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O Almodovar vicioso, corrosivo, mas também ingénuo, de Atame! e de Negros Habitos, por exemplo, deu lugar ao Almodovar mainstream, apontado que nem uma seta a Hollywood e aos Óscares. É agora um tipo que faz filmes, literalmente, para inglês ver. Como resultado, parece que passou a sentir-se na obrigação de os explicar tintim por tintim, para que os burros dos americanos os percebam e com isso tornou-se, basicamente, um chato. Já para não falar na nítida sensação do vamosdarlhesoqueelesquerem. Não que eu tenha alguma coisa contra os realizadores mainstream; aliás, são os meus favoritos, já que eu sou mocinha pouco alternativa; mas oponho-me terminantemente ao tédio. O tédio é uma maçada; às vezes, chega a ser uma chatice. Por isso, quando começo a mudar de posição na cadeira, a olhar para o relógio e a pensar no jantar do dia seguinte, está feito o veredicto: boooring. É claro que a história está engraçada e o argumento, original, como sempre. Mas, apesar da magnífica Penélope Cruz e das suas não menos magníficas maminhas (como diria Paulo Portas na sua crónica no Sol) e de alguns momentos geniais, como o velório da Tia Paula ou a Agustina no talk show, o filme é, no seu conjunto, um bocado desequilibrado, ou seja, não é lá muito bom. É só bonzito, vá. Há situações claramente metidas a martelo, como a parte do restaurante (para que não nos restem dúvidas de que Raimunda é a verdadeira mãe coragem) ou o inefável momento musical; como se Almodovar estivesse preocupado em deixar no filme a marca “Almodovar”, como se fosse um discípulo de si próprio e da “escola” que criou. Como consequência, o trabalho de montagem está longe de ter sido perfeito e a história não corre fluída, como era hábito nos filmes anteriores a Todo.... Por outro lado, as personagens secundárias, habitualmente coloridas, excêntricas, marginais, vêem-se aqui reduzidas a uma maçadora Agustina, uma inconsistente Sole e uma tonteca Irene. Vale a pena o dinheiro do bilhete? Claro que sim. Mas deixem-me que vos diga: redunda num pequeno tédio, quando aos bons artistas (sim, porque o rapaz é um bom artista, lá isso) lhes dá para se começarem a imitar a si mesmos, simplificando a mensagem por forma a angariarem uma maior e mais abrangente empatia para com a sua obra. Mas isto sou eu e a minha opinião: esquisita. Ah! Fiquem até ao fim: o genérico final é um mimo de estética kitsch.