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No telejornal da SIC, repórteres acompanham a Brigada de Trânsito e constatam in loco a prática de várias infracções por parte de automobilistas apanhados em flagrante. Uma reportagem fraca, porque subjectiva e carregadinha de juízos de valor. A dada altura, é mandado parar um Porsche (pareceu-me um Boxter), de acordo com a repórter, “um carro de alta cilindrada”, “típico de quem quer dar nas vistas”. Uma conclusão desnecessária, assente num juízo dispensável, que pode nem sequer ser verdadeiro. Para além do exibicionismo e da vontade irresponsável de acelerar no meio dos outros, existem inúmeras razões para que alguém - tendo possibilidades de o fazer, claro - compre um carro caro: a segurança, a estética ou o conforto acrescidos, entre outras. Ou então a pura e simples vontade de se passear numa coisa boa - facto que dá, obviamente, prazer à maior parte das pessoas normais. “Dar nas vistas” será apanágio apenas de alguns. A generalização apressada resulta de um preconceito recorrente: o de que quem tem coisas boas só as quer para se exibir perante os outros e não para seu próprio usufruto. É certo que a falta de vergonha, de gosto e de decoro de um certo novo riquismo contribuiu para o preconceito; mas também é verdade que o dito preconceito cresce e se alimenta de um miserabilismo de sinal contrário, invejoso e ressabiado, que também gostava de ter e que, ao reduzir a posse de um objecto bom e belo a um sentimento fútil e mesquinho, pretende diminuir quem tem.