todos os anos, a feira de Novembro aqui na santa terrinha onde me encontro vem acoplada de uma excrescência: uma miserável tenda de circo, rodeada de jaulas fétidas e lamacentas, onde animais de todos os tipos e latitudes, desde camelos a elefantes e tigres, despojados de espaço, saúde e dignidade, vegetam tristemente. O circo com animais selvagens é um espectáculo medieval, cruel e degradante, e esconde todo o tipo de sevícias contra os bichos, que mereciam ter sido deixados na paz do senhor lá no seu habitat natural, em vez de sujeitos a um mimetismo forçado e ridículo para gáudio de umas centenas de labregos que riem muito, muito, quando a macaca levanta o saiote, o elefante diz adeus com a tromba ou a morsa bate palmas. Temos que defender estes animais, porque eles não o podem fazer sozinhos - é tão simples quanto isto. Os direitos dos animais, fomos nós, seres humanos, que os criámos, porque somos civilizados e percebemos que eles são criaturas em desvantagem que têm de ser protegidas, como as crianças ou os deficientes. Por isso, quando a violação desses direitos é tão flagrante que nos entra pelos olhos dentro, como é o caso, temos mais é que assinar petições e levá-las à assembleia, fazer muito barulho, indignarmo-nos publicamente, denunciarmos, cuspirmos na cara dos chen e dos cardinalis deste mundo e recusarmo-nos a servir-lhes bicas nos cafés. Mas, mais do que isso, temos todos de deixar de ir ao circo, cortando de vez com o seu sustento até serem obrigados a procurar trabalho nas obras. E temos também de ensinar aos nossos miúdos que aquilo não é diversão coisa nenhuma, para que nas próximas gerações já não seja preciso proibir nada, porque a coisa entretanto morreu de morte natural. E que eles saibam que existe uma hierarquia de seres humanos, sendo que os que maltratam animais estão na base da pirâmide. Para ataques incontroláveis de fúria ou de choro, consoante o estado de espírito, vão aqui, aqui, aqui, aqui ou aqui.
E, já que estamos no tema, aqui fica uma homenagem à Lucky (que se foi embora neste Natal), a única cadelinha que conheço que dedicou a sua vida a criar ninhadas sucessivas de gatinhos órfãos. Espero que aí no ceú dos cães onde te encontras, minha querida, haja muitas galinhas para perseguires e seres feliz.
todos os anos, a feira de Novembro aqui na santa terrinha onde me encontro vem acoplada de uma excrescência: uma miserável tenda de circo, rodeada de jaulas fétidas e lamacentas, onde animais de todos os tipos e latitudes, desde camelos a elefantes e tigres, despojados de espaço, saúde e dignidade, vegetam tristemente. O circo com animais selvagens é um espectáculo medieval, cruel e degradante, e esconde todo o tipo de sevícias contra os bichos, que mereciam ter sido deixados na paz do senhor lá no seu habitat natural, em vez de sujeitos a um mimetismo forçado e ridículo para gáudio de umas centenas de labregos que riem muito, muito, quando a macaca levanta o saiote, o elefante diz adeus com a tromba ou a morsa bate palmas. Temos que defender estes animais, porque eles não o podem fazer sozinhos - é tão simples quanto isto. Os direitos dos animais, fomos nós, seres humanos, que os criámos, porque somos civilizados e percebemos que eles são criaturas em desvantagem que têm de ser protegidas, como as crianças ou os deficientes. Por isso, quando a violação desses direitos é tão flagrante que nos entra pelos olhos dentro, como é o caso, temos mais é que assinar petições e levá-las à assembleia, fazer muito barulho, indignarmo-nos publicamente, denunciarmos, cuspirmos na cara dos chen e dos cardinalis deste mundo e recusarmo-nos a servir-lhes bicas nos cafés. Mas, mais do que isso, temos todos de deixar de ir ao circo, cortando de vez com o seu sustento até serem obrigados a procurar trabalho nas obras. E temos também de ensinar aos nossos miúdos que aquilo não é diversão coisa nenhuma, para que nas próximas gerações já não seja preciso proibir nada, porque a coisa entretanto morreu de morte natural. E que eles saibam que existe uma hierarquia de seres humanos, sendo que os que maltratam animais estão na base da pirâmide. Para ataques incontroláveis de fúria ou de choro, consoante o estado de espírito, vão aqui, aqui, aqui, aqui ou aqui.
E, já que estamos no tema, aqui fica uma homenagem à Lucky (que se foi embora neste Natal), a única cadelinha que conheço que dedicou a sua vida a criar ninhadas sucessivas de gatinhos órfãos. Espero que aí no ceú dos cães onde te encontras, minha querida, haja muitas galinhas para perseguires e seres feliz.
No telejornal da SIC, repórteres acompanham a Brigada de Trânsito e constatam in loco a prática de várias infracções por parte de automobilistas apanhados em flagrante. Uma reportagem fraca, porque subjectiva e carregadinha de juízos de valor. A dada altura, é mandado parar um Porsche (pareceu-me um Boxter), de acordo com a repórter, “um carro de alta cilindrada”, “típico de quem quer dar nas vistas”. Uma conclusão desnecessária, assente num juízo dispensável, que pode nem sequer ser verdadeiro. Para além do exibicionismo e da vontade irresponsável de acelerar no meio dos outros, existem inúmeras razões para que alguém - tendo possibilidades de o fazer, claro - compre um carro caro: a segurança, a estética ou o conforto acrescidos, entre outras. Ou então a pura e simples vontade de se passear numa coisa boa - facto que dá, obviamente, prazer à maior parte das pessoas normais. “Dar nas vistas” será apanágio apenas de alguns. A generalização apressada resulta de um preconceito recorrente: o de que quem tem coisas boas só as quer para se exibir perante os outros e não para seu próprio usufruto. É certo que a falta de vergonha, de gosto e de decoro de um certo novo riquismo contribuiu para o preconceito; mas também é verdade que o dito preconceito cresce e se alimenta de um miserabilismo de sinal contrário, invejoso e ressabiado, que também gostava de ter e que, ao reduzir a posse de um objecto bom e belo a um sentimento fútil e mesquinho, pretende diminuir quem tem.
No telejornal da SIC, repórteres acompanham a Brigada de Trânsito e constatam in loco a prática de várias infracções por parte de automobilistas apanhados em flagrante. Uma reportagem fraca, porque subjectiva e carregadinha de juízos de valor. A dada altura, é mandado parar um Porsche (pareceu-me um Boxter), de acordo com a repórter, “um carro de alta cilindrada”, “típico de quem quer dar nas vistas”. Uma conclusão desnecessária, assente num juízo dispensável, que pode nem sequer ser verdadeiro. Para além do exibicionismo e da vontade irresponsável de acelerar no meio dos outros, existem inúmeras razões para que alguém - tendo possibilidades de o fazer, claro - compre um carro caro: a segurança, a estética ou o conforto acrescidos, entre outras. Ou então a pura e simples vontade de se passear numa coisa boa - facto que dá, obviamente, prazer à maior parte das pessoas normais. “Dar nas vistas” será apanágio apenas de alguns. A generalização apressada resulta de um preconceito recorrente: o de que quem tem coisas boas só as quer para se exibir perante os outros e não para seu próprio usufruto. É certo que a falta de vergonha, de gosto e de decoro de um certo novo riquismo contribuiu para o preconceito; mas também é verdade que o dito preconceito cresce e se alimenta de um miserabilismo de sinal contrário, invejoso e ressabiado, que também gostava de ter e que, ao reduzir a posse de um objecto bom e belo a um sentimento fútil e mesquinho, pretende diminuir quem tem.
não aponte o dedo para benazir butho seu puto ela está de luto pela morte do pai não aponte o dedo para benazir esse dedo em riste esse medo triste é você benazir resiste o olho que existe é o que vê benazir,
não aponte o dedo para benazir butho seu puto ela está de luto pela morte do pai não aponte o dedo para benazir esse dedo em riste esse medo triste é você benazir resiste o olho que existe é o que vê benazir,
os portugueses têm um comportamento anormal dentro dos aviões: não só desatam a bater palmas no fim de cada aterragem, como se tivessem acabado de assistir a um número de circo, como, assim que o avião toca no chão, se levantam imediatamente do lugar e desatam a abrir as bagageiras, atafulhando-se com as muitas malas e sacos que, desconfiados, se recusaram a enviar para o porão. É que de nada adianta o please remain seated: ainda com o avião em processo de travagem, os flaps em esforço, e é vê-los a tropeçarem uns nos outros em desequilíbrio, a puxarem a bagagem para baixo enquanto ligam à fuçanga os telemóveis, na pressa de dizerem, muito alto, que já chegaram e que estão vivos. Se tivermos o azar de viajar com eles numa low cost na véspera de Natal, da Alemanha para Portugal, então, temos um bónus : o de os ver, em especial aos emigras de segunda geração (são sempre os piores, os da segunda geração, seja que tipo de emigras forem) a serem corridos pela tripulação, exasperada, por terem fumado nas casas de banho e ligado os telemóveis ainda no ar. Mortifica-me, a cada vez que saio e depois regresso, o retorno à falta de civismo, de nível, de cultura e do conhecimento mínimo das regras básicas de convivência; e desagrada-me, aquela desobediênciazinha cobarde, porque sem consequências, e aquele desviozinho à norma e ao estabelecido para todos, que se limita a prejudicar um bocadinho os outros e a chateá-los, tão típico destes heróis do mar. O português, infelizmente, continua ainda, para os outros, demasiado parecido com a caricatura do que é ser-se português: uma criatura folclórica que come bacalhau e fala demasiado alto e que, na escala civilizacional, se situa um bocado acima de um marroquino, mas definitivamente abaixo de um espanhol.
os portugueses têm um comportamento anormal dentro dos aviões: não só desatam a bater palmas no fim de cada aterragem, como se tivessem acabado de assistir a um número de circo, como, assim que o avião toca no chão, se levantam imediatamente do lugar e desatam a abrir as bagageiras, atafulhando-se com as muitas malas e sacos que, desconfiados, se recusaram a enviar para o porão. É que de nada adianta o please remain seated: ainda com o avião em processo de travagem, os flaps em esforço, e é vê-los a tropeçarem uns nos outros em desequilíbrio, a puxarem a bagagem para baixo enquanto ligam à fuçanga os telemóveis, na pressa de dizerem, muito alto, que já chegaram e que estão vivos. Se tivermos o azar de viajar com eles numa low cost na véspera de Natal, da Alemanha para Portugal, então, temos um bónus : o de os ver, em especial aos emigras de segunda geração (são sempre os piores, os da segunda geração, seja que tipo de emigras forem) a serem corridos pela tripulação, exasperada, por terem fumado nas casas de banho e ligado os telemóveis ainda no ar. Mortifica-me, a cada vez que saio e depois regresso, o retorno à falta de civismo, de nível, de cultura e do conhecimento mínimo das regras básicas de convivência; e desagrada-me, aquela desobediênciazinha cobarde, porque sem consequências, e aquele desviozinho à norma e ao estabelecido para todos, que se limita a prejudicar um bocadinho os outros e a chateá-los, tão típico destes heróis do mar. O português, infelizmente, continua ainda, para os outros, demasiado parecido com a caricatura do que é ser-se português: uma criatura folclórica que come bacalhau e fala demasiado alto e que, na escala civilizacional, se situa um bocado acima de um marroquino, mas definitivamente abaixo de um espanhol.
fartinhos das filhozes oleosas e da gritaria da parentada? Então fujam para uma qualquer divisão da casa que tenha televisão e liguem a dois: está a dar um documentário com Chico Buarque, À Flor da Pele. Neste momento, Caetano canta “Sem Fantasia” e eu sou uma mulher feliz à beirinha das lágrimas. Corram, incréus!
fartinhos das filhozes oleosas e da gritaria da parentada? Então fujam para uma qualquer divisão da casa que tenha televisão e liguem a dois: está a dar um documentário com Chico Buarque, À Flor da Pele. Neste momento, Caetano canta “Sem Fantasia” e eu sou uma mulher feliz à beirinha das lágrimas. Corram, incréus!