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por Vieira do Mar, em 03.09.07
De como tenho sorte, por poder fugir para o lado de lá do oceano e, depois, voltar e ter dois quilómetros de praia vazia, só para nós; por ter amigos e coisas boas, campo e bichos, muito bichos; e por ter muitas árvores e flores e tomates plantados e colhidos por mim. Mas, acima de tudo, uma Família, feliz. E sorte, também, por voltar: abrir as janelas, enxotar o escuro e o bafio, abrir a televisão, o computador, encher o frigorífico, comprar leite e desodorizantes. Sinto sempre um estranho conforto, no regresso a casa depois das férias. Só nesta altura do ano, quando vem a vontade de manhãs frias e o primeiro amarelo das folhas salpica já a calçada seca e suja, me apercebo de como gosto da minha casa, do café da esquina e da buganvília roxa que cobre o pátio do colégio dos meus filhos (e que foi o meu, também). E das malhas que se estreiam nas montras, dos sapatos fechados, da conversa fiada no cabeleireiro, dos frescos do corte inglês, do pão-de-ló da Laurinda, da mtv no ginásio e do cheiro dos livros escolares, novinhos em folha, por desbravar, com mais ou menos empenho. Saber que tudo está bem, no seu sítio. É nesta altura que Lisboa é mais bonita: quando me promete ao ouvido o Outono.