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Controversa Maresia

um blogue de Sofia Vieira

Controversa Maresia

um blogue de Sofia Vieira

(glup... gahh... cof... cof...)

por Vieira do Mar, em 31.01.10

(engasguei-me)

telejornal I

por Vieira do Mar, em 30.01.10

Os donos dos carrosséis - a fine gentlemen´s league - protestam o facto de serem obrigados a cumprir normas de segurança por forma a que os utentes não estatelem as trombas e os ossos no chão de gravilha das feiras. Querem manter o direito de continuar a estropiar gente, pois então. Um desgraçado de um rapaz apanhado na reivindicação viu o carrito todo partido pela investida do camião de um carrosseiro - ai, perdão! - de um carrosseleiro, e ainda ia sendo linchado pela população revoltada e em fúria. No fundo, acabaram, os protestantes, a lixar a vida de quem por ali passava e a alarvarem-se com pizzas familiares  na berma da estrada, perante a interrogação pungente do condoído repórter de serviço, então?, não têm outro sítio para comer? (juro, foi mesmo assim)

o homem que coleccionava mulheres sem rosto

por Vieira do Mar, em 24.01.10


 

Só gostava delas de longe, inexpressivas e com um cheiro que se limitava a adivinhar-lhes,  opacas, como as via nas fotografias que elas lhe mandavam, sempre no seu melhor ângulo, o esquerdo, ou o que lhes fazia o nariz mais pequeno, as mamas mais saídas, as pernas mais longas, o sorriso mais atrevido, o cabelo mais claro. Tinha-as em todo o lado, como um marinheiro  as tem em cada porto, separadas dele às vezes por centenas de quilómetros, outras, por apenas centenas de metros,  distâncias que ele sabia não serem para ser superadas nem vencidas: a fantasia não era para resolver, mas para nela persistir, o espaço que criara em volta de si mesmo, um resguardo. Não tinha caixas cheias de fotografias porque  este conto é no presente e estamos na era digital. Guardava-as em pastas no computador, onde juntava textos e imagens, emails e posts, históricos de conversações em que as conseguira levar sempre um bocadinho longe demais, na exposição íntima, na delação, na expectativa. Coleccionava tudo o que elas tinham para lhe dar, bocadinhos das suas vidas, relíquias de todas as suas partes: menos dos rostos. Nunca soube nada de texturas de peles, se secas se oleosas, nem da ligeira miopia da primeira, do hálito a tabaco de uma terceira, ou do sorriso demasiado aberto de uma quarta, que  deixava ver a prótese no lugar do molar. Criava com elas uma relação de falsa intimidade, contava-lhes coisas como se a contragosto, desmembrava segredos no bocal do telefone, ao correr de um texto. Tornava-se  um amante louco que as comprazia, que as comia à canzana com as palavras,  mantendo com elas uma relação de cuja superficialidade apenas ele se apercebia. Elas achavam tudo perigosamente profundo, a fazer-lhes cócegas na alma, quem sabe o prenúncio de uma vida diferente, nada a que estivessem habituadas, um desvario cauteloso, se existe tal paradoxo. Ele sabia que nada daquilo lhe aquecia ou arrefecia a vida, era apenas um modo de calafetar o tédio que teimava em escapar-lhe pelas noites e de fugir da única mulher cujo rosto não podia evitar.  Atrevia-se até à voz delas, telefonando-lhes, criteriosamente, embora fazendo parecer do seu acto um devaneio do momento. Algumas dessas vozes enlevavam-no de verdade, comoviam-no, até. Roucas, nervosas, meigas, carentes, seguras, zangadas, às vezes despoletavam nele a vontade real  de conhecer as bocas de onde provinham, talvez até as experimentar, às bocas. Sem perigo. Ele não lhes queria os rostos porque uma cara que não se conhece, que nunca se tacteou, cheirou, prescrutou, é uma tela em branco. E uma tela em branco é imaginação e distância, é descompromisso e todas as possibilidades em aberto; é segurança, enfim. Ao princípio, elas acreditavam e correspondiam,  até ao momento em que ele, virando o bico ao prego no jogo de sedução, lhes começava a dar a entender que o assédio partia delas, que partira sempre delas, e declinava-as educadamente. Ele nada tinha para lhes dar, mas elas insistiam em receber. Por isso, estas histórias acabavam sempre mal. Algures lá quase para o fim era costume elas chorarem, confusas, as lágrimas a cairem-lhes pelos rostos que ele nunca quisera conhecer, secas à pressa com as costas das mãos que ele nunca quisera agarrar. Um dia, elas resolveram vingar-se. Há muito tempo que desconfiavam umas das outras, haviam detectado já vários padrões de comportamento comuns,  repetidos, que sabiam esvaziados de qualquer valor primordial. A dada altura, ele mimetizava-se a si próprio, falho de imaginação e entusiasmo, e tornara-se fácil percebê-lo. Juntaram-se todas a bateram-lhe à porta. Iam excessivamente pintadas, as feições propositadamente marcadas e carregadas, para que ele reparasse em cada sobrancelha delineada, em cada madeixa perfumada, em cada boca pintada. Apesar de algum ressaibo, iam calmas e confiantes,  com aquela serenidade que apenas se encontra na antecipação de uma vingança bem sucedida. Com um bocado de sorte, ao se deparar com aqueles rostos em todo o esplendor das suas imperfeições, poderia entrar de tal forma em pânico que ficaria cego, ou ter um ataque de coração. Ou, melhor ainda, morrer de vergonha. Desprevenido, talvez à espera de alguém de família, de um fornecedor, abriu-lhes descontraidamente a porta. Elas  metralharam-no com pupilas e retinas e pestanas, sorrisos de menta,  dentes um bocadinho tortos, narizes sardentos e finos, bocas grossas. Tropeçavam-se, para garantir que ele via uma e cada uma delas. Mas, afinal, onde é que ele estava, porque não o  viam?!  Espreitavam umas por cima das outras, encarrapitadas na sua própria curiosidade, à espera de lhe reconhecerem as feições, o sorriso que as encantava ao telefone, os olhos verdes das fotografias de colégio. Havia em definitivo alguém à frente delas mas... nada. Olharam-se confusas, sem lhe encontrarem qualquer expressão, fosse de reconhecimento, de medo, de surpresa. E então repararam: quem não tinha rosto era ele -  nem boca, nem olhos, nem nariz, queixo;  era uma cara em branco, sem altos ou desníveis, um rosto bidimensional. Não havia ali entrada nenhuma para a alma, apenas   uma superfície plana, sem cicatrizes ou marcas de vida, sem rugas,  quase transparente. E ali ficaram, uma data de rostos enjeitados e impecavelmente maquilhados,  boquiabertos a fitar o vazio. Durou poucos segundos:  é sempre rápida, a noção do desperdício. Deixaram-no agarrado à porta, sem sequer se apresentarem nem lhe dizerem quem era quem e foram juntas ao café da esquina conhecerem-se melhor, afinal, nunca se haviam visto umas às outras, apenas intuído, pela maneira como ele parecia escrever para mulheres sempre diferentes. A noite caía na cidade, e as maquiagens iam-se derretendo-se sob as luzes fortes da pastelaria e o calor das conversas, trazendo a descoberto olhos pequenos e pestanas curtas, sinais escondidos, lábios finos e cabelos em desalinho. Nem por uma vez falaram no homem sem rosto. Mas, nessa tarde, fizeram-se grandes amizades.
 
imagem daqui 

eu sou uma vampira

por Vieira do Mar, em 24.01.10

Na rádio, anunciam uma série original e inovadora, ao que parece composta por vampiros adolescentes. A dada altura, ouve-se uma criatura geração morangos-com-açucar dizer, com a voz carregada de emoção, "sou uma vampira". Se ela dissesse que era uma prateleira de supermercado, talvez acreditássemos. O absurdo risível abancou em definitivo na "ficção nacional".  Não sei quantos anos depois de Entrevistas com o Vampiro, de Crepúsculos, de filmes baseados na saga, de livros a imitar a saga, de séries americanas baseadas na saga... eis que chega agora uma inovadora e original série portuguesa... inspirada na saga. Eu não vejo novelas portuguesas por uma razão: a da credibilidade (ou melhor, a da falta dela). Nas séries portuguesas, jovens rebeldes sacados das ruas fazem sempre de jovens rebeldes, jovens gays tentam parecer hetero e fingem babar-se para cima das protagonistas, engradaçaditas mas invariavelmente sem glamour. E os actores conceituados fazem sempre de eles próprios:  por exemplo, a Helena Isabel faz sempre de Helena Isabel. O que vemos no ecrã são actores portugueses que aparecem nas revistas porque trairam a namorada ou afinfaram uma murraça num paparazzo, a debitarem textos em que tentam passar por outras pessoas. As novelas portuguesas são um desfile de gente com pouco  talento mas de grandes egos que só sabem fazer bem de si próprios. Quando a personagem é radicalmente diferente do actor e implica algum "trabalho de composição",  socorrem-se do estilo revisteiro, assente na gritaria, no espalhafato e na mão na anca, para conseguirem distanciar-se de si próprios. Por isso uma série de vampiros em português, para mim, desce os níveis da credibilidade artística para pârametros nunca vistos. A certeza é tanta que falo sem ter assistido a um único episódio, apenas ao trailer. É certo que a icnografia vampírica me irrita sobremaneira desde sempre (quase tanto como esta palavra: sobremaneira). Só um vampiro mexeu comigo até hoje, e esse foi o Dracula de Bram Stoker, há muitos anos atrás, pela mão do Copolla, mas isso é outra história - uma história para adultos.  O mais engraçado é que esta parvoíce colectiva é desdenhada por muitos adolescentes que conheço (que a acham risível) mas idolatrada por outros tantos adultos, muitos deles gente magoada que perdeu a fé no real e que se alimenta da línguagem virtual dos amores impossíveis.

facebook

por Vieira do Mar, em 20.01.10

Sofia became a fan of Guronsan.

on me dit que le temps qui glisse est un salaud

por Vieira do Mar, em 15.01.10

farinha do mesmo saco

por Vieira do Mar, em 15.01.10

Não admira que Moita Flores dê o seu apoio a Gonçalo Amaral, aquilo é tudo farinha do mesmo saco. Não sei se fui só eu que, quando li o livro deste sobre Maddie, oscilei entre o riso escarninho e a náusea. Também não faço a mínima, se os McCann são ou não culpados mas, se estivesse no lugar deles, atirava com tudo o que fosse procedimento legal contra o pêjota: penal, civil, o que houvesse à disposição para o esmifrar e fazer sofrer. A sanha persecutória da criatura contra o casal é algo patológico e doentio que nada tem a ver com Liberdade de Imprensa. Porque o livro em questão não é a narração de factos em prol do conhecimento público, mas sim a distorção e adulteração dos mesmos, para os fazer caber na tese encasquilhada pelo seu autor. A improbabilidade prática de muitas das teorias que defende, como se fossemos todos parvos e engolíssemos assim, sem mais, a culpabilidade do casal, os buracos na narrativa, as contradições por explicar, nada disso trava Gonçalo Amaral, que se acha uma espécie de Justiceiro, que acerta onde todos os outros falharam e redime a incompetência acusatória do MP.  Quando a esperteza saloia se alia à arrogância e a um naco de poderzinho mediático, pode fazer muitos estragos, alguns irreparáveis.

lá está

por Vieira do Mar, em 14.01.10

Those who live by the sword.

how do I love thee?

por Vieira do Mar, em 14.01.10

 

 How do I love thee? Let me count the ways.
I love thee to the depth and breadth and height
My soul can reach, when feeling out of sight
For the ends of Being and ideal Grace.
I love thee to the level of everyday's
Most quiet need, by sun and candle-light.
I love thee freely, as men strive for Right;
I love thee purely, as they turn from Praise.
I love thee with a passion put to use
In my old griefs, and with my childhood's faith.
I love thee with a love I seemed to lose
With my lost saints, --- I love thee with the breath,
Smiles, tears, of all my life! --- and, if God choose,
I shall but love thee better after death.

 

   (Elizabeth Barret Browning)

 

à atenção

por Vieira do Mar, em 14.01.10

da Rititi:

 


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