um eu fugido de mim
Por acaso até vinha cá falar da execrável Ferreira Leite e do subitamente medíocre RAP, mas de repente acontecem coisas esquisitas na nossa vida, que não sabemos bem como classificar e que, de alguma forma, nos sugam durante uns dias. É como se no nosso sistema de arquivos, suponhamos, ordenado alfabeticamente, nos faltasse um separador com a letra, sei lá, dê, e de repente nos surgisse uma situação começada por essa mesma letra; e que, por mais voltas que lhe demos, encalhemos sempre na puta da única letra que não consta do nosso património de memórias possíveis. E a gente anda por ali, com a coisa na mão, a abrir e a fechar gavetas, sem saber onde encaixá-la, sem conseguir arrumá-la noutra letra qualquer, sem saber se há de rir ou de chorar, se foi bom ou mau, se valeu ou não a pena. Em última instância, com o nada pela frente, rasgamos tudo ou amassamo-lo e atiramo-lo em bola para o cesto do esquecimento, ao mesmo tempo que pensamos, atordoados pela estranheza de nós próprios, mas que raio me passou pela cabeça? É, às vezes, acontece-nos sermos uma letra fora do alfabeto. Nos últimos dias, fui uma espécie de eu fugido de mim. E não gostei.