o simão e a filipa
Vê-se que o simão é o macho da casa. A filipa fica o tempo da entrevista numa posição subalterna, sentada de lado, prestes a servir e virada para ele, parecendo beber-lhe as pérolas de sabedoria, a cabeleira loura num ligeiríssimo assentimento. Nota-se o esforço que faz para mostrar ao simão que concorda com ele em tudo, tudo. Fala pouco, a filipa, e é obviamente insegura. Quando o faz, é quase logo interrompida pelo simão, que a corrige. Ainda ensaia um pequeno defeito, que lhe aponta a medo, e faz uma ou outra sugestão, mas ele não a deixa acabar, ela percebe lá disso. A filipa encolhe-se e baixa a cabeça, mas ainda consegue dizer para as câmaras que, para o filho mais pequeno, a distância não existe: quando precisa de qualquer coisa do pai vai ter com este a madrid. Felizmente para ele, apanhar um avião é como apanhar um táxi. Algo me diz que a filipa, muito preocupada com a impressão que causa no seu precioso marido, não se preocupa nada com o aumento dos combustíveis nem com o previsível colapso da economia mundial. Baixa a cabeça, filipa.
