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Controversa Maresia

um blogue de Sofia Vieira

Controversa Maresia

um blogue de Sofia Vieira

ahahahaha!

por Vieira do Mar, em 22.03.11

(estou a ler as perguntas do censos)

o amor é lindo mas selectivo

por Vieira do Mar, em 20.03.11

Quando Carlos Tê diz que não se ama alguém que não ouve a mesma canção, a coisa não é para ser levada à letra. Podemos amar alguém que gosta de todas as faixas de um cedê do Wim Mertens. E se o amor que sentimos for mesmo profundo, podemos até ouvi-las todas sem adormecer ou vomitar. No fundo, o que acontece é  que o amor tem de coincidir nos fundamentais. Eu não consigo amar alguém que não reconheça a genialidade de Chico Buarque. Ou melhor, até consigo, mas apenas com base numa ignorância temporária (minha ou dele). Pode acontecer que não gosta porque não conhece, não calhou, nunca ninguém lhe mostrou, então vamos lá resolver isso. Se mesmo assim a reacção for de indiferença, de tédio ou mesmo de desagrado, então temos um problema. Também nunca amaria quem não gostasse de Eça ou nunca tivesse lido Os Maias. Ou quem jamais se tivesse rido com Herman José. Não achar piada a Herman José, em especial nos seus primeiros anos, é um crime de lesa-amor. É quase como não saber de cor certas crónicas do MEC ou nunca ter lido O Independente e não ter percebido que tudo mudou desde então. Mas o inverso também se verifica. Coisas de que só nós devemos gostar para que se mantenha o respeito. Eu adoro Harry Potter: os livros, a trama, os filmes, a iconografia toda, toda, mas... não me apetece especialmente que ele também e que muito, o que o tornaria um bocado nerd. E não se ama um totó, suportamo-lo com carinho. Por exemplo, pode gostar de música dos anos oitenta, mas só de alguma; não deve saber de cor a letra  do girls on film, e muito menos dançá-la com alma nalguma festa revivalista. Deve reconhecer que o Streets of Fire é uma grande malha, e não hesitar quando se fala de U2 ou Police. Está absolutamente proibido de apreciar fado, e muito menos de o trautear distraidamente. Já o nunca ter lido a trilogia do Senhor dos Anéis nos seus anos de formação é de certo modo um revés, mas mesmo assim permite que se prossiga com o amor - e nada de insistir que o faça agora, porque tudo tem o seu tempo e aos quarenta não temos que levar a sério as fornalhas de Mordor (não devemos). Também não se ama alguém que não goste de comer, embora se possa amar quem goste de comidas diferentes. É, aliás especialmente bom quando os gostos neste domínio não coincidem na totalidade mas se completam: tu gostas da coxa, eu do peito do frango. Tu, da parte alta do bacalhau, eu, da posta baixinha.  Perfeito. Ainda no domínio do comestível, não se gosta de um homem que não saiba fazer um grelhado com método, paciência e concentração, sem estorricar. Um robalo escalado no ponto certo é uma enorme prova de amor. Também não se ama quem percebe muito de muitas coisas: pode não matar o amor, mas irrita-o. Temos que saber coisas que o outro não sabe para sentir que também o surpreendemos. Senão o amor mirra, envergonhado. Também não é fundamental gostar das mesmas séries e filmes, mas ajuda. Não me importo que goste de filmes de porrada, mas isso porque eu também. Não pode delirar com comédias românticas. Não só porque eu as detesto mas porque seria um bocado gay e o amor tem de ser macho e ter pêlo no peito (pelo menos o meu). Há situações fáceis, como a série Weeds - todos gostam da Nancy Botwin, em especial quando abre as pernas e alguns até gostam genuinamente dos diálogos da série. Não importa: interessa é que, por uma hora, não há guerras de zapping. Nenhum amor sobrevive a frequentes zappings-kamikaze. Há outras coisas interditas, para além do fado. No meu caso, não amo alguém que ame futebol. Aliás, quanto menos um homem perceber do assunto e desprezar resultados e as conversas sopeiras do dia seguinte, mais me fascina. Mas tem de atentar minimamente em europeus e mundiais onde entre Portugal, para também não parecer um alienado - e, pior do que isso, um não patriota. Perdoa-se que não goste de House MD - afinal, uma série de gajas para gajas, como alguém disse; mas aceita-se que veja Desperate Housewifes como quem pudesse estar a ver outra coisa qualquer, olha calhou ficar ali nas quarentonas boazonas, podia ter sido na pesca dos caranguejos. Mas tem que desprezar genuinamente situações que metam vampiros, pois coisa mais gay no mundo dos gays não há. É que é metê-lo logo à porta de malas feitas e com dono, acreditem-me. Ah! E eu só amo um homem que goste de carros, mesmo que não tenha nenhum. Desprezo ligeiramente aqueles para quem é o mesmo conduzir um Opel Corsa e um Porsche Carrera. E que acham que os carros são apenas prolongamentos das pilinhas dos outros - porque as deles, naturalmente,  não precisam de quaisquer acréscimos, muito menos de natureza motorizada. Suspeito sempre destas putativas  pilinhas pequeninas e ressabiadas que só sabem andar de metro. E, a propósito: não se ama um homem de pilinha pequena, pequenininha, minúscula, pois não nos dá traz qualquer serventia e toda a gente sabe que as mulheres são pessoas práticas de natureza utilitária. Por muito que isto  doa (ou melhor dizendo: que não doa nada - não resisti ao trocadilho). E por fim, podemos até amar, mas devemos desconfiar, dos que dizem desabridamente: "a Monica Bellucci não faz o meu género". Se mentem em relação a isto, nunca saberemos até onde estarão dispostos a ir.

a ovelha ronhosa da sábado

por Vieira do Mar, em 20.03.11

Juro (juro!) que isto não é uma cruzada contra os colunistas (tanto não é que gosto tanto, por exemplo, do que escreve o Joel Neto que até lhe perdoo o disparate do chocolate preto), mas vejo-me obrigada a escrever sobre outra desgraçazinha da nossa praça,  a Maria João Avillez. A mesma que, em tempos,  equiparando-se aos mais desfavorecidos na base da pirâmide alimentar, afirmou que também era uma "minoritária", gerando uma private joke cá por casa que perdura até aos dias de hoje. Bom, mas embora não ande à coca das asneiras que por aí se escrevem (a sério: tenho uma vida, actualmente são três a cinco bocas para vestir, encaminhar e sustentar), certo é que deparo sistematicamente com elas nos meus parcos tempos de lazer e de leitura. Nesta edição da dita revista, e logo no segundo parágrafo (nesse aspecto foi uma sorte porque ia distraída e parei logo ali) escreve a senhora que Sócrates, lai lai lai "(...) foi ontem a Bruxelas mostrar serviço, implorar que nos descolem a etiqueta de ovelhas ranhosas e fazer de patriota responsável". Ovelhas ranhosas?! Nem é preciso dar-me ao trabalho de corrigir, pois não? Aposto que todos os meus leitores - embora a maioria seguramente com bibliotecas mais pequenas - sabem onde está o erro e qual o étimo da palavra, que vem daquela doença que atacava os pobres bichinhos. Escusado será dizer que voltei imediatamente aos cebolinhas e aos chicos bentos: aos menos esses erram de propósito.

é a comédia

por Vieira do Mar, em 15.03.11

Jornalista da SIC no MARL, a incitar à confusão a propósito da greve dos camionistas:

- Então e prejuízos? Já tem prejuízos?

Resposta do distribuidor:

- Bem, quanto a prejuízos, prejuízos... de momento só lucro.

 

Outro jornalista da SIC, neste caso para a "representante" dos camionistas (medo!):

- Então, que expectativas tem para esta reunião?

Resposta:

- Quanto a expectativas... estou à espera que aconteça alguma coisa.

tenho dias

por Vieira do Mar, em 04.03.11

Os homens são cobardes na sua relação com as mulheres - têm um medo delas que se pelam, fazem qualquer coisa para não as chatear. Porque chatear nunca é exactamente apenas isso - incomodar, aborrecer -, mas sim despertar a ira dos infernos. Não há nada que mais detestem do que uma boa contenda; as explicações, guardam-nas para depois sempre que podem. Para eles, a insatisfação generalizada (mesmo que espalhada a cada uma das extremidades do corpo) é um mal menor: é o preço que têm de pagar para serem por nós deixados em paz. Querem sopas e descanso por isso estão sempre à defesa. Acham-nos agitadoras, reivindicativas e barulhentas. Os homens são o ministro que assobia para o lado e que só em último caso envia a carga policial - evitam o confronto a todo o custo, não vá algo mudar, estragar o seu status quo e obrigá-los a mexerem-se. Escondem-nos coisas pequenas - como terem-se cruzado com a ex-namorada - sem perceberem que (ao fazê-lo) estão a transformá-las em coisas grandes. Detestam generalizações de género e, quando lêem textos como este, enchem-se de súbita indignação filosófica e concluem que as mulheres não sabem nada sobre eles e que às vezes são todas um bocadinho louras burras, sim (os homens acham-se sempre diferentes e melhores do que os outros, pois vêm com um chip compara-pilinhas instalado de nascença no cérebro - não raras vezes defeituoso). Por muito que nos amem loucamente, não têm de nós grande opinião, tomam-nos por arruaceiras,  teimosas e irredutíveis como os gauleses, e não apreciam que só desistamos quando temos a certeza de que já ganhámos. Porque do seu ponto de vista nós ganhamos sempre - embora eles nunca percam: resignam-se. Não se esforçam especialmente porque entendem que, façam o que fizerem, o resultado final ficará sempre na nossa disponibilidade - como a cor dos cortinados. Estão convictos de que lhes pedimos a opinião quando não queremos saber dela para nada. Acham-nos umas pirralhas mimadas, mesmo que nos tenham ido buscar ao orfanato. Somos queixosas e queixinhas, raramente estóicas. Irracionais, ilógicas, umas doidas varridas que se exprimem essencialmente pela linguagem hormonal. Cata-ventos afectivos. Às vezes precisam de nós para as tarefas mais simples - como os miúdos para atarem os sapatos -, mas roem-se se têm de nos pedir ajuda com receio de despoletarem temíveis factores imponderáveis. Somos terreno minado. Querem estar de bem com todas as mulheres (passadas, presentes e futuras) ignorando que é impossível estar-se de bem com deus e com o diabo. E estão cem por cento seguros de que somos sempre vulneráveis a qualquer estímulo exterior, em especial se vindo de outro homem: os homens confiam pouco no discernimento sexual das mulheres. Mas são graxistas e aduladores: para eles nunca estamos erradas,  mais velhas ou mais gordas,  e a sinceridade desabrida é sempre o seu último reduto (por via das dúvidas). Julgam que preferimos falinhas mansas, rosas e anéis, embrulhinhos e embalagens, à pura e simples verdade. E desconfiam de mulheres audazes que se oferecem, apenas porque acham que alguém não as quis. Confundem desespero com desejo e necessidade com vontade de escolha. E este é sem dúvida um dos seus piores equívocos.

 

o impecável sotaque britânico da besta

por Vieira do Mar, em 02.03.11

A fraca qualidade de algumas colunas de opinião nos media portugueses é confrangedora.  A pior de todas é a da Margarida Rebelo Pinto na Única: um vómito medíocre de banalidades sobre o amor e o sexo. Qualquer blogger experimentado em opinar através de posts devidamente embrulhados em punch lines faria melhor. A segunda pior (à excepção da daquele rapazinho de boina da revista do Sol) encontrei-a ontem, quando estava a ler  um dos suplementos do Expresso e deparei com uma crítica ao programa Hell´s Kitchen, um reality show. A miúda que a escreve diz basicamente que o dito é apenas um meio para o Chef Ramsey, "uma besta",  ofender os concorrentes com muitas "f words". Tudo "no seu impecável sotaque britânico". Quem nunca tenha visto o programa - um entretenimento do caraças, quer se goste ou não do estilo -  fica assim com uma ideia errada do mesmo. Comecemos rapidamente pelo fim. Que raio quis a colunista dizer com "no seu impecável sotaque britânico"?! Ao contrário do que deixa entender, o Chef - uma espécie de grosseiro mestre de cerimónias do concurso - fala num inglês a que comummente chamamos das docas, ou seja, típico das classes baixas,  e não num inglês da upperclass, pelo que o seu sotaque não é de todo "impecável". Por outro lado, a sua exasperação não é assim tão gratuita pois, logo nas  primeiras noites da quinta temporada (por exemplo) uma das concorrentes despeja açucar no esparguete, outra serve-o cru, já  um deles serve "esparguete de lagosta" sem a lagosta, outra deixa as colegas sozinhas a meio de uma prova e vai chorar e empaturrar-se para as escadas, e outra ainda (que alegadamente  tem uma escola de culinária) queima as vieiras ao fritá-las... Enfim, coisas absolutamente inaceitáveis para quem aspira a um quarto de milhão de dólares e ao posto de chef num dos melhores restaurantes dos EUA (dizem eles). E é sempre agradável desancarmos - ou vermos desancar - na incompetência, até nos traz cor à cara. Quando os concorrentes fazem as coisas bem feitas o homem não se poupa nos elogios, embora o que mais interesse ali seja de facto o espectáculo, pelo que toma decisões injustas que visam apenas manter o equilíbrio competitivo entre as duas equipas - por exemplo, entre os homens de um lado e as mulheres do outro. Para quê? Para manter os que dão mais luta e que provocam maior desestabilização no seio do grupo, correndo rapidamente com os mais fracos. Para tanto, os concorrentes são psicologicamente manobrados para "nomearem" este ou aquele colega. Normalmente, Ramsey arranja maneira de os grupos se alternarem nas expulsões, escolhendo de modo subjectivo (embora não pareça) qual o que terá de nomear dois colegas. O grupo escolhe dois: um, é o elo mais fraco da cadeia- o choramingas, o desastrado -; o outro, o arrogante - que o grupo não quer ver nem de longe. Perante os dois, Ramsey chuta geralmente este último e mantém o problemático, em nome da confusão - ou seja: das audiências - que o conflito é susceptível de gerar. Até pode não ser exactamente assim mas, se vamos falar de algo e sermos pagos para isso, convém tentar percebermos primeiro como funciona e qual o mecanismo subjacente à coisa, enquadrá-la com alguma informação adicional (mesmo que mínima) e depois explicá-la um bocadinho aos outros - e não limitarmo-nos a fazer piadolas e apreciações superficiais que dão direito a conclusões absurdas. Como diria uma pessoa que me é muito querida, olha estudasses!.

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