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Controversa Maresia

um blogue de Sofia Vieira

Controversa Maresia

um blogue de Sofia Vieira

darwin estava errado

por Vieira do Mar, em 28.02.09

 

Filho-criança (benfiquista, como não?), ao almoço, após  tentativa falhada de aliciamento para uma tarde passada na exposição sobre Darwin na Gulbenkian, os duzentos anos, Galápagos, os macacos e assim:

 

- Mãe, o Paulo Bento é a prova de que a teoria da evolução estava errada.

voltando à vaca fria

por Vieira do Mar, em 28.02.09

Lendo a blogoesfera, temos por um lado os que acham que aquilo foi um arremedo de censura bacoca; por outro, os que acham que a PSP não tinha obviamente a obrigação de conhecer Courbet nem de saber que aquilo é "arte", pelo que a sua intervenção foi, digamos, legítima, pois visou evitar uma espécie de mal maior. Neste último caso, quem assim pensa fá-lo com sobranceria, como se tivesse descoberto a pólvora, demonstrando compreensão para com os pobres pais de Braga, coitados, imaginando-os a taparem os olhos esbugalhados dos Carlinhos e dos Manelinhos que, no remanso domingueiro, foram de repente confrontados com a crueza de um pipi no seu estado natural, tão diferente daqueles rapados a cera das brasileiras das casas de alterne que os papás seguramente frequentam. Coitados destes e coitadinha da PSP, que nunca foi ao Museu D´Orsay e que só tentou conter a calamidade pública que se adivinhava. Estes,  os que insinuam ter muito mundo e perceber das coisas, e que vêm o Portugal profundo  das suas tocas à Lapa e à Graça com vista para o Tejo, os que acham que Sacavém é outro país, são os que não fazem a mais puta ideia da profunda ignorância e estupidez das polícias da província e do modo como condicionam a vida das populações e de como são um factor efectivo de não-progresso. Mas eu entendo que, quando o mundo se resume à internet e à fnac do Chiado, não se saiba que o país é quase todo ele a periferia de uma enorme província, e que mesmo à beirinha de Lisboa haja milhares de pessoas que não sabem ler. É claro que esta gente vê mal a coisa, mas os outros não a vêem melhor. "Censura" coisa nenhuma; não atribuam à nossa pobre polícia tamanho pathos, por favor! Eu explico. Por cada “ocorrência” a que um polícia assiste, ele levanta um auto que fica arquivado na esquadra respectiva, caso não dê origem a um processo, por exemplo crime ou contra -ordenação. Ora, eu já li muitos autos. Quanto a este, e pelo que vislumbrei da imagem que apareceu na tv, nem sequer o nome do livro apreendido souberam escrever: escreveram "Pornografia", em vez de "Pornocracia" - e para ler uma palavra polissilábica não é preciso ter um curso de história da arte, apenas o ensino básico. Estes pequenos pormenores são reveladores e eu adoraria ter lido todo o auto, de certeza que encontraria verdadeiras pérolas. Como já encontrei nos inúmeros autos das várias polícias que ao longo dos anos me foram passando pelas mãos. Desde o cão perigoso que era de raça “rotguilas” (em vez de rottweiller), à arma do crime, um chicote que, na descrição técnica do graduado de serviço era “tipo piça de boi”, pequenos exemplos da mais rematada ignorância e falta de formação das nossas polícias, a todos os níveis. Como polícias de trânsito que escrevem mal as marcas dos carros que nem sequer conhecem, que não sabem o que é um GPS, que confundem um motociclo com um ciclomotor (distinção fundamental para encaixar num ou noutro tipo de crime, por exemplo) e que dizem “iamaia” referindo-se a uma Yamaha. Isto como profissional, porque depois, como cidadã, tenho o reverso da medalha: polícias que me quiseram prender porque eu disse educadamente que não concordava com a autuação de um pai que estacionara mal para ir, num minuto, entregar o filho bebé à escola num dia de chuva; e que, quando eu lhes perguntei “mas o senhor agente vai lavrar isso em auto?”, me responderam, “Eu não lavro nada que não sou lavrador, sou agente da autoridade!”; polícias que mandam parar um carro novo para lhe testarem os faróis, cegos para os tunners que passam ao lado a acelerarem os carros quitados; que mandam parar uma mãe numa familiar às seis da tarde num bairro residencial movimentado e a obrigam a retirar todas as cadeirinhas, sacos, cobertores e restante parafernália toddler só para lhe verem o triângulo. Tudo dentro da legalidade mas tudo profundamente estúpido, mesquinho, um abuso de poder, do poderzinho pequenino que lhes é conferido para, essencialmente, poderem chatear o cidadão pagante. Gente que não tem a menor noção do que é o serviço público, do que é servir o público. É por isso que acho uma desgraça, que um graduado qualquer que caiu de pára-quedas no centro de Braga, mesmo que (naturalmente) nunca tenha ouvido falar em Courbet, não tenha parado um momento para reflectir, não tenha tentado chegar à fala com o comandante, ou com o comandante do comandante, ou com um MP ou um juiz (sim, eu sei: estão vocês a pensar que não é garantia de upgrade na escala evolutiva, mas quanto mais não seja levaram com um curso superior em cima, mais uma data de estágios, por muito pouco mundo que também tenham), e que, cheio de medinho (porque aquilo foi mais medinho que outra coisa: miúfa, é o que vos digo, de que os paizinhos de Braga partissem logo ali para a ignorância: é que ia livros, ia livreiro, ia clientes, ia cona, ia tudo, que aquela gente do norte não é para brincadeiras… vejam lá quantas portagens eles pagam!). E isso é que é triste - que, perante a ignorância, não tivessem tentado informar-se em vez de fazerem de imediato um juízo de valor que descambou no lapsus calami que foi a troca do nome do livro; e que, perante a ameaça de desacato, tivessem preferido apreender o dito, porque assim acabavam-se os problemas. E é esta gente que nos multa, que nos guarda, que supostamente nos protege, que não sabe lidar com as pessoas nem com as situações, que não sabe nada de nada, que não tem a humildade de se informar e de tentar saber, que se verga perante os mais fortes lá da terra (os pais de braga, os padres, os autarcas), e que faz usualmente disparate quando há qualquer tentativa de exercício da mais normal cidadania por parte dos contribuintes. Esta é a questão, e é isto que é trágico. O resto é barulho das luzes e gente a falar do que não sabe.

then I asked you to dance

por Vieira do Mar, em 26.02.09

 

 (com os Duran Duran a coisa piava mais fino. vindos a Portugal  pela mão desse nosso Jay Leno - embora sem o sentido de humor -  que  era  o Júlio Isidro,  os grupos da new wave britânica sucediam-se cá no burgo e fingiam que tocavam num estúdio para os lados do Lumiar. ali,  debaixo do calor infernal dos holofotes, umas dúzias de adolescentes bem comportadas e sem direito a histerias - era o inicio dos oitenta, a liberdade  começava ainda a espreguiçar-se -  os aplaudiam com a devida contenção, embora o coração aos pulos e algumas até um bocadinho molhadas, que raio é isto que sinto entre as pernas, eles ali tão perto que quase lhes podíamos tocar. cada uma tinha o seu,  assim se evitando quaisquer conflitos derivados da posse. eu,  claro, escolhi o mais alto de todos, o guitarrista*, uma criatura escanzelada de ar andrógino, que achava lindo de morrer. graças à generosidade da  mãe de uma amiga que trabalhava na RTP, fui uma das felizardas naquele estúdio pobrezinho do Lumiar com direito a autógrafo no final, por entre o mutismo e indiferença do escanzelado e um agradecimento meu em inglês feito com uma pronúncia pedante que pretendia imitar a do Sebastian do Brideshead Revisited, série que então passava na televisão. sim, a televisão era muito o centro do nosso mundo, credo. antes tivesse ensaiado uma pronúncia das docas e dado uma de Eliza antes de pigmaliada pelo professor, se calhar tinha-me safado melhor, ao menos ele percebia. bom, mas o que interessa é que esta continua a ser uma boa canção para arrancar suspiros, desde que  fechemos os olhos e esqueçamos as poses, as cabeleiras, os maneirismos e os atavios.)

 

 

 

*adenda: recebi entretanto este esclarecimento da Carlota, que agradeço (a senilidade já começa a fazer das suas)  e que não resisto em transcrever: " (...) relativamente aos DD, o mais alto era o 'baixista'. Ainda o sei porque com o guitarrista - o mais feio - fiquei eu, que fui a última a escolher no meu grupo de amigas."

and do all the things I told you

por Vieira do Mar, em 26.02.09

 

 

 

(lembro-me exactamente da primeira vez que ouvi isto, às vezes acontece. não conhecia o wilson pickett, estava em casa de uma amiga e o irmão mais velho tinha trazido o Flesh & Blood de Inglaterra nesse fim-de-semana. a capa tinha duas gajas boas - com os Roxy Music,  as gajas eram sempre boas - a atirarem um dardo, tipo olimpíadas. depois vieram os telediscos e teve início a minha fase brian ferry, que foi consideravelmente longa. achava-o lindo, charmoso, um príncipe com idade para ser meu pai. acho que foi a única vez que me apaixonei por um homem mais velho. eu era a miúda do Avalon, lembram-se?, aquela modelo linda sem peso específico, de olhos verdes e pousar etéreo, que rodopiava pelo castelo. vi-a mais tarde num ou dois filmes menores, parece que não teve sucesso. numa época em que os rapazes se uniformizavam com blusões de ganga, ténis converse e gangas justas, um homem a sério usar smoking branco, papillon e ter aqueles tiques de crooner  inadaptado, era irresistível. pelo menos para aquelas, como eu, que desbastavam tudo o que então aparecia, à procura de qualquer coisa de diferente que saísse do redil cultural de gosto mais do que duvidoso que foram os anos oitenta)

as conas de braga

por Vieira do Mar, em 25.02.09

 

"Há, manifestamente, falta de cona em Portugal."

não...

por Vieira do Mar, em 25.02.09

... ainda não vi mais nenhum dos oscarizados, mas posso desde já afirmar com toda a certeza e do alto da minha ignorância que o Estranho Caso de Benjamin Button foi o melhor filme do ano.

chegar a casa

por Vieira do Mar, em 25.02.09

Vermes de inquietação. Nódulos não identificados na pele dos dias, germinando. Um minuto, uma hora a mais e nada volta a ser como dantes. Nunca é. O instante perfeito, o momento em que tudo faz sentido e se encaixa. Ou não tudo, talvez só um bocadinho desse tudo, o entrosamento cósmico de meia dúzia de pedaços desgarrados de gente, gente carregada de bagagem que traz outros às costas e que por isso não está inteira. Um evocar nada manso de eternidades nos pequenos gestos. A deriva que deixa de o ser, mas não o encalhar: antes o aportar, o chegar a casa. Apesar de amputados, a sentirmos ainda a perna, o formigueiro por ela acima, a vontade de pôr o pé no chão e desencabrestar a correr. Abrir a vida e ver o que está lá dentro. É isso: abrir a vida.

óscares VII

por Vieira do Mar, em 23.02.09

Milk deve ser óptimo, tem tudo para o ser. Steven Spielberg apresenta o melhor filme, e eu lembrei-me de que foi entretanto distinguido com um razzie pela pior sequela de 2008 com o seu quarto Indiana Jones, Eu, fã incondicional de Spielberg e da trilogia inicial, confirmo-o: Indiana Jones e o reino da caveira de cristal é um dos piores filmes que vi no ano passado, credo, que coisa mais parva. Mais um óscar para slumdog millionaire e acabou-se, até para o ano, que este não teve grande piada, francamente, que falta de luxo e de brilho. Mas amanhã vou ao cinema.

óscares VI

por Vieira do Mar, em 23.02.09

Grande Jerry Lewis, Saravá!  A Alicia Keys está linda de morrer, a parva. E a Hale Berry também. Não sei como é que estas gajas fazem para ficarem ainda mais magras e giras depois de parirem, francamente Ainda não vi o filme do Danny Boyle, mas tenho de ir ver a correr,  está a papar isto tudo. Esta maneira de apresentar os actores, com outros actores solenemente no palco,  é um bocadinho embaraçosa porque prolonga a lamechice do momento. Bravo, Kate Winslet! Sean Penn, que seja ele, adoro o Sean Penn...Yes!

óscares V

por Vieira do Mar, em 23.02.09

Não gosto nada do vestido da Jessica Biel, apesar de à rapariga lhe ficar bem qualquer trapinho, de tão gira que é. Estou a ficar com sono, acho que já não tenho idade para isto. Aqui ao meu lado adormeceu tudo, o que não ajuda. O numerozinho com a Beyoncé não me convenceu, não gostei. Ah, esperem... coreografado pelo Baz Luhrmann? Pronto, está explicado o desgosto: não suporto a parafernália kitsch dos seus filmes nem as suas coreografias histéricas. Heath Ledger, merecidíssimo, um personagem perturbador e denso num filme menor.

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