bola
As minhas breves incursões pelo futebol português redundam invariavelmente na perplexidade. Hoje foi dia de Sporting-Benfica cá em casa, tudo comme il faut, acompanhado de minis, acajús, amendoins e tremoços, com uma larga maioria benfiquista um tudo nada boçal e alarve a rodear a beta ligeiramente sportinguista que já aqui referir ser eu própria. Fiz um esforço para me imbuir do espírito, juro. Bebi duas ou três cervejas, apliquei o calão próprio da tribo aos árbitros e a um ou outro jogador e vi (como toda a gente) que foi uma injustiça o Benfica ganhar. Reparei, no entanto, num pequeno pormenor em que já reparara nas outras (poucas) vezes em que me focalizei numa partida de futebol entre dois ditos grandes clubes portugueses: está sempre tudo no chão e em noventa minutos pouco ou nada se joga. Há sempre um jogador, ou no ar ou a rebolar no chão, que se agarra às canelas num esgar de dor, que grita, que chora, que coxeia, que faz queixinhas; e há sempre árbitros a conferenciarem, a escreverem coisas em papelinhos, a ouvirem as queixinhas dos jogadores e a mostrarem cartões a este e àquele; e fiscais de linha num desassossego para trás e para a frente, com as suas bandeirinhas a adejarem; e o jogo constantemente interrompido, os jogadores parados a cuspirem para o ar ou a discutirem uns com os outros ou com o árbitro, que mais parecem umas meninas. E quase nunca ninguém a fazer, por um período decente e corrido de tempo, aquilo que devia estar ali a fazer: a chutar a bola, com jogadas minimamente inteligentes, organizadas e consequentes, na direcção da baliza contrária.