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A partir de hoje, aqui neste blogue, nunca à mesma hora e em dias seguramente incertos, vamos dar seguimento a uma série, com o título indicado supra. Referir-me-ei a grupos de pessoas, franjas da sociedade (também podem ser riscos ao lado ou madeixas rebeldes), que eu entendo que, por razões várias, não deveriam ter direito a votar naquele referendo que toda a gente sabe e que aí vem.
Assim sendo, Pessoas que Não Deviam ter Direito a Votar no Referendo:
1º Não deveria votar neste referendo quem nunca fodeu como deve ser, ou seja, à séria, à grande e à francesa.
Quem, sendo letrado e sexualmente instruído (portanto, sem qualquer desculpa), nunca esteve encostado contra uma parede, debruçado sobre uma ponte, espalmado num confessionário, numa casa-de-banho de liceu ou num corredor de um seminário sobre semiótica, numa aflição medonha do género:
Aiiiiii que me estou a vir...ai, não te venhas!... sim, não, sim: espera, tens preservativos?..., não!, então espera ... aiiii! aí não, não me toques aí que eu não maguento... vamos parar um bocadinho... avisa-me quando te estiveres a vir que eu saio... ai... ui... mas mal temos espaço para nos mexermos, este armário de limpezas é minúsculo... estas vassouras todas... ai tu não me fales em vassouras nesta altura... ufa...vem cá... estás em que altura do mês?... não queiras saber estou... no.... cio... porque achas que te arrastei para aqui? Aiiiiii, que não dá mais!... pensa na tua tia Antonina, aquela da verruga,... mas isso é cruel... agora para castigo não te mexas... não te mexas tu que eu explodo...ai sim, siiiim....vem..vem..VEM!...
(segundos depois) ups...
... não devia ter direito de voto.
Repito: quem não sabe o gozo que pode dar uma rapidinha clandestinha, quem não entende o estado de insanidade mental temporária a que pode conduzir um encontro fortuito entre um pipi e uma pilinha... não deveria ter a possibilidade de dizer que é contra a despenalização do aborto, porque nunca se colocou a si mesmo numa situação horrível em que o diabo, o mafarrico em pessoa, lhe amarrou as mãos e o privou de todo o discernimento. É claro que todos os outros, os que fodem muito, e bem, sabem o que está em questão e estão dispostos a pagar o seu preço. E, por isso, podem votar: num ou noutro sentido, claro está.
Há, no entanto, um blogue de que gosto muito, e que me tem ocupado tempo e atenção, ao longo deste ano. É um blogue de umbigo e de entranha, anda por aí perdido e eu, obcecada pelo enrolanço vadio das letras, pelos resultados inesperados nas esquinas e pelos caminhos ínvios, mentirosos e pornográficos das minhas palavras. Não é melhor do que todos os que têm vindo a ser nomeados, nada disso; antes pelo contrário, por vezes, carece de imaginação, repete-se nos termos, falha nas ideias, nada traz de novo a ninguém. Ali, não se aprende grande coisa. Mas foi, sem dúvida, o blogue de que mais gostei este ano. É o meu blogue do ano. Porque é deste ano. Porque é meu. E não é este.