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por Vieira do Mar, em 27.09.07
nas minhas posições jurídicascostumo ser cautelosa. Talvez porque o Direito e a Justiça sejam tudo menos lineares, bastando, por vezes, uma premissa errada ou um pormenor fora do lugar para se pôr em causa toda a lógica de uma decisão. Por isso, evito ser taxativa quanto aos processos judiciais ditos "mediáticos": porque não estou na posse de todos os dados e porque a leviandade é meio caminho andado para que cometamos injustiças (e para que façamos figura de tontos). Quando a populaça ignota se levanta, raivosa, contra certa decisão aparentemente absurda, gosto de ser a que vem com o mas e o se calhar. Hoje, no entanto (e acho que pela primeira vez) fui assolada pela supra raiva cega: hoje, estou-me cagando para os fundamentos jurídicos e para as razões de facto e de direito que terão motivado a decisão: entregar Esmeralda àquele pai biológico não é apenas injusto; é malvado e cruel. A questão já não é apenas jurídica, é moral, e coloca em debate um aspecto que nunca foi seriamente debatido nos meandros próprios porque é mais ou menos tabu e toda a gente finge não existir: a da dimensão moral e humana das pessoas que têm nas mãos o poder de decidir sobre a vida dos outros e a necessidade urgente de a formação profissional dessas pessoas não dever atender apenas à fuçanguice tecnicista do costume. Porque a bondade educa-se, o bom-senso adquire-se e a sensibilidade apura-se: basta haver quem ensine e quem esteja disposto a aprender - nem que a tanto seja obrigado. Por princípio, a cultivação dos seres humanos eleva-os sempre qualquer coisinha (mesmo aos mais rasteiros) e diminui significativamente as hipóteses de estes fazerem mal aos outros.