armas rombas, falhas tácticas e gente ferida
Era por isso que ela o queria ver de perto, farejá-lo primeiro como um bicho desconfiado e amá-lo depois sem condições: para se assegurar da loucura que lhe bailava nos olhos; essa loucura onde se via e reconhecia como num espelho, essa desordem súbita que lhes enevoava por vezes o discernimento e lhes deitava tudo a perder por dá cá aquela palha. Havia neles um desarranjo interior selvagem e violento, que num momento tudo queria mas depois tudo perdia só porque sim, um buraco negro onde nenhuma lógica matemática os poderia salvar, uma loucura enredada em si mesma, em círculos a morder-se a cauda, um desvario que acalmavam com o envio, para as suas guerras interiores, de milhares de pequenos soldados seguros de si e razoáveis. Cada um com o seu exército carregado das defesas possíveis, porque aquilo eram mais armas rombas, falhas tácticas e gente ferida do que outra coisa. Travavam quase diariamente batalhas sangrentas onde combatiam desejos enegrecidos e a vontade de renegar uma felicidade prospectiva por pura teimosia, como se viver fosse um jogo arbitrado por um fraco que, a pedido, lhes concedesse segundas e terceiras oportunidades para fazerem as jogadas certas, fechando os olhos às erradas. Não é.