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Controversa Maresia

um blogue de Sofia Vieira

Controversa Maresia

um blogue de Sofia Vieira

post incrivelmente longo sobre cenas absolutamente inúteis

por Vieira do Mar, em 29.05.13

Bom, então cá vai, a pedido de várias famílias (na verdade não foram várias, e nem sequer foi família, apenas uma pessoa, mas isso agora não interessa nada). Os meus dias não são normais. Nem um. Acontece-me sempre qualquer coisa de mirabolante, tanto acordada como a dormir. Tão anormais, que se escrevesse tudo o que de estranho me acontece, saía um post por dia.

Em minha casa convivem alegremente quatro gatos arrafeirados (de raça promenade mijon, calma!) e um labrador branco de cinquenta quilos (que não: não está obeso!, apenas ligeiramente encorpado). Ontem, surgiu-me no serviço (e com esta palavra assumo a minha total qualidade de funcionária pública: a dos cortes no ordenado, da marmita no microondas, do ódio às colegas, da carteira na mão para o café da esquina onde mantenho uma relação platónica com o bigode do Sr. Silvino, e com direito a lamber a montra chinesa do lado, ai que sandálias tão giras e baratas, só quinze aéreos!). Mas, dizia eu, surgiu-me no serviço uma amiga de uma funcionária com gatos para dar, porque tivera duas ninhadas e agora, perto das férias, ninguém lhos comprava. Persas. Puros. Com dois meses e meio. Seguramente sob o efeito de alguma droga que o Sr. Silvino me havia posto na bica, atraquei-me logo a dois, um casal. Ela, amarela e ele, preto, lindos de morrer. Com os neurónios em hibernação perante tamanho cutchi cutchi, toda eu poesia em modo tino de rans, peguei numa caixa, fiz uns buracos e lá vou eu, a caminho de casa, a pensar em qual dos que já lá estão iria deitar fora, a fim de repor a ordem natural das coisas. Estava o pânico a tomar conta de mim quando realizo que precisavam de ração, e eis que faço um desvio para o centro comercial. Por essa altura, já as criaturas tinham furado a caixa e passeavam na minha cabeça. Levei-as comigo à loja de animais, para que me emprestassem uma gateira, confiante na minha estonteante beleza. Assim aconteceu, e de lá saí com um saco de ração baby-especial-gatinhos-cara-comó-caralho-vitaminas-plus-sabor-a-frango, e fui para o parque de estacionamento, alojando a gateira no banco do carro. Quando chego a casa, já noutra cidade longínqua, abro a gateira e só lá está a gata, uma das portas desaparecida. Em pânico, violo integralmente o Código da Estrada e, de volta ao shopping, ponho as prioridades em dia: insulto a empregada que não fechou devidamente a gateira, que se encolheu de tal modo que se lhe sugaram os pneus da barriga para dentro, perdendo logo ali uns dois quilos;  dou três voltas à linda fonte pós-marreca que embeleza a entrada, a gritar “Ai Ai Ai!”; inspiro, expiro e regresso ao sítio onde estacionara, de rabo para o ar, a tentar encontrar debaixo dos carros um gato de quinze centímetros, preto, num sítio ainda mais escuro do que os meus pensamentos. Primeiro começo pelo bicho bicho bichino, anda cá, anda!..., em modo fofinho. Ao fim de meia hora, quase sem joelhos, imunda do óleo dos carros, o cabelo numa lástima (bom, isso já estava antes, mas pronto), passo ao modo van damme: “Cabrão do gato! Filho da puta! Mas quem me manda a mim?! Mais dois gatos em casa?! Devia estar louca, internem-me! Vais ver! Anda cá meu estapor, que se te apanho, dou-te aos chineses da loja!”, e assim por diante, até atingir o modo robert-de-niro-a-fazer-de-psicopata, que é o grau cinco na escala maléfica.

Entretanto, decorria uma operação policial muito importante no piso de baixo, de acordo com o segurança que “não estava autorizado a dar mais informações” (ahahahahaha!). Pensei: “Reforços!” e lá fui ter com os senhores agentes da autoridade, que tentavam  controlar de longe uma cena de porrada género “agarrem-me senão eu mato-o” entre dois automobilistas. Puxei dos galões, fingi estar interessada na “ocorrência” e, lá está, devido à minha estonteante beleza, pus toda a gente de rabo para o ar à procura do bicho, incluindo o meu e o do graduado de serviço, que não era nada de se deitar fora. Mais um bocadinho, e até os automobilistas entravam na busca, se não estivessem tão entretidos em não se esmurarrem. Após uma hora e tal de buscas, o mais desapessoado dos “vigilantes”, o da base da cadeia alimentar, coxo e meio curcunda, óculos de fundo de copo de três, um pau de virar tripas com dentes desavindos, aparece-me com o criaturo nas mãos. Ele, o desfavorecido, tinha-se lembrado que perto do local onde eu estacionara era o local de convívio onde os funcionários do centro comiam e se vestiam e que o gato poderia ter ido ao cheiro da comida. E assim fora. E, no meio de tanto artista fardado e musculado a tentar impressionar a – como já disse – minha estonteante beleza, foi o austin powers remoxo e espinafrado de colete amarelo fluorescente que - para além de todo o seu desinfortúnio físico, ainda era cioso -, se tornou o homem do meu dia e me devolveu a paz de saber que o cabrão do gato estava são e salvo. Muitos vivas para este herói improvável e eis-me de regresso a casa, a pensar onde poderia esconder-me durante uns tempos e a fazer contas às minhas milhas da TAP. Perante a excitação inconsciente da miudagem (mas esses, compreende-se: faz parte), caio redonda de cansaço e tenho um sonho estranhíssimo.

Parece que estava num Tribunal num caso que tinha a ver com uma adopção (lamento desapontar os leitores mas era um casal heterossexual, conta?), e a coisa era mediática, porque aquilo estava cheio de paparazzi a tentar fotografar-me. O “pai” era tipo Giane (googlem)  e eu só lhe dizia para ter calma, muito isenta e bem comportadinha (vê-se mesmo que era um sonho). E eis que aparecem algumas figuras públicas a tentar influenciar a decisão, dizendo-se minhas amigas. Lembro-me especialmente do Paulo Portas (não sei se a criança que era o centro da questão chegara via cegonha ou submarino), que se fez muito meu amigo e me ajudou a escapar da multidão, levando-me para casa dele. Quando lá cheguei, deparei-me com uma festa de bichas loucas, pelo que percebi que não estava ali pela minha estonteante beleza e (que estupidez não mandarmos nos sonhos!) quis logo vir-me embora. Ao que, entretanto, acordei. No meu subconsciente, portanto (que do consciente já nem falo, está beyond repair) habitam tendências masoquistas (mais sarna para me coçar), a convição de este é um país de corruptos sem emenda, e o preconceito menos in do momento: se é presumível* gay, é bicha louca de certeza.

 

(* o único momento politicamente correcto do post, reparem)

Palma de Ouro

por Vieira do Mar, em 28.05.13
 

analyze this (or not... who cares?)

por Vieira do Mar, em 13.05.13

Esta noite sonhei que havia uma revolução. Uma revolução de um povo irado, mesmo, nada de chaimites, nem cravos, nem soldados sorridentes com criancinhas às cavalitas. À porta da minha rua,  os polícias, que eram todos robocops dotados de uma força sobre-humana, atiravam pessoas à distância como anões bala e disparavam cenas de borracha que mais pareciam bolas de beach ball, mas doíam, segundo os ais. De repente, vejo-me de pendura num motard (estes hiatos nos sonhos que resolvem as partes absurdas dão sempre jeito), cuja cara não vi mas que era seguramente giro, porque até nos meus sonhos mais alucinados existe alguma coerência, calma aí. Estranhamente, a ideia era partir os bancos todos, e não derrubar o governo (por bancos, leia-se instituições bancárias e não bancos de jardim embora esses também já voassem). O meu motard não dizia uma palavra, mas voávamos em fúria para o covil do lobo; ele era túneis, corta-mato e saltos em ghost rider mode, a caminho da Av. da Liberdade. Lembro-me que ia cheia de medo, mas determinada em partir aquela merda toda. Quando lá chegámos, o ambiente era de pura  guerrilha urbana. Às tantas, começo a pensar, agarrada ao motard, tipo coelho da Alice: “Ai que estou atrasada, estou atrasada, tenho que ir trabalhar!”. No momento seguinte (mais um hiato que deu jeito) estava num táxi (partilhado com outra revolucionária desistente, sendo que o que eu queria era outro revolucionário giro com idêntico dilema existencial,  mas hey!, nos sonhos não se pode escolher), a implorar ao taxista  que me levasse ao serviço;  e ele, “Menina, já não dá para voltar ao Marquês, aquilo está cheio de gente à tareia!, mais vale seguir até à 24 de Julho”, e eu “siga, siga, mas despache-se!”, com mais medo de não picar o ponto na repartição do que levar com uma das balas que zuniam sobre a minha cabeça. Infelizmente, isto diz muito sobre mim.

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