lady oh my dog
Esta miúda, apesar de ter o blogue com o nome mais disparatado que conheço (bom, diz o roto ao nu), tem muita graça.
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Esta miúda, apesar de ter o blogue com o nome mais disparatado que conheço (bom, diz o roto ao nu), tem muita graça.
Não é de todo bipolar, nem sequer ciclotímica, descansa-me o médico, sorrindo, isso é mais feitio do que outra coisa. Suspiro de alívio, mas isto de oscilar entre o comportamento obsessivo e o profundo desprezo pelo alheio, consome-me demasiadas energias. Convivo diariamente com o paradoxo mental de ser uma criatura aérea e esquecida, incapaz de fixar uma data, uma cara, um nome, de reparar num boi à sua frente, nas tintas para quase tudo em geral e para a maioria das pessoas em particular, mas com uma acentuada tendência para a compulsão e para devotar temporariamente a minha súbita e excessiva atenção a um determinado objecto, se para tanto estiver para aí virada. Se calhar, não há contradição: o modo superficial e distraído com que olho para o resto do mundo, faz com que consiga investir atentamente - para dizer o mínimo - naquilo que, por qualquer razão, me interessa. O pior é o resto, é essa por qualquer razão, que, por vezes, não é boa nem avisada (é seguir em frente para a prisão sem passar pela casa de partida, que o tom pseudo confessional deste blogue está insuportável, eu sei, deve ser da canícula algarvia).
a família e os amigos mais próximos, aqueles que não pedem licença para entrar, a maioria das pessoas afasta-se da tristeza alheia como se da peste ou de uma outra qualquer doença contagiosa. Só somos socialmente aceitáveis enquanto derramamos alegria, jovialidade, sentido de humor. Uma tristeza abertamente confessada é uma debilidade, um aleijão do qual os outros acham que devemos libertar-nos o mais rapidamente possível, para que fiquemos novamente bem, isto é, para que eles próprios (que levam, por qualquer razão, com a nossa presença) se sintam confortáveis. A tristeza é um incómodo, um empecilho, um obstáculo a ultrapassar ou, pura e simplesmente, a ignorar. Estar triste é próprio de uma criatura pusilânime que demonstra abertamente a sua inferioridade, não um estado de alma normal - e até saudável, de quando em vez. São raros, os indivíduos dispostos a arcar com a tristeza dos outros de forma a lhes aliviar o fardo, e que não os queiram imediatamente animar, ou seja, curá-los da doença de se estar triste. Há que se ser permanentemente a alma da festa, espirituoso, atraente, sorridente, corrosivo, forte, engraçado, irónico, surpreendente, para se merecer a atenção e a admiração de terceiros - para se ser gostado, mesmo que de um modo superficial e en passant. Isto, nas relações que se constroem via net, é particularmente notório. Embora, na verdade, as pessoas sejam susceptíveis de ser estúpidas em qualquer lado.
Este post está muito, muito, muito bom.
A lembrança dos risos deles vai de encontro às paredes do quarto, tropeça num eco imaginário e rasa os ténis sujos que deixaram espalhados no soalho, riscado de tanto nele arrastarem coisas inúteis, enquanto a mão invisível da saudade me aperta o peito e me impede de respirar. Para evitar ensurdecer com o silêncio, ou pura e simplesmente morrer, vou à sala, ponho a música alta e cantarolo pela casa como se não fosse nada, mas agora eles já estão em todo o lado: no frasco dos chocapics há dias por esvaziar, nas fatias de limiano por encetar, nos danoninhos fora de prazo, nas toalhas empilhadas no banco da casa-de-banho, e não encharcadas em cima das camas, nos champôs com as tampas postas, no rebordo do lavatório sem bocados de pasta de dentes, no tapete do corredor direito ao milímetro, em vez de enrodilhado a um canto depois de um slide, nos comandos arrumados lado a lado e que costumam estar perdidos nos interstícios do sofá, na mesa da sala livre de migalhas, dedadas de chocolate e solas de sapatos, no pacote de leite guardado no frigorífico e não a azedar cá fora, no quarto arejado que cheira à rua lá em baixo, em vez de a suor e a pés como depois de um dia de corridas felizes. Os quadros estão perfeitamente alinhados com a superfície dos móveis e os arcos das portas; ultimamente, ninguém passou por eles a correr de braços abertos como se voasse. No quarto dela, o gato dorme em cima da colcha, esticada e sem um vinco, como se nunca uma adolescente ali se tivesse contorcido e revirado em gargalhadas soltas e insanes, horas e horas ao telemóvel, os pés parede acima, a cabeça virada para baixo, a cabeleira dourada a lamber a carpete rosa, o mundo é meu e dos meus amigos e o resto que se lixe. O skate, debaixo da cama, e não atravessado perigosamente no meu caminho, os microfones do singstar, enrolados nos próprios fios e arrumados ao lado da playstation, que por sua vez está recolhida atrás da televisão, penso até que já com um ligeiro lastro de pó. Olho em volta, conto os dias que faltam, ajeito-lhes as almofadas e vou ficando por ali, a guitarra do mais velho muda e queda a olhar para mim, mas mesmo assim a fazer barulho, muito mais barulho do que a música que vem da sala. É uma tristeza em esquadria, a minha, aprumadinha, milimétrica e lavada de fresco.
(gosto muito da Pink)
de homens certinhos, daqueles que cumprem os seus deveres, trabalham, pagam os impostos, seguem rotinas, amam a terra e o mar. Gosto de homens fiáveis, com força, com um projecto de vida, que gostem de filhos mesmo que não os tenham. Não gosto de homens erráticos, que se comportam como o estereótipo geralmente associado às mulheres, incoerentes, que dão o dito pelo não dito, que perdem o controlo e arranham como gatas. Gosto de homens nos quais a loucura corre subterrânea. Que apenas me mostrem breves relances dos seus temporários desnortes. No fundo, gosto de homens que sejam um bocado como o homem que uma parte de mim também é.
em quase seis anos de blogoesfera, nunca me tinha acontecido nada igual. Extraordinário, a sério. Eu, que me gabo de ter olho para as pessoas... Quer dizer, por aqui já me enganei pelo menos uma vez; esta será a segunda. Mas isto não foi um engano, foi um verdadeiro disparate - uma calamidade em forma de gente, credo. Mais uma vez, salva-me o humor e a risota à conta de mim mesma, palise. Pronto, não posso contar mais, agora é seguir em frente que atrás vem gente.