A ROSA, de Chico Buarque (aqui, com Djavan) (passar logo para o meio do vídeo)
Arrasa o meu projeto de vida
Querida, estrela do meu caminho
Espinho cravado em minha garganta
Garganta
A santa às vezes troca meu nome
E some
E some nas altas da madrugada
Coitada, trabalha de plantonista
Artista, é doida pela Portela
Ói ela, vestida de verde e rosa
A Rosa garante que é sempre minha
Quietinha, saiu pra comprar cigarro
Que sarro, trouxe umas coisas do Norte
Que sorte
Que sorte, voltou toda sorridente
Demente, inventa cada carícia
Egípcia, me encontra e me vira a cara
Odara, gravou meu nome na blusa
Abusa, me acusa
Revista os bolsos da calça
A falsa limpou a minha carteira
Maneira, pagou a nossa despesa
Beleza, na hora do bom me deixa, se queixa
A gueixa
Que coisa mais amorosa
A Rosa
Ah, Rosa, e o meu projeto de vida?
Bandida, cadê minha estrela guia
Vadia, me esquece na noite escura
Mas jura
Me jura que um dia volta pra casa
Arrasa o meu projeto de vida
Querida, estrela do meu caminho
Espinho cravado em minha garganta
Garganta
A santa às vezes me chama Alberto
Alberto
Decerto sonhou com alguma novela
Penélope, espera por mim bordando
Suando, ficou de cama com febre
Que febre
A lebre, como é que ela é tão fogosa
A Rosa
A Rosa jurou seu amor eterno
Meu terno ficou na tinturaria
Um dia me trouxe uma roupa justa
Me gusta, me gusta
Cismou de dançar um tango
Meu rango sumiu lá da geladeira
Caseira, seu molho é uma maravilha
Que filha, visita a família em Sampa
Às pampa, às pampa
Voltou toda descascada
A fada, acaba com a minha lira
A gira, esgota a minha laringe
Esfinge, devora a minha pessoa
À toa, a boa
Que coisa mais saborosa
A Rosa
Ah, Rosa, e o meu projeto de vida?
Bandida, cadê minha estrela guia?
Vadia, me esquece na noite escura
Mas jura
Me jura que um dia volta pra casa.
A cada vez que ouço esta delícia, dou por mim a pensar qual dos versos é o meu preferido; consoante o meu estado de espírito, a minha escolha muda. Hoje, posso dizer sem grande margem para dúvidas de que o "Egípcia, me encontra e me vira a cara" e o "A santa às vezes me chama Alberto, decerto sonhou com alguma novela", ganham o prémio de irresistíveis da noite. A ouvir, com uma atenção miudinha e fervorosa, quase religiosa, aqui ao lado. Ou a ouvir e a ver, ali em cima, a musculatura franzina de Chico, transpirando génio e graça. E vem-me à cabeça aquela história do Luís Fernando Veríssimo sobre nós (mulheres) e Chico, no elevador. Ah, pois, perdoa meu amor, vai, perdoa: afinal, é o chico. Nem era preciso elevador: um cooper, já seria decerto pecado, pela parte que me tocasse. Afinal, como disse o escritor, "diante de Chico Buarque todo homem é um corno em potencial." Ámen.
A ROSA, de Chico Buarque (aqui, com Djavan) (passar logo para o meio do vídeo)
Arrasa o meu projeto de vida
Querida, estrela do meu caminho
Espinho cravado em minha garganta
Garganta
A santa às vezes troca meu nome
E some
E some nas altas da madrugada
Coitada, trabalha de plantonista
Artista, é doida pela Portela
Ói ela, vestida de verde e rosa
A Rosa garante que é sempre minha
Quietinha, saiu pra comprar cigarro
Que sarro, trouxe umas coisas do Norte
Que sorte
Que sorte, voltou toda sorridente
Demente, inventa cada carícia
Egípcia, me encontra e me vira a cara
Odara, gravou meu nome na blusa
Abusa, me acusa
Revista os bolsos da calça
A falsa limpou a minha carteira
Maneira, pagou a nossa despesa
Beleza, na hora do bom me deixa, se queixa
A gueixa
Que coisa mais amorosa
A Rosa
Ah, Rosa, e o meu projeto de vida?
Bandida, cadê minha estrela guia
Vadia, me esquece na noite escura
Mas jura
Me jura que um dia volta pra casa
Arrasa o meu projeto de vida
Querida, estrela do meu caminho
Espinho cravado em minha garganta
Garganta
A santa às vezes me chama Alberto
Alberto
Decerto sonhou com alguma novela
Penélope, espera por mim bordando
Suando, ficou de cama com febre
Que febre
A lebre, como é que ela é tão fogosa
A Rosa
A Rosa jurou seu amor eterno
Meu terno ficou na tinturaria
Um dia me trouxe uma roupa justa
Me gusta, me gusta
Cismou de dançar um tango
Meu rango sumiu lá da geladeira
Caseira, seu molho é uma maravilha
Que filha, visita a família em Sampa
Às pampa, às pampa
Voltou toda descascada
A fada, acaba com a minha lira
A gira, esgota a minha laringe
Esfinge, devora a minha pessoa
À toa, a boa
Que coisa mais saborosa
A Rosa
Ah, Rosa, e o meu projeto de vida?
Bandida, cadê minha estrela guia?
Vadia, me esquece na noite escura
Mas jura
Me jura que um dia volta pra casa.
A cada vez que ouço esta delícia, dou por mim a pensar qual dos versos é o meu preferido; consoante o meu estado de espírito, a minha escolha muda. Hoje, posso dizer sem grande margem para dúvidas de que o "Egípcia, me encontra e me vira a cara" e o "A santa às vezes me chama Alberto, decerto sonhou com alguma novela", ganham o prémio de irresistíveis da noite. A ouvir, com uma atenção miudinha e fervorosa, quase religiosa, aqui ao lado. Ou a ouvir e a ver, ali em cima, a musculatura franzina de Chico, transpirando génio e graça. E vem-me à cabeça aquela história do Luís Fernando Veríssimo sobre nós (mulheres) e Chico, no elevador. Ah, pois, perdoa meu amor, vai, perdoa: afinal, é o chico. Nem era preciso elevador: um cooper, já seria decerto pecado, pela parte que me tocasse. Afinal, como disse o escritor, "diante de Chico Buarque todo homem é um corno em potencial." Ámen.
De como tenho sorte, por poder fugir para o lado de lá do oceano e, depois, voltar e ter dois quilómetros de praia vazia, só para nós; por ter amigos e coisas boas, campo e bichos, muito bichos; e por ter muitas árvores e flores e tomates plantados e colhidos por mim. Mas, acima de tudo, uma Família, feliz. E sorte, também, por voltar: abrir as janelas, enxotar o escuro e o bafio, abrir a televisão, o computador, encher o frigorífico, comprar leite e desodorizantes. Sinto sempre um estranho conforto, no regresso a casa depois das férias. Só nesta altura do ano, quando vem a vontade de manhãs frias e o primeiro amarelo das folhas salpica já a calçada seca e suja, me apercebo de como gosto da minha casa, do café da esquina e da buganvília roxa que cobre o pátio do colégio dos meus filhos (e que foi o meu, também). E das malhas que se estreiam nas montras, dos sapatos fechados, da conversa fiada no cabeleireiro, dos frescos do corte inglês, do pão-de-ló da Laurinda, da mtv no ginásio e do cheiro dos livros escolares, novinhos em folha, por desbravar, com mais ou menos empenho. Saber que tudo está bem, no seu sítio. É nesta altura que Lisboa é mais bonita: quando me promete ao ouvido o Outono.
De como tenho sorte, por poder fugir para o lado de lá do oceano e, depois, voltar e ter dois quilómetros de praia vazia, só para nós; por ter amigos e coisas boas, campo e bichos, muito bichos; e por ter muitas árvores e flores e tomates plantados e colhidos por mim. Mas, acima de tudo, uma Família, feliz. E sorte, também, por voltar: abrir as janelas, enxotar o escuro e o bafio, abrir a televisão, o computador, encher o frigorífico, comprar leite e desodorizantes. Sinto sempre um estranho conforto, no regresso a casa depois das férias. Só nesta altura do ano, quando vem a vontade de manhãs frias e o primeiro amarelo das folhas salpica já a calçada seca e suja, me apercebo de como gosto da minha casa, do café da esquina e da buganvília roxa que cobre o pátio do colégio dos meus filhos (e que foi o meu, também). E das malhas que se estreiam nas montras, dos sapatos fechados, da conversa fiada no cabeleireiro, dos frescos do corte inglês, do pão-de-ló da Laurinda, da mtv no ginásio e do cheiro dos livros escolares, novinhos em folha, por desbravar, com mais ou menos empenho. Saber que tudo está bem, no seu sítio. É nesta altura que Lisboa é mais bonita: quando me promete ao ouvido o Outono.