Para mim, a televisão resume-se às séries da Fox e aos programas sobre animais/natureza, em qualquer canal. Hoje, num desprevenido momento de zapping, fiquei paralisada na SIC. Pelo que percebi, há um concurso chamado “Família Superstar”, em que pais/tios/avós/sobrinhos/filhos/netos estão numa casa tipo big brother e têm que cantar/dançar para ganhar. Não sei o que terá acontecido, mas imagino que um binómio mãe/filha tenha sido liminarmente expulso. Fiquei estarrecida. A mãe, uma criatura sem dúvida desequilibrada, estava em estado de choque, catatónico mesmo, e as lágrimas corriam-lhe pela cara enquanto a levavam em braços da casa para fora e a enfiavam à força numa limusina. A miúda estava positivamente em pânico por ver a mãe naquele estado e chamava incessantemente por ela, muito chorosa e assustadíssima com o que estava a presenciar. O meu pensamento imediato foi, estes cabrões, arrancam as pessoas às suas vidinhas de merda, dão-lhes todos os luxos, criam-lhes necessidades novas, sonhos e esperanças; fazem-nas sentir-se importantes, serem alguém e, de repente, tiram-lhes tudo e atiram-nas outra vez para as suas vidinhas e os seus T2 na linha de Sintra. Alguns, emocionalmente mais frágeis (para não dizer malucos) ou pura e simplesmente menos inteligentes (para não dizer burros), passam-se, claro. O espectáculo confrangedor continuou com uma Bárbara Guimarães sem o menor jeito para gerir situações de crise (volta Júlia Pinheiro, que estás perdoada) e uma data de gente estranhamente abraçada e a chorar, como se estivesse num velório. Tudo menos um programa de entretenimento, como seria suposto. Mas do que tive pena, mesmo, foi da miúda. Voltar a casa com aquela mãe catatónica e uma mão cheia de sonhos desfeitos, não se faz. Aquilo é uma pornografia de emoções. Parte delas, infantis, ainda por cima. Francamente, sou tendencialmente não-repressiva, porque penso que as coisas tendem a auto-regular-se e que isso é algo de bom, mas acho que as Comissões de Protecção de Menores deveriam andar em cima destes programas. Aquela mãe é uma mulher com muitos problemas. Aquela filha, obviamente, também. E é muito ténue, a linha entre a suposta benfeitoria e o abuso.
Para mim, a televisão resume-se às séries da Fox e aos programas sobre animais/natureza, em qualquer canal. Hoje, num desprevenido momento de zapping, fiquei paralisada na SIC. Pelo que percebi, há um concurso chamado “Família Superstar”, em que pais/tios/avós/sobrinhos/filhos/netos estão numa casa tipo big brother e têm que cantar/dançar para ganhar. Não sei o que terá acontecido, mas imagino que um binómio mãe/filha tenha sido liminarmente expulso. Fiquei estarrecida. A mãe, uma criatura sem dúvida desequilibrada, estava em estado de choque, catatónico mesmo, e as lágrimas corriam-lhe pela cara enquanto a levavam em braços da casa para fora e a enfiavam à força numa limusina. A miúda estava positivamente em pânico por ver a mãe naquele estado e chamava incessantemente por ela, muito chorosa e assustadíssima com o que estava a presenciar. O meu pensamento imediato foi, estes cabrões, arrancam as pessoas às suas vidinhas de merda, dão-lhes todos os luxos, criam-lhes necessidades novas, sonhos e esperanças; fazem-nas sentir-se importantes, serem alguém e, de repente, tiram-lhes tudo e atiram-nas outra vez para as suas vidinhas e os seus T2 na linha de Sintra. Alguns, emocionalmente mais frágeis (para não dizer malucos) ou pura e simplesmente menos inteligentes (para não dizer burros), passam-se, claro. O espectáculo confrangedor continuou com uma Bárbara Guimarães sem o menor jeito para gerir situações de crise (volta Júlia Pinheiro, que estás perdoada) e uma data de gente estranhamente abraçada e a chorar, como se estivesse num velório. Tudo menos um programa de entretenimento, como seria suposto. Mas do que tive pena, mesmo, foi da miúda. Voltar a casa com aquela mãe catatónica e uma mão cheia de sonhos desfeitos, não se faz. Aquilo é uma pornografia de emoções. Parte delas, infantis, ainda por cima. Francamente, sou tendencialmente não-repressiva, porque penso que as coisas tendem a auto-regular-se e que isso é algo de bom, mas acho que as Comissões de Protecção de Menores deveriam andar em cima destes programas. Aquela mãe é uma mulher com muitos problemas. Aquela filha, obviamente, também. E é muito ténue, a linha entre a suposta benfeitoria e o abuso.
Sim, eu sou a Grande Puta, a Cabra-Mor, a Meretriz; sou Salomé, Jezebel e Madalena por arrepender. Não sou é lá muito saudável; detesto sushi e, especialmente, detesto correr: as maminhas saltam muito.
Sim, eu sou a Grande Puta, a Cabra-Mor, a Meretriz; sou Salomé, Jezebel e Madalena por arrepender. Não sou é lá muito saudável; detesto sushi e, especialmente, detesto correr: as maminhas saltam muito.