sasha baron cohen explica
a David Letterman como conseguiu entrevistar um terrorista islâmico em "Bruno":
(e ele é tão tão giro)
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a David Letterman como conseguiu entrevistar um terrorista islâmico em "Bruno":
(e ele é tão tão giro)
Ando cheia de inveja do amor dos outros. Invejo, por exemplo, o casalinho obeso que passa por mim de mão dada; ela, com um top de riscas horizontais que lhe alarga ainda mais a cintura indefinida, a lambuzar-se num corneto de morango; ele, o cabelo oleoso laboriosamente puxado para trás, os calções por baixo do joelho, atarefado a lamber a colherzinha com que rapara o copo do epá, entretanto atirado para o chão. Passam por mim deixando no ar um ligeiro perfume a alegria simplória e a essência barata, e afirmam-se orgulhosamente como um só aos olhos dos outros, fazendo coincidir o clap clap clap das chanatas que arrastam nos pés inchados, cobertos de dedos gordos e pequeninos. Olho-os com a raiva que só os que já amaram e foram um dia muito amados conseguem sentir: é uma espécie de despeito, misturado com uma sensação de perda e de luto. Vejo-os afastarem-se, os traseiros pesados numa coreografia deselegante, e penso que dava tudo para que alguém me agarrasse assim de novo a mão, como quando não reparamos que nos estão a dar a mão e há apenas aquele difuso bem-estar que advém de tudo encaixado nos devidos sítios e de a brisa, na cara. No fundo, é isto: não ter noção da felicidade que se sente naquele preciso momento, não saber sequer que tem esse nome, e não reparar no suor que escorre por entre os dedos do namorado, que apertam os da namorada com um orgulho rechonchudo, desafiando o mundo em geral e a brisa na cara em particular.
Parece que o 31 da Armada trocou a bandeira que ostenta o edifício da Câmara Municipal de Lisboa por uma outra, monárquica. Parece que um ou mais deles terão entretanto sido constituídos arguidos, porque o que fizeram é crime (e eles sabiam-no). Também parece que acusam António Costa e as autoridades de falta de sentido de humor, por terem levado a palhaçada a sério, não terem rido muito e não terem deixado cair o assunto, fechando os olhos à ilegalidade. Ficamos assim a saber que, para os membros do 31 da Armada, seus leitores e fãs, e também para alguns monárquicos (imagino que não todos), podemos cometer um crime e devemos ficar impunes desde que, um, o anunciemos num blogue, dois, sejamos originais e irreverentes quanto ao modus faciendi, e três, que o pratiquemos com presuntiva graça.
Há um conceito em direito penal muito controvertido que é o do crime continuado. Significa mais ou menos que, quando o agente é confrontado várias vezes e de forma seguida com a mesma solicitação exterior, por isso incorrendo repetidamente no mesmo tipo de ilícito, a lei considera que ele comete, não vários, mas apenas um crime que se prolonga no tempo, vendo assim atenuada a sua culpa. Da mesma forma, existe o engano continuado, que aparentemente não é uma filha da putice tão grande como inúmeros enganozinhos pequenininhos, porque o agente se limita a reagir sempre da mesma forma perante a tal solicitação exterior. No caso, esta mais não é do que uma predisposição da vítima em ser ludibriada, uma e outra vez. Muitas vezes, não é por ser estúpida, mas porque quer muito acreditar em todas as mentirinhas que lhe vão sendo despejadas em cima: porque está carente, porque é boa pessoa, porque não tem mais nada que fazer, porque acha que do agente até pode advir qualquer coisa boa se raspar bem lá no fundo. Tal como na ideia de crime continuado, o engano continuado assenta num pressuposto nunca confessado nem admitido, o da provocação, ou seja, a de que o enganado, ao não cessar fazer cessar o engano, ao não abrir os olhos e ao continuar a pôr-se a jeito, está mesmo a pedi-las. E, apesar de me repugnar esta ideia de transferência parcial da responsabilidade para a vítima ou para uma situação externa ao próprio agente, não deixa de ser verdade que pode haver um estranho e doce prazer em deixarmo-nos levar numa mentira que se prolonga no tempo e que assume diversas matizes a cada vez que, sem a necessária convicção, tentamos fugir-lhe.
Mas que conversa é esta do ponto de exclamação?! Está tudo parvo ou quê?! Eu gosto do ponto de exclamação. Gosto, por exemplo, daqueles blogues de miudagem que não sabe escrever doutra maneira, que o faz como se estivesse sempre aos pulinhos, numa grande excitação, em confidências e recadinhos parvos que acabam invariavelmente em exclamações e reticências, como é próprio da vida adolescente, mesmo quando se trata de uma adolescência tardia. Gosto do entusiasmo pueril que traduz, do ênfase, da determinação, da raiva, do êxtase, do excesso, da inconsequência. Às vezes, apetece gritar quando se escreve, caramba!
Babylon, Zeca Baleiro
Num ataque de insanidade temporária, resolvo arrastar a família para a "Feira do Livro e do Artesanato" no passeio (?) de Quarteira. É uma coisa quase pavloviana: falam-me em artesanato e eu estou lá, a encher-me de colchas indianas, mesinhas pintadas à mão e brincos coloridos que me descem até aos ombros, a regatear, se preciso for, em hindu ou num dialecto árabe qualquer que nunca aprendi, como aqueles possuídos que recitam em aramaico. É claro que, no caso em apreço, a pobreza artística era tal que acabei por me concentrar apenas em sair rapidamente do meio da multidão, que se atulhava em rajás e gomas, para o reduto civilizacional mais próximo (no caso, Vilamoura). E, enquanto fugia e tentava desesperadamente salvar os meus de mais uma cigana com malas tipo Guess, constatei um facto interessante que deveria ser aprofundado, quiça objecto de tese académica: o povo tem uns canitos horríveis.
só queria dizer que peço muita muita desculpa, mas que sempre embirrei solenemente com o Raúl Solnado.
... porque acho que estou com a gripe. Ai.
(febre, dores de garganta e erros ortográficos de algibeira)
Quando o amor ainda existe mas está doente, seca tudo à sua volta, como a fúria dos eucaliptais que medram. No entanto, e apesar de todas as evidências em contrário que ultimamente me têm entrado vida dentro, continuo a acreditar que aquele amor inesperado e contra-corrente, que às vezes surge e borbulha por entre as adversidades que nos coalham os dias, pode ser pura e simplesmente salvífico.