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por Vieira do Mar, em 25.01.08
aquele segundo,
aquele bocadinho de tempo em que o cérebro cai em si e dá a ordem, mas já não é possível aos dedos, às mãos, voltarem para trás; aquele momento em que a ponta do dedo, a ponta mais remota do dedo, a mais afastada do centro da mão; e em que a unha, a parte mais branca da unha, arredondada, polida, arranjada, roída, toca no botão, na tecla que acciona a bomba, o cogumelo alucinado, uma explosão de letras; aquele micro nano pico zepto não sei das quantas, em que as falanges se estendem, desobedientes, e a linha da vida se desdobra e se alisa, no intuito de mais uma vez se cumprir. Aquela fracção cósmica antes da qual ainda achamos que tudo é possível e em que nos percorre o fervor religioso da verdade, porque não, porque não dizer tudo. E, agarrada à cauda daquele momento como restos de nebulosas, a brusca percepção do que acabámos de permitir; a consciência de qualquer coisa de irreversível, de uma flor arrancada à terra, da onda que nunca mais aquela, da gaivota que acabou de passar num canto impossível do céu, dos verbos para sempre conjugados. Quando o que queremos é agarrar no mundo e empurrá-lo para trás, reverter-lhe a rotação, e vermos a verdade recolher-se ao ventre de onde saiu, puta que a pariu.
aquele bocadinho de tempo em que o cérebro cai em si e dá a ordem, mas já não é possível aos dedos, às mãos, voltarem para trás; aquele momento em que a ponta do dedo, a ponta mais remota do dedo, a mais afastada do centro da mão; e em que a unha, a parte mais branca da unha, arredondada, polida, arranjada, roída, toca no botão, na tecla que acciona a bomba, o cogumelo alucinado, uma explosão de letras; aquele micro nano pico zepto não sei das quantas, em que as falanges se estendem, desobedientes, e a linha da vida se desdobra e se alisa, no intuito de mais uma vez se cumprir. Aquela fracção cósmica antes da qual ainda achamos que tudo é possível e em que nos percorre o fervor religioso da verdade, porque não, porque não dizer tudo. E, agarrada à cauda daquele momento como restos de nebulosas, a brusca percepção do que acabámos de permitir; a consciência de qualquer coisa de irreversível, de uma flor arrancada à terra, da onda que nunca mais aquela, da gaivota que acabou de passar num canto impossível do céu, dos verbos para sempre conjugados. Quando o que queremos é agarrar no mundo e empurrá-lo para trás, reverter-lhe a rotação, e vermos a verdade recolher-se ao ventre de onde saiu, puta que a pariu.