...
(... ou duas... ou dez....)
Eu sou uma daquelas mães pseudo espertalhonas que pensa que, se alguma coisa tem de lhes acontecer, ao menos que seja debaixo do meu tecto e sob as minhas asinhas tão protectoras que mais parecem as asas de um boeing. Vai daí, quase tudo lhes é permitido: todos os amigos são bem vindos e admito, com alguma assiduidade, festas, pijama parties, sessões nocturnas de filmes de terror, trabalhos de grupo (mesmo os trabalhos manuais, com tintas e colas...) e raves no Messenger e no HI5 até às tantas– desde que tudo cá em casa (e comigo na sala ao lado). À conta disto (e dos índices de popularidade da minha filha, uma verdadeira pop star no micro universo escolar), tenho sempre a casa cheia de galinhas aos gritinhos e de mânfios silenciosos em plena adolescência. São todos iguais. Eles, de cabelo a tapar-lhes a cara, estilo barcarola, de olhos postos no chão e ar falsamente tímido, a darem-me dois respeitosos beijinhos como quem não parte um prato. Elas, giríssimas, de umbigos à mostra, cabelos compridos e dentes perfeitos. Perigosíssimas. Há dias em que a minha casa se enche de "tiaaaaaaaa", "ó tiaaaaaaaa", de hahaha, hohoho e de hihihi, e é vê-las passear entre o quarto e a casa de banho, de soutiã, a trocarem tops (camisolas sem alças), a pintarem-se as unhas e a lavarem o cabelo (estão sempre a lavar o cabelo!). O de dez anos, de olhos em bico, a achar que lhe saiu a sorte grande… E o que elas riem, senhores! Pode dizer-se que não sabem fazer outra coisa e que, se estudassem como riem, seria uma maravilha. Agora, tive cá uma emprestada uma semana inteira e garanto-vos que elas não pararam de rir por um segundo que fosse. E a lembrarem-me de que os 14 anos são isto mesmo: gozar, gozar, gozar - com os velhinhos e deficientes nos autocarros, com os professores, com o resto da família, umas com as outras e, especialmente, com os rapazes. São impressionantes, os níveis de inteligência emocional e de sagacidade (para não dizer de crueldade) das raparigas desta idade. Nada lhes escapa, disparam em todas as direcções, acertam invariavelmente na mouche e não fazem nenhuma espécie de cerimónia com o resto do mundo. É claro que, se me der para aprofundar, na maior parte das vezes, a diversão é mais delas do que minha.
Um dia destes, por exemplo, entro no templo feminino que é o quarto da minha filha e vejo uma espécie de soutiã de silicone pendurado. Mas que raio é isto??? Tiaaaaaaa, diz-me a M., é o soutien que comprei na loja chinesa (o prolongamento do "A" não é afectação, é mais a verbalização de um desejo de intimidade). A tiaaa já viu, não tenho mamas nenhumas, sou uma tábua, é uma tristeza. Eu queria era ser assim, como a tiaaa ou a Bia, com uma coisa que se visse. Então, comprei este soutiã de silicone nos chineses, cinco euros, depois, por cima, ponho dois daqueles soutiãs com almofada e só depois é que ponho o top. E fica assim (e mostra-me foto no HI5, sem vergonha nenhuma, elas todas de decote, abraçadas umas às outras, as maminhas e os risos equiparados. E eu, a olhar para aquele horrível acessório de borracha, sem saber o que dizer. Finalmente, saiu-me qualquer coisa parva como, Oh M., mas tu tem cuidado, querida, que essa borracha tem ar de se desfazer e, com o calor do teu corpo, pode ficar colada à tua pele. Elas riem-se e disfarçam o que pensam de mim porque, enfim, imagino que seja porque lhes dou de comer e lhes pago as pizzas que passam a vida a encomendar... Catorze anos, e já mestras na arte da dissimulação sexual despudorada. Ai a minha vida.
Cenas do próximo capítulo (sim, sei que vos deixei curiosos): o HI5, esse espelho interplanetário de egos adolescentes, onde muitos adultos, tristemente, também fazem uma perninha.