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por Vieira do Mar, em 30.06.06
Pois bem, eu li </font>O Código Da Vinci e gostei, vejam lá - gostei! Não se pode dizer que seja uma obra-prima literária mas, sabem que mais?, lembro-me de o ter lido de um fôlego e de só ter expirado quando cheguei à última linha. Isto foi no ano passado (ou terá sido há dois?), nas férias, e diverti-me, acreditem. É uma treta científica? O tipo do lado direito de Cristo é, na verdade, um travesti?, um empregado de mesa?, o escanção? Who cares? A ideia está gira e é um livro perfeito para enquanto se apanha um escaldão, se convoca o sono, se foge à novela das nove ou se distende o cansaço do dia na banheira. Eu quero lá saber se o Dan Brown é aldrabão ou um calculista ganancioso, se a Opus Dei é, na verdade, uma associação de meninos de coro ou se a matemática dita séria lhe desmente as contas todas... Um livro que conta uma boa história não tem de ser uma enciclopédia, um dicionário, um manual de estudo, um repositório de verdades absolutas, nem, muito menos, uma fonte de agitação social ou um manifesto anti-religioso, mas apenas o que é: um livro que conta uma boa história, com maior ou menor arte (o que é outra questão). A Rebelo Pinto (MRP)? Na semana passada, um intelectual qualquer da nossa praça (não me recordo quem, mas ainda vou indagar), num semanário, dizia que não lia MRP porque não gostava do que ela escrevia, não se identificava com o género light e que, por isso, nunca tinha lido nada dela. Este raciocínio do não comi e não gostei é de uma burrice extraordinária! Como é que se pode afirmar que se não gosta de algo que nunca se leu?! É claro que eu não preciso de saborear patas de elefante assadas para saber que não vou gostar (esquisitinha como sou com o palato...), no entanto, para poder dizer taxativamente não gosto teria, ao menos, de lhes ter passado com a língua. Pois bem, foi o que fiz à Margarida, salvo seja: comprei e li o Não Há Coincidências, há uns anos, quando saiu. Li-o todinho, juro! - custou, mas cheguei ao fim. Em termos estritamente literários e segundo o meu pobre juízo nesta matéria, confirmei o que suspeitava: é fraquinho. No entanto, o retrato dos personagens, enquanto estereótipos de uma certa classe média-alta lisboeta, não me pareceu nada mal, digo-vos já: a rapariga não é especialmente talentosa, mas está atenta, bastante atenta, e faz os trabalhos de casa. Por outro lado, deu para perceber porque é que a minha porteira e a minha empregada gostam de a ler: porque o tom é simplório e escorreito e fala de relações amorosas que decorrem em cenários modernaços e desenvoltos. Percebi ainda que a escritora em questão (porque é de uma escritora que se trata, não tenhamos dúvidas), do alto da sua antipatia empinada, teve o mérito de pôr muita gente a ler para além da Maria, da Caras e da TV Mais. Hoje, a minha cabeleireira lê Dan Brown e discute comigo a proporção divina nos intervalos das madeixas. Ora, eu acho um grande melhoramento, ela ler Dan Brown nas folgas do Dei-te Quase Tudo, das mudas das fraldas e do seu trabalhinho emburra-intelectos, e cheira-me que à nossa Margaridinha o deve. Aliás, já combinei com ela: quando acabar o Fortaleza Digital, empresto-lhe o O Fardo Do Amor do Ian McEwan, acho que vai gostar.