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Controversa Maresia

um blogue de Sofia Vieira

Controversa Maresia

um blogue de Sofia Vieira

divórcio

por Vieira do Mar, em 30.09.08

Estou a ouvir o Prós e Contras sobre a nova lei do divórcio e acho extraordinário: esta gente que fala de pais e mães responsáveis, de cônjuges que dialogam,  de partilhas justas, de crianças felizes, vive num país que não é de certeza o meu. Não conheço o diploma em pormenor; sei, como toda a gente, que arreda a noção de culpa e permite o divórcio unilateral. Compreendo perfeitamente a posição de Rita Lobo Xavier que, embora tenha alguma dificuldade em ser convincente (o sotaque dondoca não ajuda), é a única que parece reconhecer o país que temos. Há um indivíduo com tiques homossexuais, agressivo e irritante, que quer à viva força que toda a gente se separe, o que se compreende. Há uma mediadora que, contra todas as probabilidades e atenta a profissão que tem, é uma idealista no estado puro. Há uma jurista com sotaque madeirense, um bocado colérica, que diz não se rever na mulher portuguesa dos anos setenta. Melhor para ela; esquece-se no entanto que mulheres dos anos setenta (cinquenta? sessenta?) é o que temos para aí mais e que é a elas que a lei se vai aplicar. Parece que quase todos acham bem que a guarda dos menores seja, por regra, conjunta, o que é  hilariante. Há uma advogada na assistência muito sensata, com quem é fácil criar empatia, e que quando intervém fá-lo acertadamente. Facilitar o divórcio parece-me bem, ninguém deve ser obrigado a ficar casado se não quer. Mas esta gente esquece-se de que, nos moldes em que pelos vistos a lei o prevê e neste país em concreto, isso significará a desprotecção da mulher e dos filhos,  dependentes,  e a impunidade do macho agressor, do pai relapso, do marido ausente. E estes são uma fatia muito significativa dos casamentos portugueses. Quais diálogos ou acordos, quais guardas conjuntas ou responsabilidades parentais, tenham a santa paciência! Os casos em que o diálogo entre dois divorciados resulta são uma insignificante minoria. Há, isso sim, muitas mulheres exploradas e muitos maridos, bêbados ou sóbrios, desempregados ou ricos, irresponsáveis e egoístas, que não querem saber, que não dão um tostão aos filhos e que não descansam enquanto não tiram às mulheres a parte que lhes cabe no pecúlio conjugal. E que são a maioria, porque o país é atrasado e é assim. Mas o mais triste é que, no debate que estou a ver, são as mulheres as que menos se interessam por esta realidade - que pelos vistos acham despicienda ou residual - e que é chamada à colação (vejam bem!) por um ou dois dos homens presentes. Mais uma vez o PS, na sanha de deixar marca, mete o carro à frente dos bois. Cheira-me a grande confusão. Mas, pior ainda, cheira-me que as desgraçadas das mulheres por esse país fora, que tocam para a frente a casa e os filhos sem saberem bem como, estão ainda mais lixadas e desprotegidas do que já estavam. É que não bastava a vergonhosa impunidade criminal da violência doméstica... Decididamente, este não é um governo amigo das mulheres.

alguns homens

por Vieira do Mar, em 29.09.08

 Era miúda quando, num daqueles filmes antigos que passavam a toda a hora na RTP, o vi pela primeira vez. Já não me lembro exactamente qual seria o filme,  só sei que, bronzeado e em tronco nu, um deus,  preparava-se para saltar do cimo de uma prancha. Naquele breve  momento em que ficou ali imóvel a eternizar a Beleza num televisor a preto e branco, o meu coração bateu mais depressa,  parei de respirar  (juro) e posso garantir que qualquer coisa aconteceu um bocadinho mais abaixo, um formigueiro secreto que me fez apertar as pernas. Foi aí que eu e o desejo físico fomos apresentados.  Mas só muito tempo depois, a  pungente perseguição que Maggie move, casa fora, ao escorregadio e indiferente Brick , me fez algum sentido, embora então, nesses anos remotos de alegre despreocupação amorosa,  eu ainda não tivesse experimentado na carne aquele desespero suicida dela, que por vezes sobrecarrega o desejo como um fardo. É claro que isto só faz sentido com alguns homens, poucos (muito poucos).

 

 

...

por Vieira do Mar, em 29.09.08

E porque não um spa em Auschwitz?

 

A ler,  o Rui Bebiano, n´A terceira Noite.

dá-lhe o "S 26 HA" com o biberão Dior e pronto, querida

por Vieira do Mar, em 23.09.08

AS PIRADAS DA MAMA.

 

A propósito, aqui vai breve diálogo pós-parto com puérpera e enfermeira de hospital particular (este aspecto é importante), sendo que aquela acabava de ter um terceiro filho com o módico peso  de quatro quilos e meio e uns maneirinhos cinquenta e três centímetros de comprimento, pelo simpático método de cesariana (à santa epidural, ajoelhai e rezai).

 

Enfermeira (de ora em diante designada por "parva") - Mãe, já lhe trago o seu bebé para começarmos a dar de mamar....

 

(note-se o uso carinhoso-impositivo da primeira pessoa do plural e a despersonalização obtida com o uso da palavra mãe)

 

Puérpera - Ai não traz não, que eu não me consigo mexer para me virar de lado, nem sequer para me chegar para cima; aliás, quase nem consigo respirar e  só a perspectiva de poder ter vontade de tossir me dá arrepios... isto dói imenso... dê-lhe suplemento, está bem?

 

("suplemento" é um eufemismo para "biberão de leite artificial" que contém ínsito um juízo de censura desmotivante:  como o nome indica, serve  para complementar a mama em caso de necessidade e não  primeiro e exclusivo alimento do bebé, nem pensar)

 

Parva - Nã nã nã nã... Oh mãe, como é que pode pensar em fazer uma coisa dessas ao seu filho?! Das outras vezes não amamentou?

 

Puérpera - Sim, mas...

 

Parva - E o leite não era bom?

 

Puérpera - Era, mas...

 

Parva - Então, deixe-se de coisas e faça lá esse sacrificiozinho pelo seu filho! Ele merece, não acha?!

 

(....)

 

Poupo-vos à resposta que se seguiu. Só vos digo que uma gaja que acabou de parir e que, já sem o efeito da santa epidural,  se contorce com dores por ter as entranhas repuxadas e acabadas de coser, não se encontra especialmente receptiva as juízos moralistas vindos de  "profissionais de saúde" parolas e fundamentalistas, que ainda por cima resolvem teimar e não percebem à primeira. Aquilo foi uma devastação que ficou nos anais do dito hospital.

 

Ah, e já agora: o puto  não-alimentado-a-leite-materno manteve-se sempre nos percentis máximos, aprendeu a ler e a escrever sozinho aos cinco anos,  é o melhor aluno da escola dele e joga futebol que se farta. Só por acaso, mas é um facto.

 

adenda: a propósito, recebi dois ou três mails de mães-cesarianas que se questionavam sobre as tantas dores que eu alegadamente sentia. O tom, comum a todas, é mais ou menos este:  Vieira, eu não sou fundamentalista e dei de mamar porque quis mas… as dores eram assim tantas que a impedissem de se virar de lado e amamentar o seu filho?!

Ora, como devem imaginar, não vou responder a tal questão, e muito menos escarrapachar a intimidades das minhas entranhas doridas perante desconhecidos - em especial perante quem, não sendo fundamentalista, põe em causa a bondade das minhas excruciantes dores na altura.  Até porque as razões médicas das mesmas são perfeitamente secundárias ao tema sendo que não, não foram desculpa para não amamentar, como parece ser insinuado aqui e ali. Aliás, não tivesse eu dores e se calhar teria optado por não amamentar de todo, e só porque talvez me tivesse apetecido assim. Como disse o meu obstetra, um homem com muitos anos daquilo e um imenso bom-senso, deixe lá a mama que o miúdo já nasceu criado.   Dar mama pode ser bom, mau ou nem tanto, e não dar, idem. Cada um sabe de si.
 
Embora (confesso) me arrepie um bocadinho ler essas taradas que andam aí pela NET a escrever posts com putos de dois anos agarrados aos mamilos a descreverem esses momentos de intimidade a dois como autênticos encontros eróticos. Safa.

 

dignitas

por Vieira do Mar, em 17.09.08

 

" O Presidente da República pediu esta tarde aos agentes políticos para fazerem o que está ao seu alcance para garantir a dignidade do exercício da função judicial. O apelo de Cavaco Silva foi a principal mensagem levada pelo Chefe de Estado à cerimónia comemorativa dos 175 anos do Supremo Tribunal de Justiça. (...)"Apelo aos magistrados que continuem a estar à altura do seu estatuto, como apelo a todos, começando pelos agentes políticos, para que tudo façam para garantir a dignidade do exercício da função judicial."
 
Eu por acaso também quero pedir ao Senhor Presidente da República...
 
 

 

 

... que tudo faça para garantir a dignidade do exercício da função presidencial.

 

 

 

 

o meu marido

por Vieira do Mar, em 12.09.08

"Dizer o meu marido, é-me tão natural como respirar. Sempre o foi, desde quando andávamos à bofetada pelas esquinas esconsas do colégio, a limpar o ranho à manga dos bibes. Os nossos caminhos cruzaram-se mesmo quando tudo mas tudo fizemos para nos apartarmos, cientes embora da inevitabilidade magnética que sempre nos atraiu para as profundezas um do outro. Somos dois astronautas de pés de chumbo em guerra com a falta de gravidade do amor, embora cientes da absoluta gravidade dos mergulhos constantes no vazio atmosférico da carne exasperada. Trepamos um pelo outro como se disso dependesse a nossa sobrevivência, encontramo-nos sempre a meio do caminho e, quando nos desviamos, chocamos um com o outro porque não cessamos de fugir para o mesmo impossível lado. Nunca por nunca duvidámos de que os nossos destinos se entrelaçariam como cipós centenários e que acabaríamos a fazer bebés um com o outro e um para o outro, apesar dos choques frontais aos quais sobrevivemos trôpegos, da falta de airbags e da serenidade necessária à construção de uma vida qualquer coisa em comum. Também nunca tivemos juizo que bastasse e sempre reflectimos pouco nos passos de gigante que demos e nos lugares importantes onde aterrámos de mãos dadas e a pensar na morte de outras bezerras. Esquecemo-nos amiúde das datas que importam e não usamos aliança no dedo porque nenhum de nós gosta de apertos. Reconhecemo-nos iguais desde o dia em que nascemos e até muito antes disso: somos almas gémeas que se reencontram uma e outra e outra vez, cumprindo um karma cósmico e um ritual de enamoramento perene, próprios de todas as almas resignadas que se sabem gémeas e não se importam. Tanta porrada no rinque da vida e é certo e seguro que na próxima reencarnação viremos travestidos de insectos, daqueles com uma esperança de vida sazonal e irrisória, e se calhar cruzamo-nos algures numa folha, ele a subir e eu a descer, e o mais provável é desviarmo-nos para o mesmo lado, acabarmos por chocar e fazermos mais bebés, dando origem a uma espécie hibrida desconhecida da ciência, muito populosa e colorida. Mais certo ainda é acabarmos os nossos parcos dias a lambermo-nos os sucos esverdeados que nos escorrem das carapaças após termos sido esmagados por um transeunte gigante. O meu marido, particípio passado do meu futuro longínquo, não é só o meu amor, o meu amigo, o meu companheiro e quaisquer outras balelas do género que me apeteça agora inventar: ele entranhou-se-me na pele desde o início dos tempos e pegou-se-me às entranhas desde o big bang primordial; se preciso for, como-lhe os olhos e os nervos ópticos dele entram-me que nem ginjas na corrente sanguínea. Somos uma espécie de experiência científica de ADN modificado a espiralar pelo universo, a reboque de baba e vísceras; somos bichos selvagens que se catam pelas constelações fora, cão maior, ursa menor e vice-versa. Somos a saliva, os flatos, as crostas e as azias um do outro, e não há romantismo nem dia dos namorados que nos salve. Não obstante, oferecemo-nos rosas e vamos ao cinema."

 

Fevereiro de 2005

 

(para a T.D., espero que sirva)

muito bom

por Vieira do Mar, em 09.09.08

Via A Natureza do Mal descobri isto. Uma excelente discussão sobre os meandros jurídicos que ajuda os leigos (com paciência para lerem com atenção para além do lixo despejado pelos media em geral e da demagogia dos opinion makers em particular )  a perceberem melhor o que está em jogo no caso Pedroso. E, por favor, parem lá de fazer do homem uma vítima imolada no altar sacrificial da  (in)justiça portuguesa... Com tanta instância de recurso prevista na Lei - facto que potencia decisões várias e  eventualmente contraditórias entre si -, alguém pode efectivamente afirmar com toda a certeza onde se encontra a verdade material de um caso? Mais fácil se torna descortinar onde se encontram os bons advogados: é só seguir  o rasto absolutório, até à instância final,  de quem lhes pode pagar .

você desagua em mim e eu oceano

por Vieira do Mar, em 06.09.08

dos males o menor

por Vieira do Mar, em 04.09.08

 

 

 

 

 

 

Vote for Obama.

Wall E

por Vieira do Mar, em 04.09.08

Os tipos da Disney Pixar passaram-se.

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