my thoughts exactly
Por que será que estas coisas só acontecem a Norte?, pergunta Eduardo Pitta.
Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]
Por que será que estas coisas só acontecem a Norte?, pergunta Eduardo Pitta.
A Catarina é a Catarina. Figadal e de coração na boca, desmesurada quando tem de o ser, com uma escrita desregrada e visceral, inconfundível, única, como ela mesma. Temos muitas coisas em comum e esse efeito-espellho até poderia ter feito com que não nos gramássemos, mas ainda bem que aconteceu o contrário. A blogoesfera deu-me muitas coisas boas e ela foi uma delas, sem dúvida. Apesar de escrever muito bem, ajudada por um sentido crítico como conheço poucos, gosto mais da Catarina do que daquilo que ela escreve. Os melhores momentos com ela não são nos blogues nem por causa deles, são nos almoços, nas conversas a esplanar, ao telefone às três da manhã, nas alegrias e nas merdas. Às tantas, os blogues só são importantes porque nos dão as pessoas que têm dentro, e eu tenho que agradecer à blogoesfera, em especial ao 100 nada, que fez seis anos e que é um dos blogues portugueses mais antigos, por me ter trazido a Catarina.
volta à carga (desta vez, felizmente, sem a grosseria do tutoyer), acusando-me de ter prestado um lip service a Sócrates, meu chefe, com o post de baixo. Se não tivesse tido um dia de merda, ter-lhe-ia muito a dizer; no entanto, como me sinto cansadita e me estou basicamente na tintas para o Filipe (embora nem tanto para as centenas de leitores que aqui chegaram hoje à sua conta), lá vai, muito depressinha.
1º A última vez que vi, Sócrates não era meu chefe, nem directa nem indirectamente, portanto, quanto muito, o alegado lip service só poderia resultar de uma paixão minha não correspondida pelo nosso grande líder.
2º Também da última vez que conferi, um lip service implicava a difusão de factos fantasiosos para agradar ao chefe, sendo que não vejo onde possa estar aqui a fantasia. Na verdade, poderia lincar (poupem-me, vá) várias notícias que seguem o seguinte raciocínio silogístico: Sócrates é mau para a educação - Sócrates manda na Ministra, logo, a Ministra é má para para a educação - os professores estão descontentes com a educação - os professores estão stressados por causa do descontentamento com a educação - os professores perdem a cabeça nas aulas porque estão stressados - Sócrates é o culpado pelos professores perderem a cabeça nas aulas. Simples.
3º Por último, não percebo como posso ser acusada de lamber as botas ao chefe Sócrates (embora não tenha nada contra lamber as botas em geral, reparem); Filipe, seguramente desatento - apesar de denotar uma certa persistência na minha virtual pessoa -, não terá reparado que escrevi isto ou isto , só a título de exemplo. Achar que trabalho para Sócrates e que lhe lambo as botas é, não só um erro crasso de interpretação deste blogue, como uma vergonha para qualquer groupie meu que se preze, Filipe, shame on you.
O episódio da professora maluca não me deixa propriamente pasma de horror; choca-me mais que a dita, segundo afirma a dada altura por entre perdigotos raivosos, ter mais seis anos de escolaridade para além do 12º ano e, não obstante, dizer fizestes e amiguíssimos. Professores chanfrados é o que há mais, principalmente no secundário, em que é preciso ser-se muito bem estruturado psicologicamente para se aguentar com turmas de adolescentes a transbordar de hormonas desafiadoras. Tenho neste momento dois filhos no liceu, um numa escola pública, outro numa privada supostamente conceituada, e os episódios de prepotência amalucada e desgovernada de representantes da classe docente são tantos e tão variados que nós, pais, já nem nos damos ao trabalho de fazer queixa, limitando-nos a fornecer aos miúdos algumas guidelines para que se saibam defender - o que passa basicamente por fazerem ouvidos de mercador quando é preciso, desvalorizando os dislates. É claro que o comportamento grosseiro e intimidante da criatura é aberrante e deve ser punido, até porque é ela, naquele momento, a responsável por uma turma de miúdos de 12 anos que estão a penar com aquele triste espectáculo; mas, se é verdade que é nosso dever protegê-los, há aqui também uma liçãozinha de vida que podem aproveitar: é que o mundo é muito feito de gente desta laia, só que uns disfarçam melhor que outros, e há que ir treinando as jovens cabecinhas para separarem o trigo do joio e deitarem fora o que não presta, ao menos metaforicamente. De resto, a tutela fez o que devia, parece-me: perante as evidências, suspendeu a louca chanfrada, pelo que não percebo porque é que os arautos do costume insistem em culpar Sócrates e/ou a Ministra da Educação, santa paciência. Depois não querem que o homem se arme em vítima.
Tenho terror das lavagens automáticas. A sério, cada vez que penso em lavar a merda do carro, tenho que vencer os meus demónios mais profundos. Começa logo no alinhar da roda com a calha, acho sempre que não estou a acertar no sítio; o empregado a fazer-me sinal para não travar e não mexer no volante e aquilo a fazer tum tum tum tum, e eu, ai que já lixei o pneu, o volante a fugir todo para a direita em vez de ficar direitinho como devia, ai que vou marrar contra a parede, vou vou, ai meu deus. Depois as escovas a virem na minha direcção, a aproximarem-se ameaçadoras e eu, ai mãezinha, com medo de ser degolada por aquelas cerdas gigantes que giram enlouquecidas, prestes a entrarem pelo pára-brisas dentro. Imagino-me a gritar e o empregado a não me ver nem ouvir, o que resta de mim a afogar-se e a dissolver-se na cascata ameaçadora de espuma detergente… Ponho a música alta, agarro-me ao telemóvel e tento ignorar a violência dos jactos de água e o carro a avançar em soluços penosos, mas o coração acelera-se-me inevitavelmente perante a visão daquela espécie de cutelo gigante da horizontal, que seca a carroçaria. Nesse momento, tenho que me amarrar ao banco para não desatar a correr dali para fora; é que eu juraria que aquilo vai bater no vidro, vai bater no vidro, foda-se!, que isto não sobe o suficiente, o carro está a avançar e isto vai bater o vidro e esborrachar-me a cara. Desliza-me o pé nervosinho para o travão e só não travo porque, adivinhem?, à minha frente está um letreiro gigante a dizer “não trave”. Estes últimos momentos, aliás, são especialmente aflitivos porque o carro, a cada impulso que a calha lhe vai dando para a frente, descai um bocado para trás e eu, pronto é agora. Então, encolho-me toda de olhos fechados, a música num exagero de decibéis, à espera da morte certa. O ritmo cardíaco só abranda após o sacão final dali para fora quando o sinal fica verde, que no caso do sítio onde vou nem fica, porque está fundido há anos e eu tenho que adivinhar quando posso sair, o que não abona nada a favor da minha reduzida confiança na eficácia do equipamento. Quando vou com os miúdos, a cena torna-se ainda mais patética, comigo a tentar aparentar uma segurança destemida que não tenho e eles a fingirem que gostam e que acham graça, provavelmente também com medo de serem devorados pela tribo das escovas malucas e os seus ataques de espuma assassina. Como eu, na idade deles (e é assim que se criam traumas de infância).
wrapped around your finger.
Estou cheia de vergonha indirecta pela Bárbara Guimarães, juro, acho que até ruboresci. A mulher é patética, e os manéis só podem ter decidido gozar com ela, ao enfornarem-na naquela coisa dourada, a ideia deve ter sido fazê-la parecer um globo de ouro em tamanho natural. Quase não aguentei ver aquele abanar de rabo na escadaria. Aliás, todo o espectáculo é deprimente, desde a velha carcaça da Suzana Vieira com as habituais tretas para português ouvir, até ao triste número do Jorge Palma, com o auge da deprimência no já habitual momento "Eunice Muñoz", feito de pausas embaraçosas e frases esquisitas, inacessíveis aos simples mortais que somos nós, os espectadores. Detesto a pose e a conversa, sempre detestei, quero lá saber se é ou não uma grande actriz. O Ruy de Carvalho também me enerva, não sei porquê. E aquele rapaz do Equador, giro todos os dias, ainda por cima não está, olha que pena. Mas o Nuno Lopes esteve muito bem. E depois há aquelas bocas políticas, contra os ministros da cultura e mais não sei o quê. Nunca percebi bem do que se queixam, presumo que queiram o dinheiro dos meus impostos para exercerem a sua criatividade artística. E todos tão sérios, credo. Que falta faz o Herman José nestas coisas.
Foi então que ela percebeu. Estavam sentados na esplanada, numa tarde que prometia mais Verão do que aquele que de facto dava, a gozarem os minutos surripiados a outra coisa qualquer e a fazerem conversa fácil. Nada na coreografia banal com que acompanhavam as palavras fazia adivinhar a intimidade que os burilava por dentro e muito menos o assanhado dos gestos de horas antes. A incongruência corria-lhes fundo, por baixo de camadas de superfície. Enquanto ele falava, ela notou o cheiro do jasmim que tropeçava e caía pelo ar em socalcos adocicados, enquanto as suas hastes de flores pequenas e brancas se contorciam num caramanchão próximo. Interessava-lhe medianamente o que ele fazia, e sabia o suficiente de homens para perceber que estes precisam que as mulheres os valorizem, por vezes mais do que gostem deles, por isso ouvia-o com alguma atenção. Embora guardasse dentro dos olhos um carinho que resolvera travestir de ironia, por causa das coisas. Ele achava que o que fazia o tornava mais interessante aos olhos dos outros, logo, aos olhos dela, sem perceber que ela o escutaria da mesma forma se ele um trolha que estivesse a educá-la na consistência ideal do cimento-cola ou nas vantagens do tijolo de quinze. Estava a aprender, gostava de quem a estava a ensinar, e isso bastava-lhe. De repente, algures pelo meio do entusiasmo por si mesmo, voou-lhe um perdigoto que lhe assentou mesmo no meio do lábio inferior. Continuou a falar sem reparar no pormenor, que é um tipo de pormenor um bocadinho nojento, como quando ficamos com restos de espinafre entre os dentes e nos rimos para os restantes comensais, que nos olham entre o embaraço, a vontade de nos avisar e a náusea. Ela fixou-se naquele pontinho de cuspo branco, que brilhava translúcido por obra e graça da obliquidade precoce do sol da tarde, e pensou, embora sem realmente pensar em nada, lambia-te isso, agora. E foi aqui, neste exacto momento, no momento que precedeu aquele em que a língua dele varou os lábios e fez desaparecer o perdigoto solitário, que percebeu que estava perdida. Irremediavelmente perdida. Para se distrair do absurdo da constatação, inalou com redobrada convicção o jasmim em queda pelo ar e lembrou-se de como detestava aquele cheiro que quase a fazia vomitar. Sempre fora uma enjoadinha.
* Vinicius, claro, também de improviso, fora de contexto e muito por acaso
devo ser a única criatura no ginásio que faz passadeira ao som de R&B e bossanova. E que não usa fio dental.