"I´m a dog person"
A Oprah fez um programa sobre as puppy mills, as fábricas de cachorros nos EUA,: uma realidade escabrosa, onde cães vivem em coelheiras só com o fim de se reproduzirem, sem carinho, condições de higiene, e num sofrimento profundo. Muitos, quando resgatados, não sabem andar no chão, pois estiveram toda vida sobre grades; não ladram, porque lhes enfiaram tubos pela garganta para lhes danificarem as cordas vocais; e as fêmeas têm tumores nas maminhas por amamentarem demais no meio da porcaria e da lama. O programa mostra a bondade e a carolice de gente dos abrigos de animais , que os salva do inferno, dando-lhes cuidados médicos, um espaço para brincarem e muito amor, após o que os encaminha para adopção. Depois de alguns minutos ficamos com a certeza de que, se existe um céu, está reservado para estas pessoas. É claro que há uma manipulação sentimental à boa maneira americana, eficaz e profissional (fartei-me de chorar), o que em nada desmerece da bondade da coisa, em todos os sentidos. Não sei se aqui em Portugal existem fábricas de cachorros destas, que vêem os animais como um produto de consumo rápido - até porque não haverá mercado suficiente paras escoar a produção em massa. Mas haverá criadores mais e menos responsáveis que, no meio do campo, violarão os direitos dos animais em nome de um lucro mais fácil. Por esta razão, sempre torci o nariz a comprar cães nas lojas dos centros comerciais, embora uma ou outra vez tenha cedido à tentação. Verdade se diga que compensei o pecado com a recolha de alguns canitos abandonados, todos rafeiros (rafeiros não: de raça promenade-mijon, como diria uma amiga). Mas a perspectiva de poder estar a contribuir para um comércio cruel revolve-me o estômago, em especial depois de ter visto este programa. Para mim os cães são animais extraordinários cuja companhia enriquece brutalmente os humanos. Para quem tem condições para os ter e está a pensar nisso, aconselho vivamente, em especial se houver crianças ao barulho: os miúdos interiorizam mais facilmente conceitos como companheirismo, altruísmo, responsabilidade, o respeito pelos animais em geral e pela natureza. Mas, se estão a pensar em comprar um daqueles lindos e de porte principesco que custam uma pipa de massa, de uma daquelas raças muito na moda que impressionam os pategos, vão primeiro a um abrigo de animais. Há imensos espalhados por Portugal fora (basta googlar), porque neste país podem não existir fábricas, mas existem caçadores e novos-ricos, todos grandes gebos, que abandonam os cães à beira das auto-estradas quando estes deixam de servir para farejar coelhos ou quando começam a dar maçada com tanta vacina, desparasitação e passeios à rua. Até podem encontrar lá a raça que procuram porque, quando se trata de os abandonar a labregada não distingue, quer é ver-se livre de. E uma coisa vos garanto: um animal que tenham salvo vai dispensar-vos um amor incondicional, eternamente grato (e uma lambidela molhada e agradecida é uma coisa muito gratificante, apesar de um bocadinho nojentinha, vá). Podem começar já ali pelo blogue da Isabela, que tem dois raferinhos para dar.