Francamente, não me incomoda por aí além a falta de isenção jornalística de Moura Guedes; tudo o que for um arremedo de oposição ao governo, por estes dias, parece-me bem. Saudável, pelo menos. Cada um joga com as armas que tem, e as de quem está no poder num determinado momento são sempre poderosas, por isso que venha o contraditório, sob que forma for. Por outro lado, não suporto o cacarejo demagógico e oportunista de Marinho Pinto, que tanto agrada (obviamente) ao povão, que acha que foi bem feito, a gaja estava a pedi-las (atenção: o facto de se tratar de uma mulher não é despiciendo). Na verdade, o que não suporto mesmo é ver a Justiça portuguesa entregue a carroceiros das berças. Porque, devido a uma estranha conjugação astral, neste momento é o que temos, em especial ao nível dos mais altos representantes dos agentes judiciários.
Ela desbaratava-se, consumia-se inútil, uma vela acesa num quarto vazio, procurando-o por nome, apelido e actividade profissional, sabendo quando chegava, quando se ia e nada lhe dizia, só não sabendo porque nada lhe dizia, num entretém masoquista em círculos, no qual se mordia a cauda. Puxava para si os fios que a ele conduziam, seguindo-o nos fóruns, nas opiniões das quais discordava, nos gostos que não os seus, mantendo intacta a necessidade de lhe participar a inquietação, de o notificar da dificuldade por vezes em adormecer, outras em se levantar, bem como da persistência dos cheiros, que se elevavam acima da ausência da Primavera, e das coisas que teimavam em assumir outras formas, como ele preso dentro dela, em construção, um navio feito de fósforos estrangulado numa garrafa de vidro.