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por Vieira do Mar, em 05.10.06
andava há meses
à procura desta música, uma das minhas favoritas de sempre da MPB. É do Gonzaguinha, de que já falei aqui (embora não me lembre quando). Sei que há melhores, mais geniais e mais elaboradas, mas esta toca-me especialmente, quase desde miúda, quando ainda não sabia muito bem que era o amor, nem exactamente o que era ser mulher. Não sei se é pela voz da Simone, que canta com um sentido da inevitabilidade que me agrada, ou por me ter acompanhado numa fase pletórica, como foi a do fim da minha adolescência. Por ter sido uma das minhas primeiras descobertas brasileiras, tenho com Simone uma relação sentimental (embora ela, naturalmente, não o saiba). A verdade é que há uma versão da Alcione que já podia ter posto aqui, mas não é a mesma coisa: esta música não pede faca e alguidar nem choro e ranger de dentes; vejo-a sobre factos, não sobre hipóteses (como se falasse a verdade dos números), pelo que fica melhor se cantada com uma tristeza contida, afinal, quase alegre, pela constatação de liberdade/libertação que, no fundo, contém. Sim, eu entendo-a quase alegre; não é, por exemplo, como Olhos nos Olhos, de Chico Buarque, cuja melodia desmente as palavras e transmite o desalento triste da rejeição. A versão que agora ouvem não a consegui em nenhuma das colectâneas cá à venda nem em downloads na net. Hoje, por acaso, encontrei um CD na Fnac, era o único e abarbatei-o logo. Curiosamente, quando entrei no carro e a pus a tocar, uma vez e outra e outra, tive uma nítida sensação de deja vú; de repente veio-me à cabeça que, há cerca de vinte anos atrás (tantos?), também não era capaz de a ouvir só uma vez: para canção tão perfeita, sempre a achei demasiado curta. Hoje, como então, a cada vez que a ouvia fui aumentando o volume, a emoção e a gritaria; por fim, lá pela quinta repetição, a condução tornou-se perigosamente instável porque o e daiiiiiiií saía-me já a plenos pulmões, os olhos fechados de gozo. Não foi só um regresso ao passado, foi mais do que isso porque acho que só agora entendo verdadeiramente a letra. Levei cerca de vinte anos para perceber que o amor vale pouco, se não for acompanhado da sensação de pertença.
à procura desta música, uma das minhas favoritas de sempre da MPB. É do Gonzaguinha, de que já falei aqui (embora não me lembre quando). Sei que há melhores, mais geniais e mais elaboradas, mas esta toca-me especialmente, quase desde miúda, quando ainda não sabia muito bem que era o amor, nem exactamente o que era ser mulher. Não sei se é pela voz da Simone, que canta com um sentido da inevitabilidade que me agrada, ou por me ter acompanhado numa fase pletórica, como foi a do fim da minha adolescência. Por ter sido uma das minhas primeiras descobertas brasileiras, tenho com Simone uma relação sentimental (embora ela, naturalmente, não o saiba). A verdade é que há uma versão da Alcione que já podia ter posto aqui, mas não é a mesma coisa: esta música não pede faca e alguidar nem choro e ranger de dentes; vejo-a sobre factos, não sobre hipóteses (como se falasse a verdade dos números), pelo que fica melhor se cantada com uma tristeza contida, afinal, quase alegre, pela constatação de liberdade/libertação que, no fundo, contém. Sim, eu entendo-a quase alegre; não é, por exemplo, como Olhos nos Olhos, de Chico Buarque, cuja melodia desmente as palavras e transmite o desalento triste da rejeição. A versão que agora ouvem não a consegui em nenhuma das colectâneas cá à venda nem em downloads na net. Hoje, por acaso, encontrei um CD na Fnac, era o único e abarbatei-o logo. Curiosamente, quando entrei no carro e a pus a tocar, uma vez e outra e outra, tive uma nítida sensação de deja vú; de repente veio-me à cabeça que, há cerca de vinte anos atrás (tantos?), também não era capaz de a ouvir só uma vez: para canção tão perfeita, sempre a achei demasiado curta. Hoje, como então, a cada vez que a ouvia fui aumentando o volume, a emoção e a gritaria; por fim, lá pela quinta repetição, a condução tornou-se perigosamente instável porque o e daiiiiiiií saía-me já a plenos pulmões, os olhos fechados de gozo. Não foi só um regresso ao passado, foi mais do que isso porque acho que só agora entendo verdadeiramente a letra. Levei cerca de vinte anos para perceber que o amor vale pouco, se não for acompanhado da sensação de pertença.
