nigella
Finalmente, vi um ou dois programas da Nigella Lawson, isto depois de ter lido sobre a dita em tanto babado blogue masculino. E percebi finalmente a razão do babanço: a criatura tem um charme irresistível, que mistura a beleza de um anjo de Boticelli com a opulência de uma madonna de Rafael, a par com uma aillure natural e um modo de estar desastrado mas sincero, que desarmam o cínico ou o crítico mais empedernidos . É claro que o sucesso de Nigella nada tem a ver com comida, pelo menos na vertente gourmet. Aquilo é sexo puro e duro, é um apelo aos sentidos mais primários, aquelas mamas, as ancas, a lambuzice desastrada, o tom confessional de boudoir, a insinuação do pecadilho, a assunção da gula, do excesso, da entrega ao prazer e ao gozo, da sedução com os convidados. Aquilo é um programa erótico, senhores!, que pouco tem a ver com culinária (e ainda bem, diga-se). Porque, quanto à badalhoquice na bancada (ingredientes esvoaçantes, coisas a pingar, dedos a mais) achei-a uma digna sucessora daquelas duas velhotas suas conterrâneas que chegavam de mota com sidecar ao countryside britânico e cozinhavam mistelas inenarráveis para messes inteiras, enquanto se embebedavam e se zangavam uma com a outra. Era um programa extraordinário, esse, mas de entretenimento, não de culinária, credo. Nigella, com os seus dedinhos rechonchas que acabam numas feias unhas quadradas (eu sei, eu sei: deve ser a única parte da criatura que não é bonita), lembra-me as velhas em questão, quando mergulhavam nos cozinhados até aos cotovelos e aquilo espirrava por todos os lados, antes de ser servido a uma soldadela feliz e sem papilas gustativas. No fundo, o mesmo de sempre: a cozinha dos ingleses não presta, Nigella tem o sucesso que tem porque é um portentoso objecto sexual e o Jamie Oliver só se safou porque se atracou à cozinha mediterrânica e esteve-se cagando na sua penosa herança gastronómica, à base de kidney pies e saladas de rabanetes.