente e reservem o direito de admissão. Devolver a cidade aos lisboetas, como eles gostam tanto de dizer, também é isto: devolvê-la a mim, que cresci no Rossio quando lá não havia drogados. Lisboa não é só Chelas, o Bairro da Belavista ou a Madragoa, com as suas pobrezas típicas e panfletárias. Não, não me importo mesmo nada de ver um edifício histórico transformado em condomínio de luxo, mesmo que não tenha quaisquer hipóteses de um dia lá morar - antes uma construção recuperada com esmero e gosto por particulares com vista ao lucro, do que uma coisa pública, devoluta durante anos e a cair de podre, ou então, recuperada para o uso fantasma de uma qualquer obscura instituição da Administração Central que sustenta umas dezenas de tachos. Ah! Quanto aos candidatos, e só porque é mesmo superior a mim: Sá Fernandes, irritante (como todos os que se acham únicos donos de uma moral superior), deveria ser obrigado a indemnizar os moradores do Marquês e arredores, por razões óbvias (aposto que, no eixo Fontes Pereira de Melo – Amoreiras, não saca nem um voto); Carmona Rodrigues não tem vergonha na cara, é impressionante; e o apicultor Câmara Pereira é um palhaço, um obnóxio e ridículo palhaço, com um cérebro diminuto que não destoa da tradição familiar. Pronto. Como vêem, isto é só amor e compreensão. Ah, Lisboa, minha querida Lisboa... Tirando ali as zonas de Belém, das Docas, da Bica do Sapato, do Bairro Alto, do Chiado e arredores, estás, basicamente, uma merda: suja, esburacada, entregue aos cocós dos cães, à teimosa decadência do comércio local, aos vadios e à condução dos taxistas e dos emigras (este, um problema sazonal, vá lá). Quem me promete resgatar-te, quem? Pois, bem me parecia.


Adenda: Apesar de tudo? António Costa, evidentemente.

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