eu cá acho bem
A Duquesa de Alba casou-se. Para quem não sabe quem é, este post não interessa, portanto, adiante: é preciso conhecer a figura. Casou-se com um funcionário público giro, vinte e tal anos anos mais novo. Ela tem 80 e muitos, e notam-se todos: no corpo frágil e na cara, retalhada por operações plásticas. De acordo com a minha wikipédia das trivialidades – a Hola, sempre politicamente correcta com os famosos, em especial os reais (mas é o que se apanha por cá), a polémica foi muita, porque uma mulher tão feia e tão velha com um homem tão bonito e tão novo só podia querer dizer uma coisa: chulice. Os filhos insurgiram-se de tal modo que a mulher com mais títulos nobiliárquicos do mundo, não sei quantas vezes Grande de Espanha, dona de uma fortuna incalculável, com dezenas de propriedades e palácios de sonho, dividiu a fortuna em vida pelos seis, tomem lá e não me chateiem, mas mantendo o controlo de tudo até à sua morte, chamem-lhe parva. Ora acontece que a Duquesa de Alba tem muita pinta. Para mim, é a mulher com mais pinta de Espanha. Não pelas túnicas giras que usa descomplexadamente, nem pelos brincos gigantescos que muitas vezes lhe invejo, ou pelo estou-me-nas-tintas das sabrinas com meias garridas; nem sequer pelo extremo bom gosto de ter Victorio & Lucchino como o seu estilista de eleição. Nas fotografias, vê-se um homem atencioso que a ampara e a acompanha para todo o lado sendo que, depois de ter estado entrevada numa cadeira de rodas e quase paralisada, é agora uma velhota toda direita que recuperou o orgulho de antes e que desbraga uma felicidade que irrompe pelos plásticos e silicone que lhe enchem a cara. A Duquesa de Alba tem pinta, especialmente, porque faz o que quer. Contra os conselhos dos filhos, dos amigos, até do próprio Rei de Espanha, que a páginas tantas a tentou desconvencer do namoro (ela é a única pessoa, aliás, perante quem a família real espanhola faz vénia, segundo a minha bíblia das celebridades). Eu acho bonito e uma sorte, ela ter encontrado aos oitenta anos alguém que a faz feliz. Quero lá saber se ele vive à conta dela e se ela lhe dá uma pensão, se não a fode todos os dias, se a relação é mais de amizade que de outra coisa, se é apenas companheirismo, afinidades mútuas ou cumplicidade. Se ele aprecia coisas bonitas e por isso se sente bem ao poder apreciá-las. Porque só o Palácio sevilhano de Las Duenas é uma maravilha do mundo arquitectónico, uma construção mágica, carregada de história e de uma beleza absolutamente ofuscante. Não interessa. Ele fá-la feliz e ela foi a escolha dele. Para cuidar, amparar, passear e partilhar a vida. E ele, muito provavelmente, também está feliz. Quando se tem uma companheira com uma cabeça jovem, obstinada, inteligente, desempoeirada, independente e culta, não é um corpo nem uma cara encarquilhados que impedem que se goste, mal estaríamos. E, no fim de tudo, o que sobra é isto: de que vale tanto palácio, tanta obra valiosa, tanta história, tanto dinheiro... se não tivermos com quem partilhar a beleza? Nada.