crónicas dos pequenos delitos

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Há uns tempos, recebi um telefonema (era sábado de manhã) de um doutor qualquer coisa que vinha da parte do Grupo Pestana. Parece que alguém com a mesma profissão que eu (embora eu nem conhecesse tal pessoa) me havia recomendado para fazer parte de um exclusivíssimo clube que dá inúmeras vantagens aos frequentadores dos hotéis e pousadas do Grupo Pestana. Apesar do timbre saloio de vendedor de aspiradores ao domicílio, resolvi ouvir o que o doutor tinha para me oferecer, dado que sempre fui adepta das escapadinhas de fim-de-semana nas antigas pousadas da Enatur (what else?, com três filhos nunca se pode fugir por muito tempo nem para muito longe). Depois de alguma conversa fiada em que me introduziu aos fabulosos descontos e vantagens de que poderia usufruir a troco de uma anuidade de 150 euros (?!), pediu-me os meus dados pessoais. Comecei por lhe dizer o básico, nada que não pudesse encontrar na lista telefónica ou numa dessas bases de dados que ilegalmente passam de empresa para empresa, até que ele me pede os dados do cartão de crédito para debitar a anuidade. Assim mesmo. Pergunto-lhe se está a falar a sério, se acha que vou dar os dados do meu cartão pelo telefone a alguém que não imagino quem seja, que terei de comprovar primeiro que ele é quem diz, etc. . Depois de muita lamúria pseudo-indignada (que já me começava seriamente a chatear), lá concordou em enviar-me por mail um formulário que eu preencheria e devolveria, depois de confirmar a morada. Passaram-se dois ou três dias, e foi então que o assédio começou. Como o doutor me ligara do Funchal, foi-me fácil saber, pelo indicativo, quando era ele (ou alguém a mando dele) que me ligava. E ele ligava. Ligava de manhã, à tarde, ao almoço, ao jantar, várias vezes por dia (cheguei a contar oito vezes num dia). Nas primeiras vezes ainda atendi, explicando que não tivera tempo de analisar nem de preencher aquilo, que tinha de pensar melhor, falar com o meu marido, afinal ainda eram 150 euros que teria de largar por ano. De nada valeu. Interrompia-me reuniões, jantares, acordava-me aos sábados às nove da manhã. Um dia, por fim, atendi e disse-lhe que, devido à forma agressiva e inconveniente da abordagem, já não estava interessada. Pediu muitas desculpas mas mesmo assim insistiu, afirmando que as coisas seriam diferentes, que a culpa era da secretária e o camandro. Tive que penar para conseguir desligar, pensando que nem nos gloriosos tempos das vendas em time-share fora alguma vez assim atacada.
"A crise financeira trocada em moedas de cinco cêntimos", III parte.
Eu e Cillit Bang: o início de uma bela amizade.
Outra piada. A actual Lei das Armas (Lei n.º 5/2006) é um diploma absurdo que, entre outras coisas, prevê a posse e o uso de objectos como os "aerossóis" ou as "bestas", mas que não prevê especicamente, em nenhuma das suas intermináveis alíneas, a arma mais comum usada pelos agentes de crimes contra a propriedade em Portugal: a pistola de alarme transformada numa letal 6.35 mm pelo engenho e carolice da rapaziada, e que é vendida quase às claras em todas as feiras do relógio deste país. Agora, esta ideia peregrina da prisão preventiva. E eu só gostava que me explicassem - para começo de conversa - como, levando o Laboratório de Polícia Científica da PJ cerca de dois a três anos para proceder ao exame pericial de uma arma apreendida (ou seja, dois a três anos para nos dizer quais as especificações e características da mesma, por forma a sabermos em qual das alíneas se enquadra, pois a punição varia), como, dizia eu, é que isso se vai coadunar com as quarenta e oito horas que um juiz tem para imputar a prática de um dos crimes previstos na dita lei a um arguido, e de seguida aplicar-lhe a prisão preventiva.
A Catarina explica aqui e aqui, de forma brilhante, as origens e razões da crise económica actual, prestando um serviço público tão bom que devia ser bestialmente paga para o fazer. Eu, uma verdadeira totó em economia cujo racicínio matemático-financeiro se esgota no acto de saber o montante do saldo negativo, agradeço-lhe penhoradamente a explicação inteligente, concisa e muito engraçada. É nestas alturas que me reconcilio com os blogs, que ultimamente me irritam com tanta politiquice, pedantice, redundância e falta de humor. Como diria a minha querida Rititas, os meus amigos são muito mas muito melhores que os teus.
Suite para violoncelo N.º 1 de Bach (Prelúdio), Rostropovich.
(o embedding está desactivado, daí o link)
Cry me a River, Dinah Washington.