momento pantene
E depois havia aquela coisa do cabelo dele, de lhe poder mexer, do prazer que lhe dava revolvê-lo e fazê-lo seu, às vezes puxá-lo até, como lhe puxavam o dela quando de quatro e de costas. Uma das coisas que sempre detestara nos antigos namorados era quando resolviam rapar o cabelo curto, quando iam à máquina zero, ou um ou dois, e se sentiam mais machos por isso, qualquer coisa de GI Joes, nunca percebera muito bem. Não gostava dos crâneos alvos, das orelhas salientes nem das curvaturas daquelas nucas masculinas sem segredos para contar. Mas ele tinha cabelo, um cabelo escuro e fino onde dava gozo enfiar as mãos e cofiar por uma eternidade, enquanto ela por baixo. Era então que aproveitava e espraiava os dedos, escorregando-lhos pela franja que lhe caía para a testa, enfiando-os por dentro enquanto ele a fitava no escuro, os olhos azuis muito colados ao rosto dela, tentando, por um lado descortinar-lhe os planos (que por acaso eram nenhuns), e, por outro, que ela o entendesse (o que era inútil). Um ritual importantíssimo para ela, aquilo, nem ele imaginava o gozo sensorial que lhe dava, nem as ilações absurdas que dali retirava, deitando contas à vida, enquanto alisava, agarrava e cheirava. Não fazia a mínima ideia se se continuariam a ver ou se tudo acabaria ali, mas o cabelo dele, naquela noite cativo das suas mãos gulosas, foi por momentos um excelente indicativo.