then I asked you to dance
(com os Duran Duran a coisa piava mais fino. vindos a Portugal pela mão desse nosso Jay Leno - embora sem o sentido de humor - que era o Júlio Isidro, os grupos da new wave britânica sucediam-se cá no burgo e fingiam que tocavam num estúdio para os lados do Lumiar. ali, debaixo do calor infernal dos holofotes, umas dúzias de adolescentes bem comportadas e sem direito a histerias - era o inicio dos oitenta, a liberdade começava ainda a espreguiçar-se - os aplaudiam com a devida contenção, embora o coração aos pulos e algumas até um bocadinho molhadas, que raio é isto que sinto entre as pernas, eles ali tão perto que quase lhes podíamos tocar. cada uma tinha o seu, assim se evitando quaisquer conflitos derivados da posse. eu, claro, escolhi o mais alto de todos, o guitarrista*, uma criatura escanzelada de ar andrógino, que achava lindo de morrer. graças à generosidade da mãe de uma amiga que trabalhava na RTP, fui uma das felizardas naquele estúdio pobrezinho do Lumiar com direito a autógrafo no final, por entre o mutismo e indiferença do escanzelado e um agradecimento meu em inglês feito com uma pronúncia pedante que pretendia imitar a do Sebastian do Brideshead Revisited, série que então passava na televisão. sim, a televisão era muito o centro do nosso mundo, credo. antes tivesse ensaiado uma pronúncia das docas e dado uma de Eliza antes de pigmaliada pelo professor, se calhar tinha-me safado melhor, ao menos ele percebia. bom, mas o que interessa é que esta continua a ser uma boa canção para arrancar suspiros, desde que fechemos os olhos e esqueçamos as poses, as cabeleiras, os maneirismos e os atavios.)
*adenda: recebi entretanto este esclarecimento da Carlota, que agradeço (a senilidade já começa a fazer das suas) e que não resisto em transcrever: " (...) relativamente aos DD, o mais alto era o 'baixista'. Ainda o sei porque com o guitarrista - o mais feio - fiquei eu, que fui a última a escolher no meu grupo de amigas."