such a lovely place such a lovely face
Ter um filho de 13 anos que toca guitarra e é doido por rockalhadas dos anos oitenta deu nisto: fui arrastada sem dó nem piedade para o concerto dos Eagles no Pavilhão Atlântico. A função até correu bem, muito profissional, uma data de homenzarrada cheia de rugas mas com energia para dar e vender, muita guitarra eléctrica gira (gosto de guitarras eléctricas, deve ser qualquer coisa sexual, Freud explica), uns efeitos especiais totally eighties (nem faltou a famosa luz negra) e um Hotel Califórnia cantado em coro com o puto que me deixou de lágrima à espreita. Porque eu a lembrar-me que devia ter a idade dele quando decorei aquilo tudo, cantava-o pelo Campo Grande fora com as minhas amigas, a caminho de casa, o papel com a letra rabiscada na mão, warm smell of colitas, sem saber o que seriam colitas, talvez flores?, e de imaginar a história daquele hotel como um filme de terror, dali nunca mais se saía, uma coisa assim tipo Bates Motel (sim, na altura dava muito Hitchcock na erretepê). E, hoje, trinta anos depois, ele a meu lado de olhos fechados, a cantar e a dedilhar uma guitarra imaginária, e eu a pensar que uma canção, por mais que passe de modo exaustivo em todas as rádios comerciais até quase se tornar música de elevador, tem de ser muito boa para resistir assim ao tempo, para passar de mãe para filho sem qualquer testemunho de permeio. E é assim, é isto a que me refiro quando falo de felicidade: um momento fugaz que se vive num refrão gritado em conjunto e em dois sorrisos branqueados pela incidência da luz negra, such a lovely place such a lovely face.