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Ver e Ler no Pópulo.

Ver e Ler no Pópulo.
Algo se passava, ultimamente não lhe parecia o mesmo. Ele era os ivas conjuntos por entregar e o condomínio por pagar com o administrador a bater-lhes à porta às onze da noite a pedir meças. Saía com o jornal de baixo do braço, o troco certo a baloiçar-lhe nos fundilhos das calças, a dona da papelaria a chamá-lo de longe mas ele nem mesmo assim; até o empregado da cervejaria da esquina se via à míngua da gorjeta habitual e a chave fixa do euromilhões ficava esquecida na gaveta da cabeceira. Chegava da bola num silêncio introspectivo, quer o Benfica ganhasse ou perdesse e não tardou que ela, atenta àquele vegetar distraído, alinhavado com uma tristeza ao mesmo tempo comprometida e entusiasmada, percebesse que o jogo dele era outro. Houve choro e ranger de dentes a ecoarem forte e feio ao longo das rachas do estuque das paredes do tê três, os miúdos fechados no quarto com os aipodes no máximo, a fingirem-se surdos ao esgoelanço raivoso de mulher traída, as malas dele à porta e ala que se faz tarde, amanha-te lá com a brasileira de vinte anos que te bate as punhetas e os tapetes do escritório em ritmo de samba e forró. Até então amparada por machos alfa, primeiro o pai, depois o marido, soçobrou ao pânico quando se viu sem ninguém, emagreceu os vinte quilos que ganhara durante a reclusão conjugal, enfiou-se a ela e aos putos no psicólogo para que lidassem com a perda e, ao fim de um ano de luto, quinhentos euros de extensões louras e um par de mamas novo, insuflado a preço de saldo no Rio de Janeiro, empandeirou-os para o pai, uma carga de trabalhos, que os metesse na ordem, e iniciou-se na via sacra do circuito nocturno das quarentonas divorciadas, onde descobriu o duplo orgasmo e a solidão a dobrar.
Algo se passava, ultimamente não lhe parecia o mesmo. Ele era os ivas conjuntos por entregar e o condomínio por pagar com o administrador a bater-lhes à porta às onze da noite a pedir meças. Saía com o jornal de baixo do braço, o troco certo a baloiçar-lhe nos fundilhos das calças, a dona da papelaria a chamá-lo de longe mas ele nem mesmo assim; até o empregado da cervejaria da esquina se via à míngua da gorjeta habitual e a chave fixa do euromilhões ficava esquecida na gaveta da cabeceira. Chegava da bola num silêncio introspectivo, quer o Benfica ganhasse ou perdesse e não tardou que ela, atenta àquele vegetar distraído, alinhavado com uma tristeza ao mesmo tempo comprometida e entusiasmada, percebesse que o jogo dele era outro. Houve choro e ranger de dentes a ecoarem forte e feio ao longo das rachas do estuque das paredes do tê três, os miúdos fechados no quarto com os aipodes no máximo, a fingirem-se surdos ao esgoelanço raivoso de mulher traída, as malas dele à porta e ala que se faz tarde, amanha-te lá com a brasileira de vinte anos que te bate as punhetas e os tapetes do escritório em ritmo de samba e forró. Até então amparada por machos alfa, primeiro o pai, depois o marido, soçobrou ao pânico quando se viu sem ninguém, emagreceu os vinte quilos que ganhara durante a reclusão conjugal, enfiou-se a ela e aos putos no psicólogo para que lidassem com a perda e, ao fim de um ano de luto, quinhentos euros de extensões louras e um par de mamas novo, insuflado a preço de saldo no Rio de Janeiro, empandeirou-os para o pai, uma carga de trabalhos, que os metesse na ordem, e iniciou-se na via sacra do circuito nocturno das quarentonas divorciadas, onde descobriu o duplo orgasmo e a solidão a dobrar.