Estar de férias e sem (quase) nada que fazer também tem as suas desvantagens, designadamente, apanhar inopinadamente com os programas da manhã na televisão portuguesa. Desta vez, calhou-me o da Rita Ferro Rodrigues. E eu, que até nem tinha má impressão da pessoa, e que achava que todos temos que fazer pela vida, que remédio, fiquei chocada. O tema: a condenação da condutora que matou, por negligência, duas pessoas no terreiro do Paço, a três anos de prisão efectiva. Quem conhece os meandros dos tribunais e das sentenças judiciais sabe que esta condenação, por um clime negligente (ou três, neste caso, em cúmulo), é uma brutalidade. Em termos relativos, claro, não estou a falar da justiça ou não da decisão em termos absolutos e retributivos. Mas RFR insiste em dizer que lhe parece "muito pouco", ideia que repete à exaustão perante o filho de uma das vítimas. De seguida, passa à crucificação pessoal da condenada, atacando-lhe o carácter, confabulando sobre o que lhe terá (ou não) passado pela cabeça e o que terá (ou não) sentido, mostrando um total desconhecimento quanto à diferença que existe entre agir com negligência e agir com dolo. Qualquer pessoa que conduza e que tenha tido acidentes graves sem razão aparente, mesmo que no cumprimento das regras de trânsito e na posse de todas as suas faculdades mentais (como foi o meu caso), sabe que shit happens e tem algum rebuço em julgar alguém numa situação destas de ânimo leve e em chamá-la de "assassina". Pelo menos, tende a deixar a parte jurídica para os tribunais (que, sim senhora, deverão condenar caso se prove o que houver a provar, como parece ter sido o caso), abstendo-se de julgamentos morais em público, mais adequados a conversas de café nas quais se exerce a ligeireza intelectual por mero desporto, em frente a uma imperial. Mas RFR armou-se em carrasca, ainda por cima de alguém que não se estava ali para se defender, o que me pareceu uma baixaria. Porque se a intenção dela foi apelar à vindicta privada e à revolta familiar e popular, pois no que me concerne o tiro saiu-lhe pela culatra: sem querer, dei por mim a criar empatia com a condenada e a sentir exactamente o inverso pela apresentadora.
De há uns anos a esta parte, é sempre a mesma coisa: as montras das lojas de roupa espraiam as suas colecções de Primavera, invariavelmente uma espécie de moda trashy suburbana que cuida de que as miúdas, com os poucos euros de que naturalmente dispõem, mantenham o look lil´slut. Olha-se os manequins e aquilo é tudo à base de muito poliester colorido e de muita ganga carcomida: ele é a meia pelo joelho à colegial muito naughty, o soquete com a sandália de salto alto com o dedão a espreitar (vómito), o mini kilt por cima das leggings (sim: odeio leggings), uma profusão de echarpes rafeiras e desbotadas a enforcar pescoços impossivelmente magros, umas correntes presas nos cintos grossos à gangue da cova da moura, uma luvas sem dedos que aquilo nem a Madonna há trinta anos, uma data de coletes manhosos sobre blusas enxovalhadas, e folhos, muitos folhos: uma folharada que aparece por todos os lados, mas que tapa quase nada. Manequins que, entretanto, têm alvas perninhas de alicate com joelhinhos ossudos metidos para dentro e umas boquinhas semi-abertas com ar de quem tanto pode estar a lamber um chupa de morango como a preparar-se para um broche ao transeunte mais próximo. Detesto. E não é por causa do broche, nem do apelo que se faz a um modelo de juventude entre o debochado, o desleixado e o anoréctico: todos sabemos que a perversidade feminina é inversamente proporcional à idade, e que na verdade atinge o seu expoente quando ainda somos lolitas - e não quando temos de começar a negociar e a contemporizar porque só a beleza já não nos chega para podermos ser cruéis. É porque põe as miúdas menos giras e lhes dá um ar vulgar e standardizado: podiam parecer putas, mas umas putas engraçadas e com bom-gosto, tipo Julia Roberts depois de o Richard Gere a mandar às compras com o cartão de crédito dele (sem o espavento do Rodeo Drive, é certo, e sem os calções-saia dos anos oitenta, graças a deus). Assim, andam todas igualmente mal-vestidas, parece que atacam todas na mesma esquina e que apanharam todas a mesma DST. Malditas bershkas, stradivarius e quejandas, que insistem em standardizar a vulgaridade adolescente, o mau gosto e a péssima qualidade dos tecidos, que (ainda por cima) nem aguentam a merda de uma centrifugaçãozinha.