Estou a ver na televisão a ida das claques do sporting e do benfica para o derby. E a ouvi-las e a vê-las em directo da minha janela. Algures pela segunda circular, segue um conjunto de sportinguistas, liderados por cromagnons de torso à mostra que incitam a gritos de guerra: vão cercados por um cordão policial como animais perigosos. Do lado de lá da rua, selvagens do benfica lançam epítetos simpáticos aos primeiros e fumos cor-de-rosa explodem no ar. O ambiente é de guerrilha urbana, e vê-se o medo do descambo na cara dos polícias, por detrás dos capacetes. Um nojo e uma vergonha. Futebol? desporto? Por favor.... "Claques chegam à zona das redes", diz no rodapé. À zona das redes?! A juve leo tem como símbolo um índio qualquer daqueles assassinos. Close up da animalária sportinguista, a investir contra as redes e a mostrar o dedo (e outras coisas) às câmaras. Os "adeptos" levantam as redes, tentam trepá-las, atropelam-se e arremessam pedras. O jornalista interpela a agente da PSP que responde estar tudo a correr bem, tudo normal, enquanto, por trás dela, a propensão para a pancadaria e para o descalabro cresce a olhos vistos, com os sportinguistas danados por estarem numa fila (?!) para serem "revistados" (LOL). Parece que 20 "adeptos" foram "desviados" do estádio para a esquadra ("desviados" é um belo eufemismo). Como diria o mestre Oliveira, pelos vistos, os homens foram mesmo feitos para guerrear, para lutar. Fosse esta força bruta de anormais direccionada para a luta contra a crise, em vez das manifestações pífias contra a troika e greves inócuas (a não ser para os nossos bolsos) a que temos assistido, e se calhar o governo prestava mais atenção ao "povo". Ou então mandem-nos para uma zona de guerra algures no globo, matar mauzões fundamentalistas. E se levarem com umas balazitas de retorno, francamente, também não se perde grande coisa.
Estou mais farta de ouvir falar da crise do que da propriamente dita. A coisa poderia dar-me para sonhar com o que não posso ter, mas não. Se calhar, muitos pensam como eu, daí o fecho, por exemplo, da Rotas & Destinos. Sonhar com o impossível tens os seus limites. Por isso acho que as revistas de moda ditas "sérias", tipo Vogue, Maxim, Elle, Máxima, etc., são uma ofensa à minha inteligência e ao meu bolso. Compreende-se que 60% do papel sejam anúncios a produtos de luxo. Manter revistas com aquela qualidade gráfica e número de páginas, sai caro, há que ter patrocinadores. Depois, uns 20% de sexo, que nestas é muitas vezes implícito, mas que está sempre presente, em especial nas produções fotográficas com aquelas modelos lolitas anorécticas, de maquilhagem gótica e cabelos eriçados de cores improváveis, que devem excitar os poucos tarados não gays que lêem aquilo. Até aí, tudo bem, para quem gosta do género. Ma o que lixa, mesmo, são as sugestões de roupa e acessórios "trendy", tipo "o que não pode deixar de usar na próxima estação". Para além do ridículo de nos obrigarem ao "nude" como cor fundamental ou os stilettos para as saídas nocturnas, estes nunca custam menos de 1000 euros, e o nude do casaco Prada, 2000 (por baixo). São páginas e páginas de roupas e acessórios piton (grosse, you suckers!) e um anúncio até tem o descaramento de misturar cobras vivas enrolando-se nos sapatos feitos da pele morta das mesmas. O luxo é, nos dias de hoje, ofensivo e amoral, mas ainda por cima é de mau gosto. Muita pele de bicho morto a preços, obviamente, inenarráveis. Ninguém tem dinheiro para aquilo, nem a classe média-média, que antes era quase-alta, e que é a principal consumidora daquele lixo em papel, embrulhado em estética barata de fotógrafo finalista do IADE. As sopeiras são parvas, compram aquilo porque acham que isso as eleva a um estatuto glamouroso qualquer. No fundo, uma enorme falta de vergonha na cara. Hoje em dia, não se aconselha Hermés a 3000 euros, Vuittons a 3900, nem gilets de cachemira a 500, como um "must have". Não há uma boa entrevista, uma reportagem de fundo, nada que não seja supérfluo, impossível de alcançar, inútil. Mal por mal, antes as happys, que já se sabe que vendem sexo do princípio ao fim, explicadinho como se fossemos todos virgens, ou a prensa trashy e paparazza, que ao menos diverte (as desgraças dos outros sempre nos distraem das nossas), que não frustram nem deixam este amargo de boca de sermos umas pobretanas a ser comidas por quatro euros, embora levemos um roll on como brinde, yey!