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por Vieira do Mar, em 11.12.07
Está diferente, o Natal, não sei. Talvez pela bonança que se seguiu, pela presença subtil dos fantasmas do natal passado ou, pura e simplesmente, pelo cansaço físico que se exaure pelas pontas dos meus dedos. Cada vez mais, uma coisa que sinto, e menos uma coisa que digo. Cada vez menos importantes, o barulho das luzes, as compras e toda a parafernália estridente que acompanha a época. Na verdade, este é um Natal que não precisa de se chamado assim e que não carece de reconhecimento, porque eu já o sei: uma rampa para a renovação familiar e amorosa, com inclinação acentuada e derrapanço no final. Não me apetece as prendas, os coros, as filhozes. Apetece-me estar, ficar pela vizinhança, dispor do meu escasso tempo e partilhá-lo com eles; aliás, dar-lhes todo o meu tempo e gozar a mansa serenidade de os ter por perto, com saúde. E, vá lá, uma mágoa fininha por não ser crente e por não ver, no Natal, algo mais e de mais profundo do que esta pobre felicidade oblíqua, que me atravessa de igual modo o resto do ano, a cada vez que nos vejo à volta de uma mesa ou abancados num sofá que de tão usado já incorpora em si, como se assim viesse de fábrica, a forma dos rabos de cada um.