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Ligo a SIC e ouço o Fernando Seara dizer "artigo quadragésimo oitavo". Para não variar, a ignorância pretensiosa dos autóctones dá-se ares no prime time. É que até eu, veraneante fútil papa-vips, sei que, quando falamos de reis, séculos, papas e... artigos legais, a praxis universalmente aceite nos diz que, ordinal, só até ao nono. A partir daí, e por uma questão de comodidade (não dá jeito, dizer Papa vigésimo quarto nem artigo tricentésimo décimo oitavo), convencionou-se dizer "dez", "onze" e por aí adiante, ou seja, usar-se o número cardinal. Como é que poderemos interessar-nos por aquilo que um gajo que não sabe uma regra básica destas, tenha eventualmente para nos dizer? Não poderemos. Portanto, uma fungadela de desprezo traduzida num zapping violento e já está. O pior é que aterro numa reportagem em que o arquitecto sénior responsável pele representação portuguesa na bienal de Veneza, uma "instalação" financiada pelo Estado em cerca de quatrocentos mil euros (?!), a define como uma "barraca", perante as risadinhas sabujas dos arquitectozinhos juniores que o rodeiam. Acrescenta que não sabe como aquilo vai ficar (risos), tal como não o deve saber, o arquitecto júnior que com ele compartilha a criação da coisa (mais risos). Naúsea minha. Eu, portuguesa/trabalhadora/contribuinte/gajadebom-gosto, estou a ser comida/roubada por uma dupla intergeracional espertalhaça (e ainda falam em generation gap...). Na movida cultural deste país, isto de O rei vai nu está a tornar-se uma realidade banal.