a corrente que morre já aqui
por Vieira do Mar, em 25.02.08
Pois, minha querida, que pergunta lixada, mesmo que a inventar a resposta. O que é que me inspira a escrever? O amor, a falta dele, o escárnio, o mal-dizer, uma forma de me terapiar? É que eu, ao contrário de ti, minha linda, tenho pouca imaginação, pelo que preciso de ir mendigar o que escrevo à realidade. Uma situação ou uma pessoa, bem concretas, e a partir daí discorro, deixo-me levar – não pela imaginação, mas pelo que sei sobre (embora às vezes me engane rotundamente, uma desgraça). É à alegria que vou geralmente buscar as palavras: nada melhor do que pegar num assunto sério e baralhá-lo, reinventá-lo, estraçalhá-lo, só pelo gozo. Escrever sabe muito melhor quando se está bem-disposto (como tudo na vida, aliás) E não, não gosto dos meus textos tristes, nunca os releio; embora já tenha chegado a escrever coisas tristes estando feliz, apenas – lá está – porque me deixei levar. A gente nunca sabe onde é que um texto pode ir parar: às vezes começa alegre e optimista e acaba numa estrada triste, num beco sem saída; outras, o contrário. Podia estar nisto horas mas, no fundo, o que eu quero dizer é que só sei que preciso disto como pão para a boca (e pronto, porque já sabes como eu sou com as correntes).