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por Vieira do Mar, em 07.09.07
Não percebo porque tantos se insurgem contra obituários simpáticos, mais ou menos rigorosos, mais ou menos verdadeiros, sobre figuras públicas. Até porque, o que é o rigor e a verdade, quando se trata de expôr a subjectividade que enforma a ideia que tínhamos de alguém que, entretanto, morreu? Parece-me bem, que se fale bem de uma pessoa depois de morta (excepção feita, claro está, às criaturas consensualmente malévolas, tipo Hitler ou Estaline). Aliás, falar bem de alguém de quem não se gostou especialmente em vida, enaltecer-lhe as eventuais virtudes, nem sempre é hipocrisia: pode ser um acto de arrependimento, correcção de sinergias, de reequilíbrio ou de pudor. Uma maneira de dizer ao falecido, coitado, qualquer coisa como, infernizámo-nos em vida mas, agora que morreste e já não te podes defender e estás em nítida desvantagem, toma lá esta abebia. Polir lembranças, convicções ou, apenas, primeiras impressões, pode ser, em certas circunstâncias, um simples acto de generosidade e não, necessariamente, uma forma cínica de contaminar memórias, públicas ou privadas.