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por Vieira do Mar, em 14.07.06
Na televisão, uma corrida de touros. Felizmente, apanho-lhe apenas o fim, em trânsito para esse vício que é o Dr. House. Espantada (nunca deixo de me espantar, perante a cretina presunção que é elevar a arte a mais pura barbárie, apenas porque acompanhada de um pobre conjunto de metais, farpelas debruadas a ouro, cavalos que trocam as patas e bandarilhas coloridas nas pontas), atento na grunhice pespegada no fácies da assistência, enquanto o sangue escorre pelo dorso do touro e rebrilha na insistência dos holofotes. O arfar cansado do bicho sobressai por entre as pernas atarracadas dos forcados, que se lançam sobre ele num suposto final apoteótico, enquanto o povo fraqueja o entusiasmo em meia dúzia de olés. Por fim, um cavaleiro de poses pedantes é levado em braços pelos forcados, numa postura humilhante a relembrar outros tempos, aqueles de senhores e criados. A cereja no topo do bolo é o hino nacional, balbuciado por todos os presentes menos pelo touro, que entretanto já agonizará entreportas mas que terá sido, afinal, o convidado de honra da festa e ao qual todos supostamente devotam um enorme respeito, embora se divirtam enquanto o sangram e, depois, se empoleiram nele. Que nojo, juro. Que nojo, que tudo aquilo me meteu.