de mansinho

Entro de mansinho em 2010, são ainda muitos, os ecos de 2009. Foi um ano importante para mim, quase comparável aos anos em que nasceram os meus filhos. Aconteceu-me toda uma vida; aliás, olhando para trás, custa a perceber como é que tanta coisa encaixou e se arrumou em apenas doze meses. Vi o melhor e o pior da natureza humana e, felizmente, acabei o ano apenas com o melhor. Sobrevivi à ganância, ao ressaibo, à desconfiança, à paixão funesta, à obsessão, à culpa, ao desengano. Sobrevivi ao mês de Agosto. E ao Natal. E entrei com um pé a puxar para o feliz em 2010. Aprendi o valor do recato, que as primeiras impressões são sempre as mais certas, que aguentamos mais do que aquilo que achamos e que as coisas boas nos acontecem quando deixamos de as procurar. Mas, também, que o instinto nem sempre funciona e que uma cabeça com a mania que é inteligente pode ser tão tola como qualquer outra, fazer figuras tristes e não reconhecer o mal quando este lhe bate à porta, toca e foge. Mas, mais importante do que tudo, aprendi a estar sozinha, comigo apenas. E a gostar do silêncio que a princípio me estrangulava, a apreciar a minha companhia. Um dia de cada vez. Fiz amigos, em especial, homens. Percebi que são todos diferentes uns dos outros, como as mulheres e o resto, afinal: único e singular, numa escala que pode ir do péssimo ao excelente. Há que saber escolher, deitar o lixo fora, prezar o que presta. Tornei-me menos preconceituosa, alarguei o meu poder de encaixe, levei na cabeça, chorei que me fartei, mas também me senti desejada, querida, amada, como há muito não me sentia: houve uma espécie de cegueira enevoada que se dissipou e entretanto abriram-se caminhos. E é por eles que agora vou (entro de mansinho em 2010).
