...
por Vieira do Mar, em 24.04.06
Eu também quero!
...falar sobre os comentadores anónimos e o artigo do JPP, que não sou menos que os outros.
Questão prévia.
A fauna dos comentadores nos blogues é um nano-assunto, que interessa a muito poucos portugueses, verdade se diga. Por vezes, esquecemo-nos de que isto dos blogues é uma micro-esfera; o país real não sabe o que são blogues nem quer saber, a maior parte dos que compram jornais nunca sequer leu um blogue. É verdade que, volta e meia, se fala da coisa nos media, mas é um falar infinitésimo, que os nossos blogger-ouvidos ampliam como um aparelho da casa sonotone: a tribo está especialmente atenta a tudo o que diz respeito à tribo, é óbvio. O que, no mar de informação global em que vivemos é pouco, muito pouco. Muitos dos meus amigos não sabem o que é um blogue e usam a net apenas para pesquisas científicas, sacar músicas e o Gato Fedorento, e para espreitarem pornografia, estando-se positivamente nas tintas para esta nouvel literacia nascida nos blogues, fervilhantes de brilhantismo político, artístico, poético, literário, filosófico e humorístico. E olhem que os meus amigos, como os vossos, até são gajos instruídos, apenas acham isto dos blogues uma coisa esquisita, demasiado esquizóide e umbiguista, de contornos alienígenas. Eu compreendo. Quando quero que leiam algo que eu ou outros escrevemos, uso o email, e é assim que lhes chego. Neste contexto, o facto de JPP usar uma página de um jornal nacional com a tiragem do Público, em semana de coisas tão importantes como, por exo., o pogrom, parece-me um enorme desperdício. É claro que tal juízo de valor respeita apenas a JPP e a quem para tanto lhe paga. A ser eu a directora do dito diário, e não gostaria que um dos meus principais e mais conceituados colunistas escrevesse para o país inteiro sobre uma coisa que interessa e respeita a uma mini-minoria, passe o pleonasmo. Mas isso sou eu, que não escrevo em jornal nem mando em nenhum, portanto, who cares?, perguntam-me vocês e com razão.
Feita esta não-tão-pequena-quanto-eu-gostaria-ressalva, passemos ao conteúdo.
Divergindo um bocadinho da minha querida Cat, como ela bem sabe, não me parece que o facto de os comentadores anónimos, que têm como modo de vida o acto de aborrecer e ofender os outros com as suas extensas e antipáticas opiniões sobre tudo, terem blogue, altere alguma coisa, ou seja merecedor de especial referência. Porque a questão não é serem ou não anónimos, ou terem ou não blogues enquanto anónimos: é serem chatos comócaraças e persistentemente desagradáveis. O anonimato faz parte da natureza livre da blogoesfera e é saudável: esta é a minha singela opinião e a de muita gente que já escreveu e bem sobre o assunto, pelo que não adianta bater mais no ceguinho. O problema é outro e reconduz-se sempre ao mesmo: o facto de a maior parte das pessoas estarem aqui criando e/ou expondo e debatendo as ideias que têm sobre o que as rodeia, e cair-lhes em cima, sistematicamente, uma espécie de má-onda kamikaze, filha da falta de ocupação e prima da férrea determinação em chatear o alheio. A maior parte das pessoas normais, quando não gostam do que lêem, ou discordam educadamente ou passam em frente e não lêem mais, não voltam. É em nome desta maneira de estar na vida, logicamente a mais saudável, que me absterei de dizer aqui o que penso, designadamente, de alguns dos comentadores anónimos a que JPP se refere no seu artigo. Apenas direi que gente ressabiada e com demasiado tempo entre mãos, que gosta de chatear quem não conhece de lado nenhum, merece ser paga na mesma moeda, pelo que até é bom que tenham blogue (de preferência com caixas de comentários aberta e não sujeita à sua aprovação, como aquelas onde habitualmente abancam dias a fio).
Concluindo, no fundo, JPP tem razão. Se o referido artigo de jornal fosse apenas um post, seria um excelente post. Assim, e da perspectiva do público em geral, foi só um mau artigo de jornal.
...falar sobre os comentadores anónimos e o artigo do JPP, que não sou menos que os outros.
Questão prévia.
A fauna dos comentadores nos blogues é um nano-assunto, que interessa a muito poucos portugueses, verdade se diga. Por vezes, esquecemo-nos de que isto dos blogues é uma micro-esfera; o país real não sabe o que são blogues nem quer saber, a maior parte dos que compram jornais nunca sequer leu um blogue. É verdade que, volta e meia, se fala da coisa nos media, mas é um falar infinitésimo, que os nossos blogger-ouvidos ampliam como um aparelho da casa sonotone: a tribo está especialmente atenta a tudo o que diz respeito à tribo, é óbvio. O que, no mar de informação global em que vivemos é pouco, muito pouco. Muitos dos meus amigos não sabem o que é um blogue e usam a net apenas para pesquisas científicas, sacar músicas e o Gato Fedorento, e para espreitarem pornografia, estando-se positivamente nas tintas para esta nouvel literacia nascida nos blogues, fervilhantes de brilhantismo político, artístico, poético, literário, filosófico e humorístico. E olhem que os meus amigos, como os vossos, até são gajos instruídos, apenas acham isto dos blogues uma coisa esquisita, demasiado esquizóide e umbiguista, de contornos alienígenas. Eu compreendo. Quando quero que leiam algo que eu ou outros escrevemos, uso o email, e é assim que lhes chego. Neste contexto, o facto de JPP usar uma página de um jornal nacional com a tiragem do Público, em semana de coisas tão importantes como, por exo., o pogrom, parece-me um enorme desperdício. É claro que tal juízo de valor respeita apenas a JPP e a quem para tanto lhe paga. A ser eu a directora do dito diário, e não gostaria que um dos meus principais e mais conceituados colunistas escrevesse para o país inteiro sobre uma coisa que interessa e respeita a uma mini-minoria, passe o pleonasmo. Mas isso sou eu, que não escrevo em jornal nem mando em nenhum, portanto, who cares?, perguntam-me vocês e com razão.
Feita esta não-tão-pequena-quanto-eu-gostaria-ressalva, passemos ao conteúdo.
Divergindo um bocadinho da minha querida Cat, como ela bem sabe, não me parece que o facto de os comentadores anónimos, que têm como modo de vida o acto de aborrecer e ofender os outros com as suas extensas e antipáticas opiniões sobre tudo, terem blogue, altere alguma coisa, ou seja merecedor de especial referência. Porque a questão não é serem ou não anónimos, ou terem ou não blogues enquanto anónimos: é serem chatos comócaraças e persistentemente desagradáveis. O anonimato faz parte da natureza livre da blogoesfera e é saudável: esta é a minha singela opinião e a de muita gente que já escreveu e bem sobre o assunto, pelo que não adianta bater mais no ceguinho. O problema é outro e reconduz-se sempre ao mesmo: o facto de a maior parte das pessoas estarem aqui criando e/ou expondo e debatendo as ideias que têm sobre o que as rodeia, e cair-lhes em cima, sistematicamente, uma espécie de má-onda kamikaze, filha da falta de ocupação e prima da férrea determinação em chatear o alheio. A maior parte das pessoas normais, quando não gostam do que lêem, ou discordam educadamente ou passam em frente e não lêem mais, não voltam. É em nome desta maneira de estar na vida, logicamente a mais saudável, que me absterei de dizer aqui o que penso, designadamente, de alguns dos comentadores anónimos a que JPP se refere no seu artigo. Apenas direi que gente ressabiada e com demasiado tempo entre mãos, que gosta de chatear quem não conhece de lado nenhum, merece ser paga na mesma moeda, pelo que até é bom que tenham blogue (de preferência com caixas de comentários aberta e não sujeita à sua aprovação, como aquelas onde habitualmente abancam dias a fio).
Concluindo, no fundo, JPP tem razão. Se o referido artigo de jornal fosse apenas um post, seria um excelente post. Assim, e da perspectiva do público em geral, foi só um mau artigo de jornal.