o rancor do rústico
por Vieira do Mar, em 07.02.08
O inenarrável Moita Flores persiste nas prestações televisivas carregadas daquele seu inexplicável rancor contra os McCann. Hoje, na SIC, parecia o taxista de Rogério Alves. Este, ao lado, transpirava inteligência e pedigree jurídico. Moita Flores é um rústico, mas um rústico perigoso, que fala ao coração do povo e o acicata. E o povo, já se sabe, quer sangue e quer que aqueles pais sejam culpados de, com um bocadinho de sorte, terem infligido uma morte o mais atroz possível à filha. O povo é assim e Moita Flores é, ele próprio, muito povo (e até um bocadinho mais). Aquele ar desdenhoso de quem conhece os misterious ways da polícia judiciária, de quem sabe das obscuras razões da culpabilidade dos Mc Cann mas não diz. Só que não sabe nada. É um balofo, que se limita a verbalizar uma raiva estranha e mal-contida contra gente que não conhece de lado nenhum - e a verbalizá-la mal. Além disso, tem um emprego: é Presidente de uma Câmara que deve dar algum trabalho, a de Santarém, pelo que não percebo como consegue estar nos estúdios da televisão, pelo menos, duas vezes por semana, de manhã (segundo me contou uma insuspeita cabeleireira), em pleno horário de expediente, a vomitar postas de pescada para domésticas deslumbradas e reformados desatentos. Portanto, Moita Flores, presidente da Câmara de Santarém, faz da luta contra o casal McCann uma espécie de modo de vida e, pelos vistos, pagam-lhe para isso. Não se aplicará aqui uma qualquer lei das incompatibilidades? Uminha? Não haverá aqui um artiguinho, um só, que se aplique a esta bandalheira e o pulverize de vez, legítima e legalmente, para fora dos ecrãs? Ou então, pronto, está bem: bastava-me que um munícipe scalabitano descesse a Lisboa, lhe enfiasse um bom pontapé no rabo e o recambiasse para casa, a ver se ele fazia qualquer coisa e animava aquela cidade, que francamente parece um túmulo.