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Controversa Maresia

um blogue de Sofia Vieira

Controversa Maresia

um blogue de Sofia Vieira

nada fracturante, mesmo

por Vieira do Mar, em 17.06.10

 

Francisco, em primeiro lugar, desculpa a resposta tardia, mas passei o fim-de-semana a cozinhar e, por entre caldeiradas e lagostas suadas, a alma a carpir de as mergulhar vivas na panela, o melhor bolo de chocolate do mundo (sim, o meu), e a nossa selecção pila-frouxa, o assunto passou-me. Enfim.

Bom, em primeiro lugar, e apesar do tom irónico do teu segundo parágrafo, consideraria que estás a extrapolar, ponto. Eu nunca disse que "(...) aquelas meias-horas de cozinha são engodo para atrair homens carentes e rapazes com saudades do tempo em que as mulheres exibiam «a opulência de uma madonna de Rafael» (...)". Não percebo porque é que um homem qualquer, vidrado numa Nigella gira, sexy, opolenta e badalhoca, tem de ser "carente". Parece-me apenas que é saudável e que gosta do que é naturalmente bonito, cedendo leve levemente ao magnetismo sexual da criatura. Tudo dentro dos conformes para qualquer macho (ou até para qualquer fêmea!) , portanto, Francisco, que não te sintas atingido na tua masculinidade, por favor!, tu vê-me a Nigella à vontade.

Quanto à cozinha dos chefs actuais, concordo contigo em praticamente tudo; e quanto à cozinha das mães e das avós, também. Infelizmente, se eu descobri a Nigella com um delay de alguns séculos, a tua tese sobre o complicómetro dos grandes chefs e a comida das nossas escravizadas mães e avós também não é propriamente uma novidade. Já o MEC dizia, no seu "Em Portugal não se Come Mal" (1ª ed. , Assírio e Alvim) , no magnífico texto "O sexo dos marmanjos", que "A boa cozinha é feita de trombas, resignadamente, porque, senão, não há nada de jeito para comer" (pág. 143). E ainda: " Enquanto os homens (...) insistem em dar uma mijinha pessoal no que cozinham, para marcar o território e proclamar com fedor " este magnífico lobo esteve aqui", as mulheres querem é reproduzir a comidinha de que tanto gostaram" (págs. 144/145). E por aí fora, sendo essa a ideia, aliás desenvolvida com génio em várias páginas. Recomendo a leitura.

Por outro lado (e já  agora), não percebi muito bem onde e porquê intersectas a Nigella com as mães e as avós; só se tiveste mãe/avós lindas, desastradas e opulentas. Porque, no que concerne à comida propriamente dita e no caso da minha ascendência, nenhuma receita da Nigella bate o sável com açorda ou o bolo de vinagre da minha avó ribatejana, nem as arepas com manteiga enroladas em folha de plátano da minha outra avó, de costela venezuela. Só para dar dois exemplos, senão nunca mais daqui saíamos.

Quanto ao restaurante inglês que me sugeres, eu, que ao invés de ti sou pouco viajada e como mais por casa do que por fora, não duvido de que deve ser excelente. Mas parece-me que estás a confundir os planos: o facto de haver num dado país muitos bons restaurantes não torna a sua "cozinha" uma boa cozinha. Pelo menos, não no sentido que eu lhe quis dar, de que a "cozinha" tradicional inglesa (com as suas pies e os seus puddings), não é das melhores, e isto para ser simpática. Estamos a falar de coisas diferentes. Por isso, não me custa a acreditar que hoje em Inglaterra se faça uma das "melhores cozinhas do mundo". Seguramente, não à custa da Nigella.

Por fim, só mais uma coisinha. Os homens têm noções básicas acerca das mulheres, que incorporam sempre nos seus raciocínios quando querem atacar alguma em particular. Uma das mais insistentes, é a de que as mulheres são as principais inimigas umas das outras e que, por inveja, necessidade ou espaço vital, são as primeiras a saltar em cima de outras mulheres. Eu não costumo fazê-lo, sou democrática: tanto arraso homens como mulheres, quando é caso disso. Em contrapartida, tendo a favorecer pessoas giras, sexy, agradáveis e simpáticas. Gosto muito de ver homens e mulheres bonitos e de os ter à minha volta, na televisão e na vida real. Comigo, a lei da atracção funciona às mil maravilhas, e se às vezes sou uma cabra, seguramente não é por aí.

Portanto, por favor,  não me insultem a inteligência (nem a aparência, porque também tem a ver com ela - ou com a falta dela) dizendo que é porque sou "mulher" e porque a Nigella é gira e boa, que sou a primeira a "atacá-la". Poupem-me. Sou é uma pessoa que gosta de comer, de cozinhar e de improvisar (não tenho bimby por isso mesmo), e de o fazer numa bancada relativamente limpa. A minha crítica, se é que fiz alguma, foi a de que a comida dela não me parecia grande coisa e que, portanto, o seu sucesso teria mais a ver com a pessoa em si e com o seu, digamos, magnetismo sexual, do que com as suas habilidades culinárias.

Por coincidência, estou a vê-la cozinhar um "salmão tostado com gengibre" que deve ser horrível. Os filetes de salmão atirados desastradamente para dentro de uma frigideira anti-aderente sem um pingo de nada, mal passados, depois despejados num prato e cobertos com um molho de soja com pedaços de gengibre de muito mau aspecto. De facto, quanto mais atento na Nigella, menos gosto do que cozinha e da forma como o faz. Mas continuo a achá-la boa, gira e engraçada, e a ter os olhos postos nela até aos créditos finais.

 

Na verdade, a questão parece-me simples e nada fracturante, mesmo.

 

 

morte anunciada

por Vieira do Mar, em 14.06.10

Ao almoço, eu em frente a uma posta de bacalhau com grão e a um televisor na sport tv, onde acontecia um jogo do mundial entre dois países de louros, não percebi quais. O som, posto baixinho, dava para apreender um apitadela mais vigorosa do árbitro e era tudo. Nem palmas, nem assobios, nem exclamações colectivas de alegria, de desgosto ou de susto. De fundo, um ruído que primeiro pensei ser do ar condicionado, depois, das arcas refrigeradoras do próprio restaurante (uma espécie de cervejaria de bairro). Por pouco, não pedia ao Sr. Gil que, para além de me trazer outra imperial, me silenciasse o bicho, que aquilo já me estava a ir aos nervos. Era uma moinha constante, um béeeeeeeee ao longe que parecia abafar todos os outros sons. Foi então que me apercebi: o som vinha do jogo e era o coro infernal das vuvuzelas, só podia. E eu, que nunca antes tinha ouvido aquilo, nem uma nem mil, fiquei chocada, sinceramente. Mas como é que os jogadores conseguem fazer alguma coisa com aquela merda a zunir-lhes nos espíritos, incessantemente? Além de que, como espectador, estar sempre a ouvir aquilo é como respirar uma atmosfera estragada: sobrevive-se, mas o ambiente fica fodido. A solução é ver os jogos em silêncio, ou quase, para não enlouquecer - o que é de certa forma um paradoxo. Embora prognósticos só no fim do jogo, quer-me parecer que as putas das vuvuzelas acabaram com o espectáculo e mataram este mundial.

sea cribs

por Vieira do Mar, em 14.06.10

Desconfio sempre do bom-gosto e da joie de vivre de quem tem casarões frente à praia com umas janelitas miseráveis em vez de grandes janelas e portadas, daquelas com vidro por todo o lado em que o mar entra pelos quartos, pelas camas adentro, que têm a  areia aos pés e uma vista sem fim para o resto do mundo - como as casas de praia nos EUA, por exemplo. É o caso da mansão do Mourinho, em Ferragudo. Horrível, com uma volumetria brutal e umas ameias minorcas e tristonhas que mal deixam entrar o esplendoroso sol algarvio. Razões de privacidade e segurança? pelamordedeus, então escondam-se na floresta, não venham para a primeira linha de praia, roubar o lugar (e a vista) a outros. A praia devia ser só para quem a sabe aproveitar/ver/cheirar: nisto sou fascizóide (e no resto também, pronto, eu sei). Uma barraquinha, dêem-me uma barraca, uma casinha de pescadores, uma rede, o mar a perder de vista. E eu, acho, mereço, aquela maresia toda, o arrulhar da maré só para mim. O Mourinho, não.

nigella

por Vieira do Mar, em 10.06.10

Finalmente, vi um ou dois programas da Nigella Lawson, isto depois de ter lido sobre a dita em tanto babado blogue masculino. E percebi finalmente a razão do babanço: a criatura tem um charme irresistível, que mistura a beleza de um anjo de Boticelli com a opulência de uma madonna de Rafael, a par com uma aillure natural e um modo de estar desastrado mas sincero,  que desarmam o cínico ou o crítico mais empedernidos .  É claro que o sucesso de Nigella nada tem a ver com comida, pelo menos na vertente gourmet. Aquilo é sexo puro e duro, é um apelo aos sentidos mais primários, aquelas mamas, as ancas, a lambuzice desastrada, o tom confessional de boudoir, a insinuação do pecadilho, a assunção da gula, do excesso, da entrega ao prazer e ao gozo, da sedução com os convidados. Aquilo é um programa erótico, senhores!, que pouco tem a ver com culinária (e ainda bem, diga-se).  Porque, quanto à badalhoquice na bancada (ingredientes esvoaçantes, coisas a pingar, dedos a mais) achei-a uma digna sucessora daquelas duas velhotas suas conterrâneas que chegavam de mota com sidecar ao countryside britânico e cozinhavam mistelas inenarráveis para messes inteiras, enquanto se embebedavam e se zangavam uma com a outra. Era um programa extraordinário, esse, mas de entretenimento, não de culinária, credo. Nigella, com os seus dedinhos rechonchas que acabam numas feias unhas quadradas (eu sei, eu sei: deve ser a única parte da criatura que não é bonita),  lembra-me as velhas em questão, quando mergulhavam nos cozinhados até aos cotovelos e aquilo espirrava por todos os lados, antes de ser servido a uma soldadela feliz e sem papilas gustativas. No fundo, o mesmo de sempre: a cozinha dos ingleses não presta, Nigella tem o sucesso que tem porque é um portentoso objecto sexual e o Jamie Oliver só se safou porque se atracou à cozinha mediterrânica e esteve-se cagando na sua penosa herança gastronómica,  à base de kidney pies e saladas de rabanetes.

a melhor ementa do universo

por Vieira do Mar, em 08.06.10

cooked to the portuguese:

 

 

 

 chicken roasted in the oven to the peasent:

 

 

 

dish of kidney beans of conches, rabbit to the hunter:

 

 

 

with you crumble cod, haunch of pig to the fashion of the bairrada:

 

 

 

beef of the empty one of the inn:

 

 

 

cod to maria (I try c/ batatas to the punch):

 

 

 

secret of "black" pig from alentejo:

 

 

 

grilled carapaus c/ molho to the spaniard:

 

valha-nos nossa senhora da vuvuzela

por Vieira do Mar, em 01.06.10

Mesmo com vitórias pífias, a selecção deprime-me, em todo aquele seu esplendor apatetado. No domingo foi tudo pró Jamor aplaudi-la e, segundo o jornalista da RTP e a mamalhuda que o acompanhava, o ambiente estava "fantástico". Algures em estágio, nos balneários, a malta apresentava-se bem-disposta e folgazona, indiferente à mediocridade até agora exibida, a qual, não só não lhes quebrou o ânimo,  como não lhes conferiu um pingo de decoro ou de vergonha. O ar descerebrado da matilha obrigou-me a concluir que existe indiscutivelmente uma relação inversamente proporcional entre o pontapé na bola e o desenvolvimento cognitivo. E, algures por entre risinhos, encontrões e apalpões (há grande dificuldade na articulação da palavra, é um facto), um Carlos Queirós com ar enfiado, ombros caídos e looser escrito all over. Quer-me parecer que esta atitude galhofeira da malta do balneário não é exactamente do agrado do povão. Os portugueses são gente sisuda e desconfiada, incompetentes quando no seu habitat natural (leia-se; quando em território nacional, deve ser do ar), mas estão sempre danadinhos para exigir profissionalismo aos outros. Um bocadinho de seriedade, caramba!, parece que estou mesmo a ouvi-los. Pois é, continuem no recreio, meninos, continuem assim, que não haverá nossa senhora da vuvuzela que nos salve. Sendo certo que eu, pessoalmente, não pretendo ser salva. Ou, nas palavras prescientes do homem da casa que, perante um estou farta desta porcaria da selecção e do mundial!, já não se aguenta!, responde, deixa lá, querida, depois de começar, vai ser rápido...

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